Nao póde tanto bem chegar taó cedo: Mas effa rifte morte que virá, Que fe a Tantalo, e Ticio for notoria Efla imaginação, em fim, me augmenta Que pois de todo vive confumida, Até que a noite eterna me confuma, Ou veja aquelle dia defejado Em que a fortuna faça o que costuma; Se nella ha hi mudar-fe hum trifte eftado. ELEGIA IV. Efpois que Magalhães teve tecida. T Ten Tendo nifto occupada a phantafia, Lhe fobreveio hum fomno repoufado, Antes que o Sol abriffe o claro dia. Em fonhos lhe apparece todo armado Marte, brandindo a lança furiofa, Com que fez quem o vio "todo enfiado. Dizendo, em voz pezada, e temerofa ; Nao he justo que a outrem fe offereça Obra alguma que pofla fer famofa, Senao a quem por armas refplandeça No largo Mundo com tal nome, e fama Que louvor immortal fempre mereça. Diffe affi; quando Apollo, que da flama Celefte guia os carros, de outra parte Se lhe prefenta, e por feu nome o chama Dizendo Magalhães, poftoque Marte · Com feu terror te efpante, todavia Comigo deves fó de aconfelhar-te. Hum Varao fapiente, em quem Thalia Poz feus thefouros, e eu minha fciencia, Defender tuas obras poderia. He jufto que a efcriptura na prudencia Ache fó defenfao; porque a dureza Das armas he contrária da eloquencia. Affi diffe: e tocando com deftreza A cithara dourada, começou A mitigar de Marte a fortaleza. Mas Mercurio, que fempre coftumou Pacificar porfias duvidofas Co'o Caducêo na mão', que fempre ufou, Determina compor as perigofas Opiniões dos deofes inimigos E diffe: Bem fabemos dos antigos Como tambem mil vezes concordaram As armas com as letras, porque as Mufas A muitos na milicia acompanháram. Nunca Alexandre, ou Čefar, nas confufas. Guerras o estudo deixam grande espaço ; Que as armas já mais delle fao efcufas. N'huma mão livros, n'outta ferro, e aço; Aquella rege, e enfina; eft'outra fere: Mais co'o faber fe vence, que co' o braço, Pois, logo, hum Varaó grande fe requere Que com teus dões (Apollo) illuftre feja; E de ti (Marte) palma, e gloria efpere, Efte vos darei eu, em quem fe veja Saber, e esforço, no fereno peito; Que he hum Leoniz q faz ao Mundo inveja, Defte as Irmãas em vendo o bom fogeito, Todas nove nos braços o tomaramej Criando-o co' o feu leize no feu letto. As Artes, é as Sciencias the enfinaram, A's virtudes moraès que logo o ornáram, Alli taes provas fez de Cavalleiro, A fi mefmo venceo por derradeiro. Mas nao perdendo ainda da memoria Huus com amor intrinfeco efperando Porque he jufto que nunca the negaffe Aqui fó póde fer bem dirigido De Magalhães o eftudo: efte fó deve Acorda Magalhães, e já fe parte Como o foi de Malaca o debil muro. ELEGIA V. A Quelle mover de olhos excellente , Do cryftallino rofto tranfparente : Aquelle parecer, que he infinito Para fe comprender de engenho humano Tanto a inflamar-me vem de hu doce engano 3 Em que tomei taó doce penfamento E bemaventurado o foffrimento Fa |