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CAMÕES E A PATRIA

(POESIA)

CAMÕES E A PATRIA

POESIA DO DISTINCTO ESCRIPTOR

O EX.mo SNR. RAMOS COELHO

EXPRESSAMENTE DESTINADA AOS FESTEJOS DO TRICENTENARIO DE CAMÕES NA SOCIEDADE NOVA EUTERPE

LEITURA DE PEDRO ROXA

Acorda, Portugal, teu vate abraça;
Vive ao d'elle o teu fado reunido;
Sae do longo torpor, ó nobre raça,
Ó
povo outr'ora pelos mais temido;
Se com o nome seu teu nome passa
Á eternidade onde será ouvido,
C'o a sua apotheose alevantado
A vida nova te verás tornado.

E qual dos filhos teus mais merecera
O teu amor, ó terra endurecida,
Quem, perseguido embora, assim houvera
Para ti sempre a alma offerecida?
Quem martyr o seu corpo á morte déra
Por te deixar immorredoura vida,
Querendo que, se ao tumulo descesses,
No seu manto de gloria te envolvesses?

E tu que foste para elle? oceano
Sempre de escolhos e tormentos cheio,
Que, depois de o levar de damno em damno,
Só para o sepultar abriste o seio;
Assim o mar o perseguido humano
Sacode, ás ondas desprendido o freio,
Surdo á voz da afflicção que o não desperta,

E ao cabo lhe mostra a cova aberta.

Poeta, pobre, amante e desgraçado
Ante a grandeza alevantaste a frente;
Tinhas a lyra tua, eras soldado,

D'um povo a fama te incendia a mente;
Nasceste pelas palmas rodeado,

Que dava ao Tejo o submettido Oriente,
E vendo rica a patria te julgaste
Rico tambem, e o ouro desprezaste.

Porém tamanho esforço e valentia
E nem siquer um canto resoava!
Eil-o, eil-o ahi o rei da poesia,
Que no véu do futuro os olhos crava;
O terra, ó terra minha, elle dizia,
E a ingrata de si o desterrava!
Já que apartas de ti o teu amigo
Na eternidade viverás comigo.

E foi cantar do pelago aos furores,
Ouvir das vagas o feroz rugido,
Porque afizesse a voz aos seus horrores,
Para depois do mundo ser ouvido;
Assim o rei dos gregos oradores
Ia bradar ao mar embravecido,
Antes que na tribuna se elevasse,
E contra o jugo uma nação armasse.

Cantor do Gama lhe seguiste a senda,
Antes cantor de um povo navegante,
Como elle encaraste a morte horrenda,
Os seus passos medindo de gigante;
Do Adamastor ouviste a voz tremenda
Como elle, emfim guerreiro e triumphante
Escreveste as batalhas combatidas
Pela patria co'o sangue das feridas.

E ella não te ouvia, e longe d'ella
Tu lhe alçavas o nobre monumento,
Que ao lado seu até agora véla,
Pagando-lhe d'est'arte o esquecimento.
Por seu amor e pelo amor d'aquella,
Que te havia captivo o pensamento,
Se repartiu inteira a tua vida,
Da desgraça por ambos esquecida.

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