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Do bosque, bem parece que dizia
Porque tam cruelmente lhe fugia.

Sendo nectar e ambrósia alli o rocio
Que em matutinas flores lento e grave
Cahindo la do ceo, coalhado e frio
Da astuta abelha era manjar suave :
Debaixo de um castanho alto e sombrio
Se assenta o Luso porque mais o aggrave
Seu mal, ouvindo ao som de claras aguas
Passarinhos cantarem ternas mágoas.

Alli pois divertindo o vagamundo
Pensamento, mil cousas considera
Por applacar o peito furibundo
Que com nenhum repouso se modera :
Alli ve que o que foi senhor do mundo
Que mais, depois de se-lo, não quizera
Que lograr o repouso desejado
Em doce companhia congregado.

Mas nada o satisfaz, porque faltando
Ao appetite aquillo que deseja,
(O peior muitas vezes desejando)
Nada o queira emfim, por mais que veja;
E assim todo o repouso desprezando
Abraça uma interna e van peleja :
D'onde turbado e triste se levanta

Depois que de confuso se quebranta.

Per entre os lisos troncos corcovados
O passo move aonde escritas crescem
Várias tenções de peitos namorados,
Que em perpétua memoria permanecem :
Estão do tempo alli dos reis passados,
Que os cortezãos d'agora ja aborrecem
A pureza de amor, porque chorando
Não andem as pobres árvores riscando.

Cintra se chama ésta deleitosa
Parte, aonde repouso o moço engeita.
Vai pensativo achar ua cavernosa
Pedra de largo ventre e porta estreita.
Ousado entra na grutta temerosa,
E uma lamina dentro escripta espreita:
Toda arabigos versos a occupavam,
Que grandes cousas lhe prognosticavam.

Descobre a breves passos altos teitos
Per entre a mais espessa e verde rama,
D'algua mais que humana industria feitos,
Quaes não cantou moderna e antiga fama,
Não consumindo outros tam perfeitos
O longo tempo ou Dardania chamma.
Igualmente o louvor se alli reparte,
Não excedendo a materia á arte.

Entra subindo per torcida escada
De marmores luzentes jaspeados

A varios corredores de estremada
Vista, e parapeitos relevados;
Ouvem a voz humana retumbada
Os passaros nocturnos, e espantados
Fugindo vão da luz e teitos ricos
A dar nas mãos dos inimigos bicos.

Entrando logo na maravilhosa

Casa dos brancos cysnes que guardando O costume, na morte tenebrosa

Parece certo alli

Avante passa,

que estão cantando.

onde uma dolorosa

Nympha mostrava estar-se-lhe queixando
Da agua que per cima lhe corria,
Que n'uma curva concha alli cahia.

D'uma banda do solio coarteado
Sahindo de clara agua uma espadana
Que, mais de duas lanças levantado,
Parece que repugna á industria humana.
Da outra parte um teito está dourado
Que os quatro ventos tem, per onde mana
Fresco rocio, e ás vezes se exprimenta
De bravo hinverno alli brava tormenta.

Logo a galé avante a vista espanta,
De tarjas cheia, onde está pintado
O monstro da septivoca garganta,
O Cerbero trifauce encarniçado;

Hippomanes que atrás vai de Atalanta, Cephalo que madruga namorado; Bosques, batalhas e selvagens feras, Sulphureas gruttas, horridas chymeras.

LUIZ PEREIRA, Elegiada.

O OCEANO

FESTEJANDO A ARMADA PORTUGUEZA.

Sentiu la no profundo e vitreo estrado,
Onde com Thetys passa alegre sesta,
Oceano este abalo desusado

Da fabricada subita floresta;
E com tal novidade perturbado
Deixa de parte o regosijo e festa,
per Tritão os deuses convocando,
As aguas para

E

cima foi cortando.

Neréo, pae das nymphas, mais ligeiro
Do que a comprida idade consentia,
(Se o tempo entra no mar) foi o primeiro
Que os passos d'Oceano alli seguia :
Ao lado esquerdo Glauco é companheiro,
Pelo direito Prótheo apparecia,

Protheo, que os Neptuninos aconselha;
Uma com outra Thetys emparelha.

Entre todas a bella Cymnoría

Corre veloz co'a linda Cimothóe

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