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Despois que um grande espaço está pasmado,
Opprimido de dor o peito enfermo,
Alevanta-se, e vai mudo e choroso
Onde a praia se ve mais opportuna.
Apartando co'as mãos a branca areia,
Abre n'ella uma estreita sepultura,
Torna-se atraz, e alçando nos cançados
Braços aquelle corpo lasso e frio,
Ajudam as criadas as funestas
Derradeiras exequias com mil gritos.
Ai duro tempo! (dizem) como apartas
Para sempre de nós tal fermosura!

Na perpétua morada tenebrosa
A deixam, levantando alto alarido;
Com salgado liquor banhando a terra,
Aquelle último vale! todas dizem.
Não fica so Leonor na casa infausta,
Que de um tenro filhinho se acompanha,
Que a luz vital gozou quatro perfeitos
Annos, ficando o quinto interrompido.
Alli co'a morta mãe o filho morto,
Ambos com morto amor en terra jazem.
Ella lhe nega o branco amado peito,
E elle o doce materno amado gôsto:
Ambos na solitaria praia ficam
Juncto das grossas ondas sepultados,
Deixando ao mundo um triste, raro exemplo
De perversa, cruel, impia fortuna.

O misero Sepulveda rodeia

Os olhos, com effeito de saudade;
Em lagrymas desfaz o bulcão turvo
De
que asombrado tinha o triste sprito.
Com voz de triste chôro embaraçada
Palavras diz de lástima e piedosas.
Nos braços toma um filho que alli tinha
De tenra idade, e (vista miseravel!)
Per estreita vereda entra no mato
De bravos leões e tigres povoado;
A morte vai buscando: elles doídos
De seu mal lh'a darão em breve espaço.

CORTEREAL, Naufragio de Sepulveda:

ummmmmmmmmmmnınınım

EL REI D. SEBASTIÃO

EM CINTRA.

Com tudo ávante vai, cansa e porfia
Até chegar ao fim do monte erguido,
Que a região das nuvens estendia ;.
No mundo pela força conhecido
O Olympo Thessalico excedia,
Onde dos ventos é claro e sabido
Que no templo de Jupiter mostravam
Que a tam alto logar nunca chegavam.

Deu-lhe seu proprio nome a bella filha
De Latona por ser ja sua morada.
Ve bem no cume uma maravilha,
Que não cuido que fosse igual contada :
So cem passos de terra o moço trilha
Em cima que não fosse alcantilada;
Os quaes occupa um templo que se invoca
A senhora da Pena ou da alta Roca.

Aqui viu claras fontes crystallinas,
Que em duras pedras tinham nascimento,

Edificadas altas officinas

D'um consagrado e pudico convento : Um peregrino alli de peregrinas Pedras com jamais visto intendimento Um retabolo fez, que parecia

De rica e subtil marceneria.

De Pario alabastro marchetava
O Corinthio porphydo enxerindo
O jaspe em luso marmore ; que estava
Suspenso o rei, pintar-se presumindo.
Brutescos e cordões dependurava,
(Tudo de pedra) que se estará rindo;
Quem não viu ésta obra desusada,
De muitos que a viram celebrada.

Não so no altar sancto se embebia 0 moço rei; que está rapto e enlevado Ouvindo tam suave melodia

Que lhe parece estar beatificado.

Mas como para o mundo emfim pendia, Sai-se do templo a ver o mar inchado, Descobrindo d'alli do Olympio monte Do meio orbe terreno o horisonte.

Tendo sempre presente na memoria
0 que lhe o seu esforço promettia,
Dos seus passados á superna glória,
Que n'elle o tempo assim escurecia,

A prolongada empresa, é obrigatoria
A quem a lei de Christo pretendia
Estender até o ultimo terreno
Contra a força do barbaro Agareno.

Mágoa com que ao mar o rosto víra
Por lhe não renovar tristes lembranças!
E caminhando assim triste suspira
(Effeito de compridas esperanças)
Do monte desce emfim onde subíra
A ver o que é sugeito de mudanças,
E fonte de perigos não cuidados
So para cubiçosos ordenados.

Ve que as nuvens abaixo errando andavam
Cubrindo os valles que altas serras fendem ;
Desce até que per cima lhe ficavam,
Que em fria sombra pelo ar se estendem.
Bosques de ferteis plantas se mostravam
De cujos ramos varios fructos pendem ;
Umas e outras sempre florecendo,
Como que sempre fosse amanhecendo.

Ouvindo as rotas lymphas que

cahindo

Per entre lisas pedras murmurando
Parece certo alli que véem sentindo,
0 que no peito o moço está traçando :
Onde Flora de Zephyro fugindo

As esquecidas folhas meneando

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