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cincoenta annos e já os LUSIADAS estavam traduzidos em hespanhol e em latim; e volvidos mais trinta eram trasladados para o inglez e o italiano.

Que poema épico haverá do qual se possa dizer tanto?

A poucos passos de distancia, no Palacio de Crystal, achareis uma grande sala: a da Exposição Camoniana do Centenario, e podereis avaliar por alto, o que eu resumo aqui. Alli fallam -- eloquencia dos factos centenas de volumes da gloria de Camões, volumes colleccionados pelo ardente amor da patria e da sciencia. Alli estão reliquias, que ainda podem ter a virtude de resuscitar um morto, se tanto fosse necessario.

Não podendo, como já disse, dar n'esta rapida revista senão um torso, um fragmento, citarei só os trabalhos mais importantes, que constituem os documentos mais preciosos da gloria de Camões no estrangeiro.

Ainda duas palavras sobre o motivo que determinou a escolha d'este thema.

Eu sempre me habituei a olhar para além das fronteiras em assumptos vitaes, como este de que vou tratar, que interessam o organismo de todo of paiz-; questão de temperamento, ou de educação, ou talvez ambas as cousas determinaram este modo de vêr. Eu ouvi louvar o genio de Camões, tanto ou mais fóra de Portugal do que aqui mesmo, e esta festa centenaria trouxe documentos á luz que são a contraprova mais eloquente da minha affirmação. Esses documentos, esses trabalhos estrangeiros são

o monumento de mais extraordinaria grandeza que era possivel imaginar, da mais profunda significação moral. Adiante conhecereis se fallei verdade, se o monumento é indestructivel.

A base está lançada de ha muito, como o comprova este livro: 1

O snr. Visconde de Juromenha-citar aqui este nome para sempre vinculado á gloria do poeta, é o primeiro dever de um portuguez - aponta :

I traducção hebraica, 1 grega, 7 latinas, 9 hespanholas, 21 francezas, 12 italianas, 7 inglezas, 9 allemãs, 2 hollandezas, 1 polaca, 2 dinamarquezas, 2 suecas, 2 russas, 1 bohemia e 1 hungara. Total 78.

A versão hebraica e a grega perderam-se, ou pelo menos consideram-se como perdidas; das latinas só uma foi impressa; das hespanholas salvaram-se seis; das francezas dezasete; das italianas nove; das inglezas todas as sete; das allemas oito; as restantes existem ainda, felizmente. O total de 78 numeros fica, pois, reduzido, na realidade, a 59; e, se considerarmos só as traducções completas impressas, teremos apenas 32,2 ainda assim um resultado unico na historia da poesia épica.

1 Era o vol. vi da ed. Jur. (Tabellas p. 473-473), que estava sobre a meza.

2 Foram estes os resultados do Snr. Visconde de Juromenha em 1869. Hoje, em face da mais recente bibliographia, (a da Commissão Litteraria do Centenario) a cifra total das traducções completas, impressas, sobe a mais dez (3 hespanholas, 2 francezas, 2 inglezas, 2 allemãs, 1 polaca). Total 42.

Não contámos n'estes numeros as traducções das Rimas, de que adiante fallaremos; as proporções ahi são muito menores, por motivos que tambem serão expostos.

Estes trabalhos gloriosos, executados além das fronteiras, deram um impulso fortissimo aos estudos nacionaes camonianos, porque, com as traducções surgiram e cresceram as biographias e as notas que as illustram. O material critico foi augmentando, principalmente desde o principio d'este seculo, o qual assentou a sciencia da historia em novas bases e ministrou assim á critica os instrumentos de analyse os mais seguros. Sendo os LUSIADAS O incomparavel archivo dos nossos feitos, é evidente que uma Historia de Portugal, á prova de uma sevéra critica, será sempre a mais segura pedra de toque para avaliarmos a força vital, geradora da nossa epopêa; ora essa historia é ainda um magnanimo presente d'além das fronteiras. 1

Entremos no assumpto e comecemos pelos nossos visinhos, como manda a cortezia, e como é justo, e porque foram elles os primeiros traductores dos LUSIADAS. Apenas o poeta expirára, ou provavelmente ainda nos ultimos dias de sua vida appareceram, simultaneamente, as duas versões de Benito Caldera e Gomez de Tapia (1580). Estes dois escriptores, á porfia, um portuguez, outro hespanhol, illumi

1 É a de Schäffer, anterior mesmo á de Herculano, (18461853, 4 vol.) e completa (1836-1852, 4 vol. e o 5.o em 1854).

naram os ultimos momentos do poeta. Era o despontar da gloria, porque essa lingua castelhana era então, como hoje a franceza, o orgão universal na immensa monarchia de Carlos v,1 em cujos dominios não descia o sol.

Pouco depois (1590) appareceu a traducção de Garcez, um peregrino como o poeta (e nosso patricio), correndo as novas conquistas da America meridional em serviço publico. No Peru e no Mexico ainda achou tempo para acabar e limar a sua estimada versão, que sahiu á luz em Madrid. Houve depois uma longa pausa em Hespanha, até que em 1818 appareceu a traducção de Lamberto Gil. Este author recuperou o tempo perdido e deu-nos, talvez influenciado pelo exito de Lord Strangford, não só a versão do poema, mas a de uma boa parte das Rimas. Em nossos dias o interesse dos nossos visinhos pela lyra camoniana tem crescido sensivelmente, como o attestam as tres versões successivas do Conde de Cheste, Arques, e Aranda de San Juan (1872, 1873 e 1874).

Isto fizeram os traductores hespanhoes, mas não foram só estes, que espalharam a gloria de Camões. Os maiores engenhos da visinha litteratura: Herrera, Lope de Vega, Cervantes celebraram, e cobriram de louros o divino poeta.

Depois da nação hespanhola entra em scena a ingleza (Fanshaw 1655); só tres annos depois é que

1 Começára a dividir-se só em 1558.

apparece a italiana (Antonio Paggi). São conhecidas as relações de intimidade das duas corôas portugueza e ingleza na segunda metade do seculo xvII pelo casamento da infanta D. Catharina, filha de El-Rei D. João IV com Carlos I de Inglaterra. As allianças matrimoniaes tinham então uma grande importancia no destino das nações, e é provavel que ao benevolo acolhimento feito ao ministro inglezo negociador da alliança devamos uma traducção ingleza tão antiga. Ha varias e desencontradas opiniões sobre o merecimento da traducção de Fanshaw; uns louvam muito, outros censuram asperamente. 1

O que se pode dar como averiguado é que o traductor nos fez um serviço muito notavel e uma`versão valiosa para a época, e que ainda hoje póde ser consultada em muitas passagens com proveito. A versão immediata de Mickle teve uma acceitação extraordinaria que não está, de modo algum, em relação com o merecimento do trabalho executado. O que ella vale, como composição poetica: o valor propriamente belletristico d'ella, não entra aqui em conta; a fidelidade é a primeira condição a que um traductor tem de attender; aqui, como em todos os outros casos é a primeira das virtudes, e sob este ponto de vista o trabalho de Mickle é desgraçado.

As seis edições (e uma ficticia) da obra, de 17761809, provam apenas que o poema dos LUSIadas, mesmo profundamente desfigurado, como o foi pelo

1 Jur. Obras, vol. 1, p. 270-271.

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