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DISCURSO

DO

SOCIO HONORARIO

o ill.mo e ex.mo snr.

J. J. RODRIGUES DE FREITAS,

PROFESSOR DA ACADEMIA POLYTECHNICA

E DEPUTADO ÁS CORTES

Minhas Senhoras:
Senhores:

Luiz de Camões realisou em si proprio a rara união da força, da sabedoria, e do amor; estes tres poderes, que foram n'elle ingentes, dedicou-os sublime e desinteressadamente á patria, que já tivera por filhos o infante D. Henrique, Bartholomeu Dias, Alvares Cabral, e Vasco da Gama; estes varões illustres devassaram novas terras e novos mares; Camões foi tambem navegador e guerreiro; podia bem representar tam gloriosos nomes; porém a terra, o mar, e os ceus produziram no amante de Natercia não a ancia de abrir novos mundos ao mundo velho, mas de os comprehender no seu vasto entendimento; dir-se-ia que a natureza reunira, transformára e engrandecera no nosso épico as forças do Gama, e

do Cabral, de D. Henrique e de Dias. Após os galeões que, bem providos de armas e carregados de *capitães e soldados heroicos sulcaram oceanos, passou o robusto espirito de Camões, opulentado pela inspiração scientifica da natureza, e tendo o coração do melhor portuguez; não descubriu terras; rasgou, sim, novos horisontes á poesia épica, e esculpiu nas suas magestosas estrophes a assombrosa estatua dos assombrosos feitos patrios.

Producto dos maiores explendores da civilisação portugueza, cultivado pelas letras e pelas sciencias, desenvolvido nas batalhas intimas de grandes soffrimentos e na dominadora contemplação da natureza, ...dir-se-ia que a patria, como que havendo-se atrevido ao sobrenatural por dar á luz tal filho, adoecera mortalmente, até que em 1580 baixára ao tumulo com o seu cantor.

E, por seculos, Portugal jazeu sob o mais valente obscurantismo; porém assim como os LUSIADAS não morreram com Camões, a patria d'elle não expirou na tragedia de 1580: renasceu emfim; e um dos actos da sua renascença é pagar uma grande divida, ao mesmo tempo que, congregando n'uma procissão civica os representantes de todas as forças vitaes da nação, inaugura o culto nacional dos grandes homens; culto que não é idolatra; é essencialmente humano; é o culto da justiça; é o culto progressivo, proprio á perfectivel e respeitosa comprehensão do passado.

Ás homenagens da patria agradecida não póde hoje responder-nos a voz de Camões; porém se a historia e a philosophia não resuscitam ossos e car

nes, ellas fazem resurgir os factos e os principios das idades e dos homens.

E n'este momento, em que o renascimento de Portugal está nos seus inicios, a philosophia e a historia responder-nos-iam em nome de Camões: Não vos dividaes inutilmente; amai-vos uns aos outros. Amai os grandes pensamentos da vossa época; amai-os e propagai-os; trazei para o vosso paiz as correntes da civilisação hodierna, abrindo-lhes, como bom leito, o conhecimento das tradições portuguezas; sereis então verdadeiramente dignos continuadores da obra monumental de Luiz de Camões.

PARALLELO

ENTRE

VIRGILIO E CAMÕES

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