d'inspiração!... (Voltam-se os dois e ficam á espera.) (Em quanto se lé o fim do epitaphio, Camões ergue-se do escabello, absorto n'uma especie d'extasi, e, logo que Leitão termina a leitura, recita, vindo pouco a pouco para o meio dos dois:) CAMÕES (recitando) Alma minha gentil que te partiste Se lá no assento ethereo onde subiste, E se vires que póde merecer-te Roga a Deus que teus annos encurtou, (Cde no hombro de Leitão, dando a mão a D. Alvaro. Em começando o soneto, principia o panno a descer por forma que esteja na altura das cabeças dos tres, quando Camões acaba de recitar, continuando depois a descer até abaixo, Luiza chora junto da meza.) ACTO IV (1571) Em Lisboa. Casa de Camões, á Mouraria, contigua á capella da Senhora da Saude (então collegio dos meninos orphãos). Salla pobrissima. Duas portas á esquerda, uma (primeiro plano) do quarto d'Antonio: a outra para o interior. Á direita (primeiro plano) mesa, com duas pastas, e papeis. Ao fundo, direita, porta d'entrada. Ao meio do fundo, janella, e, á direita d'ella, dependuradas d'um prego, uma espada e por cima d'ella uma capa. Á esquerda, junto da porta d'Antonio, um escabello, um cesto de costura, uma dobadoira ao pé, etc. SCENA I D. Anna de Sá, depois Camões (D. Anna está sentada no escabello, a remendar um gibão velho do filho, e a conversar com Antonio.) D. ANNA (fallando para a porta da direita, primeiro plano) - Ainda não, Antonio, ainda não! Mas penso que breve chegará, que o não deixarão por lá muito tempo, os cuidados que traz na tua saude!... (escuta, e depois responde) E então?... Mais não faz do que pagar... quanto por elle has feito!... (escuta, responde) Deixa lá....... que has de melhorar!... Mas, acertado será não fallar tanto!... fraco estás, e, se mais fraco ficas, certo não lograrás erguer-te, como tanto queres!... Socega!... (para o publico) Pobresinho! Não alcançará curar-se, se assim continua, n'aquellas impaciencias, e cuidados no amo!... Tambem, o meu Luiz bem lh'as paga!... paga!... Como a ir |