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CLXXVIII.

A' cantei, ja chorei a dura guerra
Por amor fuftentada longos anos;
Vezes mil me vedou dizer feus danos,
Por não ver quem o fegue o muito que erra.
Nymphas, por quem Caftalia fe abre, e cerra ;
Vós que fazeis a morte mil enganos,
Concedei-me já alentos foberanos

Para que diga o mal que amor encerra.
Para que aquelle, que o feguir ardente,
Veja em meus puros verfos hum exemplo
De quanto em glorias promettidas mente.
Que inda que em trifte eftado me contemplo,
Se nefte affumpto me infpirais, contente
Darci a minha lyra ao voflo templo.

O

CLXXIX.

S meus alegres, venturofos dias, Paffaram como raio brevemente ; Movem-fe os triftes mais pezadamente Apoz das fugitivas alegrias.

Ah falfas pertensões! Vaas phantafias ! Que me podeis ja dar que me contente ? Ja de meu trifte peito a chamma ardente, O tempo reduzio a cinzas frias.

,

Nellas revolvo agora erros paflados
Que outro fructo nao deo a mocidade
A quem vergonha, e dor minha alma deve.
Revolvo mais de toda a mais idade,
Defejos vãos, vãos choros, vãos cuidados
Para que leve tudo o tempo leve.

CLXXX.

Oras breves de meu contentamento,

Que vos viffe mudadas taó afinha
Em tao compridos annos de tormento.
As altas torres, que fundei no vento,
Levou, em fim , o vento que as foftinha :
Do mal que me ficou a culpa he minha
Pois fobre coufas váas fiz fundamento.
Amor com brandas moftras apparece;
Tudo poffivel faz tudo affegura;
Mas logo no melhor defapparece.

Eftranho mal! Eftranha defventura!
Por hum pequeno bem que desfallece
Hum bem aventurar, que fempre dura!

CLXXXI.

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N'de acharei lugar tao apartado,
E tao ifento em tudo da ventura,
Que, nao digo eu de humana creatura
Mas nem de feras feja frequentado ?
Algum bofque medonho, e carregado,
Ou felva folitaria, trifte, e efcura,
Sem fonte clara, ou placida verdura
Em fim, lugar conforme a meu cuidado?
Porque alli nas entranhas dos penedos,
Em vida morto, fepultado em vida
Me queixe copiofa, e livremente.
Que pois a minha pena he fem medida,
Alli nao ferei trifte em dias lédos

E dias trikes me faraq contente.
Ни

;

?

CLXXXIL

A

CLXXXII.

Qui de longos damnos breve hiftoria Verao os que fe jactam de amadores: Reparo póde fer das fuas dores

Nao apartar as minhas da memoria.

Efcrevi, nao por fama, nem por gloria, De que outros verfos fao merecedores

;

Mas por moftrar feus triumphos, feus rigores,
A quem de mi logrou tanta victoria.

Crefcendo foi a dor co' o tempo tanto,
Que em número me fez, alhco de arte,
Dizer do
cego amor que me venceo.

Se ao canto dei a voz, dei a alma ao pranto;
E dando a penna á maó, efta fó parte
De minhas triftes penas efcreveo.

P

CLXXXIII,

Or fua Nympha Céphalo deixava
A Aurora, que por elle fe perdia,
Poftoque dá principio ao claro dia,
Poftoque as roxas flores imitava.

Elle , que a bella Procris tanto amava,
Que fó por ella tudo engeitaria,
Defeja de tentar fe lhe acharia

Tao firme fé como ella nelle achava.

Mudado o trage, tece hum duro engano:
Outro fe finge; preço põe diante :
Quebra-fe a fé mudavel, e confente.
Oh fubtil invenção para feu dano!
Vede que manhas bufca hum cego amante,
Para que fempre feją descontente!

CLXXXIV.

Entindo-fe alcançada a bella esposa
De Céphalo no crime confentido,
Para os montes, fugia do marido ;
E nao fei fe de aftuta, ou vergonhofa.

Porque elle, em fim, foffrendo a dor ciofa, Da cegueira obrigado de Cupido,

Apoz ella fe vai como perdido,

Já perdoando a culpa criminofa.

Deita-fe aos pés da Nympha endurecida, i Que do ciofo engano eftà aggravada; Ja lhe pede perdão, já pede a vida. Oh força de affeição defatinada! Que da culpa contr'elle commettida, Perdao pedia á parte que he culpada!

CLXXXV.

SEguia aquelle fogo que o guiava,

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Leandro contra o mar, e contra o vento Quebravam-lhe ondas o animofo alento Por mais, e mais que amor lho renovava. Com fentir já que quafi lhe faltava, Sem nada esmorecer no penfamento (Nao podendo fallar) de feu intento O fim ao furdo mar encommendava. O'mar, ( dizia o moço fó comfigo} Ja te nao peço a vida; fó queria Que a de Ero me falvaffes: nao me veja. Efte defunto corpo lá o defvia

De aquella torre: sê-me nifto amigo,

Pois no meu maior bem me, houvefte inveja. CLXXXVI.

CLXXXVI.

S olhos onde o cafto amor ardiá
Lédo de fe ver nelles abrazado;
O rofto onde com luftre defufado
Purpurea rofa fobre neve ardia.

O cabello que inveja ao Sol fazia
Porque fazia o feu menos dourado';
A branca mão, o corpo bem talhado,
Tudo aqui fe reduz a terra fria.

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Perfeita formofura em ́tenra idade Qual flor que anticipada foi colhida, Murchada eita da mão da morte dura. Como nao morre amor de piedade ? Nao della, que fe foi a clara vida; Mas de fi, que ficou em noute. escura.

CLXXXVII.

DItofa penna, como a mão que a guia,

Com tantas perfeições da fubtil arte,

Que quando com razao venho a louvar-te
Em teus louvores perco a phantafia.
Porém amor, que effeitos vários cria
De ti cantar me manda em toda parte,
Nao em plectro belligero de Marte
Mas em fuave, e branda melodia.

,

Teu nome Emmanuel, de ku n'outro Polo, Voando fe levanta, e te pregoa, Agora que ninguem te levantava. E porque immortal fejas; eis Apolo Te offerece de flores a coroa, Que já de longo tempo te guardava.

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