Logo tras ella a candida Amathía Com Dinamêne, Apsêudis e Amphitóc Cymódoce, Déxamene, Oritía, Amphínome, Melíte, Glauce, Thóe, Galathea formosa por extremo E Leucothóe vem c'o seu Palemo.
Ja se mostra Pherusa, e avante passa Climene porque ja perto a sentíra; Descobre-se Nisea e Callianassa Spio, Actée, Nimétris e Janira; De mais longe vem Doris e Janassa, A quem accompanhou Callianira, Thalia, Panopea, Iera, Próto, Ethera, Agave, Idóthoa, Meia, Dóto.
Em calma n'este tempo o mar estava, E como rio manso parecia,
O vento em seu descanso repousava, Nenhuma tábua concava surdia: Oceano, que a frota divisava, De Lusitanos ser reconhecia,
E por se lhes mostrar ledo e contente Co'ésta voz faz attenta a humida gente.
Ó bellissimas nymphas, ó marinhos Habitadores do crystal salgado,
▲ ésta armada agora abri caminhos, Que em calma tem o vento socegado:
É justo festejemos taes vizinhos
Que tanto teem meu nome accreditado; Por elles sou famoso, e todo o humano A grandeza celebra do Oceano.
Cesse ja do Erithreu a glória antiga, E seus tropheus magnificos suspenda, Nem do Pontico mar louvor se diga, Que meu direito e pre'minencia offenda. Outras crescentes, outros estos siga Esse Mediterraneo se pretenda Igualar-se comigo; enfree o brio
O Mauritano, o Caspio, o Euxino frio.
Nenhum ceruleo reino se navega
De gente em paz e em guerra tam famosa, Nenhum com tal corrente cérca e rega Costa em viages tam maravilhosa; Nenhum seus braços tam ufano entrega A cidade tam nobre e populosa, Que, se Ulysses lhe deu o fundamento É ja glória de Ulysses e ornamento.
Isto dizendo, os braços vai lançando Com seu compasso igual pela agua fria E a nau real c'os hombros inclinando Escumas levantava e dividia;
Logo vai cadaqual outra afferrando, Por não ficar detras sem companhia :
O curso era tam destro e diligente, Que iam surdindo todos igualmente.
O navio do principe tirava
Com graça estranha a linda Galatea, descuido a vezes se mostrava
Mais alva que o crystal da propria vea; Os olhos após si todos levava
E corações tras elles senhorea :
Quantos a culpam de ligeira e leve,
Pois tal vista lhes faz assim mais breve!
QUEVEDO, Afonso Africano.
Abrem-se as covas horridas e feias, Tiram-se á luz aquelles innocentes, Que a rôjo dos grilhões e das cadeias Se levam como infames delinquentes. Param na praça; e nas mais altas veias Se esfria o sangue vendo os diligentes Ministros e os cutellos affiados, Fogos ardendo, e vasos preparados.
Mas despois d'este abalo temeroso Da fraca natureza, logo acode A sustentar o spirito forçoso
O pêso que um mortal suster não póde. Respira cadaqual, torna animoso,
E da morte o temor logo sacode, Offerecendo a vida amada e cara
A Deus, que so para isso lh'a emprestára.
Quando entra Zara n'um ginete ardente, Que mastigando o freio em branca escuma,
Tanto que o pêso reconhece e sente,
Se embrida e altera mais do que costuma, Dobrando as mãos a passo continente, Pelas ventas abertas sopra e fuma: Todos se alteram logo, e na estranheza Os olhos poem do trajo e da belleza.
Não usa os atavios vãos do paço, Despreza as ricas joias tam prezadas; manga recolhida a meio braço,
As tranças d'ouro ao vento derramadas, As rossagantes roupas, que embaraço Fazem, n' um breve nó todas tomadas; Lançando aos hombros o arco e a rica aljava, Com que das feras doma a furia brava.
Tal de Harpálice o traje quando cansa Os ardentes cavallos na carreira, Que ao longo do Ebro furioso lança, Cuja corrente inda é menos ligeira. Depois que de seu pae favor alcança A que nasceu do mar, d'ésta maneira Apparece a seu filho na espessura, Que errando vai a voltas co' a ventura.
Era Zara o retrato mais perfeito Que com mão destra fez a natureza, Se as condicções se véem do altivo peito E junctamente as partes da belleza.
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