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tão desmedida estatura, e as armas iguaes aos membros, com que parecia uma torre de ferro, todos desmayavão, e tremião E o do Autor dos Lusiadas, pintanto concisa e rapidamente o ar sobranceiro e alegre do Tritão, que conduzia a Venus sobre seus hombros (Canto II. Est. 21). Não sente, quem a leva, o doce peso, De soberbo com carga tão formosa;

ARTIGO v1.

Das Emphases.

§. 1. Finalmente a Emphase é um genero de Pintura Oratoria, que dá a entender mais, do que as palavras por si declarão. Convêm este genero de Pintura com o antecedente, em que em ambas ellas é necessario que o espirito dos ouvintes, ou dos leitores suppra alguma cousa, que não está claramente enunciada nas palavras. Diferenção-se porêm, em que os Bosquejos são pinturas começadas, imperfeitas e mutiladas, que se deixão á imaginação para as acabar, sendo todavia o objecto o mesmo; e nas Emphases não é o mesmo o que se diz, e o que dahi se collige, mas diverso.

§. 2. Alguns rhetoricos admittem duas es-pecies de Emphases, a saber: uma, que significa mais, do que se diz; e outra ainda aquillo que se não diz: Pertence á primeira especie o dito gracioso de um da companha de Vasco da Gama (Lusiadas Canto V. Est. 35).

Oulá, Velloso amigo, aquelle outeiro

He melhor de descer, que de subir.

A segunda especie de Emphases consiste ou na suppressão total de um sentido, ou na sua interrupção: supprime-se, quando o pensamento fica suspenso, pedindo outro depois de si, o qual se subentende interrompe-se, quando a oração grammatical fica incompleta, e requere um com. plemento, o qual pelas circunstancias é facilmente supprido pelo espirito. Exemplo de Emphase por suppressão offerece a Oração de Cicero pro Ligurio §. 15: Si in hac tanta tua fortuna lenitas tanta non esset, quantam tu per te, per te inquam, obtines (intelligo quid loquar) accer. bissimo luctu redundaret ista victoria: Se nesta fortuna tua tamanha não houvesse tanta benigni◄ dade, quanta tu possues de ti mesmo, sim de ti mesmo (bem sei o que digo); funestissimo fôra o luto, que redundaria desta victoria,,

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Exemplo de Emphase por interrupção (Lusiadas Cant. II. Est. 41).

Mas moura em fim nas mãos das brutas gentes, Que pois eu fui....E nisto de mimosa.

CAPITULO XVIII.

DOS CONCEITOS ORATORIOS.

§. 1. Os Conceitos oratorios são uns pensamentos ou originaes, ou fielmente imitados da Natureza, que por certa forma, com que são concebidos no espirito, tem uma belleza particular, a qual lhes dá ou mais força, ou mais graça, do que offerecem outros quaesquer; resultando delles consequentemente um ornato notavel ao discurso, em que são empregados. Dividem-se portanto os Conceitos oratorios: em Conceitos fortes, que servem para dar mais força ao discurso; e em Conceitos agudos, denominados tambem sentenciosos sentenciosos ou simples

mente Sentenças, que servem para communicar mais graça ao discurso, e que significados em poucas palavras dão muito que pensar.

ARTIGO I.

Dos Conceitos fortes.

§. 1. A Amplificação, genero de Conceitos fortes de mais proveitoso e frequente uso em Eloquencia, é aquelle que serve para engrandecer, ou apoucar os objectos; isto é, aquelle, por meio do qual o espirito forma dos objectos, que pretende augmentar, ou diminuir, noções taes, que as ideas simplices, de que as compõe, são as mais proprias para fazer entender a cousa ou como grande, ou como pequena.

§. 2. A duas podem ser propriamente re-, duzidas as maneiras de amplificar, que são absoluta, e relativa. A primeira considera o objecto, que pretende amplificar, em si mesmo, sem relação a outros; e decompondo-o em todas suas partes e circunstancias, com isso o engrandece: porque a multidão faz a grandeza. A segunda sáhe fóra do objecto, e com

parando-o com outro de uma ordem inferior, igual, ou superior, consegue avultal-o muito mais, do que antes se afigurava. A maneira de amplificar absoluta divide-se em tres especies, por serem outros tantos os modos de conceber as ideas parciaes de um composto, para delles se formar uma noção grande: 1. Descobrindo nellas differentes gráos de bondade, ou de maldade; chamada por isso Amplificação. por gradação: 2. Colligindo da grandeza de umas a das outras, ou sejão consequentes, ou antecedentes, ou concomitantes, &c., a que se dá a denominação de Amplificação pela via do raciocinio: 3. Amontoando-as ou accumulando-as todas, para com a multidão simultanea fazerem mais impressão; chamada Amplificação por ajuntamento ou por congéries. A maneira de amplificar relativa tambem se divide em tres especies, derivadas da natureza do objecto, que se toma para comparação, a saber: Amplificação por comparação de maior para menor, de igual para igual, de menor para maior.

§. 3. A Amplificação por gradação consiste em fazer o Orador parecer grandes cousas

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