Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

ACTO II

[blocks in formation]

Fidalgos, damas, escravas, bailadeiras, pagens, alabardeiros, etc., etc.

ACTO II

(1555)

Na India. Salla dos retratos, no palacio do Governo em Gôa. Salla magnifi-ca, adornada com vasos da India, estofos orientaes, panoplias de armas dos indigenas, e aberta ao fundo por dois grandes arcos, sustentados por duas columnas. Ao longe vê-se o mar com galeões, fusta, caravellas, etc. Em volta da salla assentos de brocado de ouro; nas paredes retratos dos Governadores: Vasco da Gama, Affonso de Albuquerque, D. Francisco de Almeida, Lopo Vaz de Sampaio, D. João de Castro, etc. Fóra das columnas, uma especie d'atrio, figurando a salla ser ao rez do chão, podendo assim vêr-se quem chega. Os assentos da esquerda estão sobre um estrado, cujo degrau fica junto d'uma porta, que dá para o gabinete do Governador.

SCENA I

D. Alvaro da Silveira, D. Ignez de Camões

(Ao sobir o panno, vem chegando da esquerda um palanquim, trazido por cafres e seguido por quatro escravas acobreadas.) Pára ao meio, uma das escravas abre um chapeu, e sáe de dentro D. Ignez de Camões. Ao mesmo tempo chega da direita D. Alvaro da Silveira que lhe dá a mão e entra com ella. As escravas que acompanhavam o palanquim ficam ao fundo, excepto uma, que segue D. Ignez para lhe pôr uma almofada debaixo dos pés, logo que ella se quer sentar. O palanquim retira-se.)

D. ALVARO (descendo, com D. Ignez pela mão) -Cedo viestes, senhora: que não deram ainda signal da volta do nosso Governador, da sua visita ao hospital real.

D. IGNEZ Mais me maravilha a mim a vossa presença aqui... Querido, como sois, de D. Francisco Barreto, caso é para scismar não o haverdes acompanhado. Eu, mais cedo vim, por saber novas do meu parente e vosso amigo. Dois dias ha que o não vejo...

D. ALVARO-Nem ninguem!... Ninguem o vê... nem que o veja o conhece! Vosso primo, senhora, tão mudado anda do que foi, que nada deixou, em seus modos e fallar, por que a gente se lembre d'aquelle gentil Luiz de Camões que tanto galanteava nos serões do senhor D. João III!... Para mais agora... a morte do seu amigo D. Antonio de Noronha, tão abatido lhe traz o animo, por aquellas imaginações com que faz o caso seu... D. IGNEZ Seu?... Pois como póde tal?...

D. ALVARO Sabeis que D. Antonio de Noronha foi combater para Ceuta mandado por seu pae, que assim o queria affastar dos grandes amôres que trazia com D. Margarida da Silva...

D. IGNEZ Neta do conde de Abrantes, sei!... E como por lá andou tambem apartado dos seus amôres, quer Luiz tomar para exemplo seu o caso do amigo!... Referia-se talvez à morte d'elle, a egloga que ha dias me disse, mandára para Portugal?...

D. ALVARO Verdade é!... Devia ser mostrada em Lisboa a Luiz de Lemos, amigo de ambos. Penso que a amostrou tambem ao nosso Governador, que em grande conta o tem...

D. IGNEZ-Assim elle não andasse sempre tão apartado de quem mais lhe quer e o estima!... Mas deu-se agora a tristezas, e, o que mais é, nem consolado quer ser!... Poetas!...

D. ALVARO Que quereis, senhora?... Sempre se consola quem chora! E que póde elle haver aqui para se consolar, se não foram as lagrimasdos seus versos?... Chora o amigo, mais a sua terra!... O amigo... morreu ás mãos dos mouros d'Africa... a sua terra..... a nossa terra, senhora....... se morrerá tambem, ella?... e ás mãos de quem, agora que toda a nossa esperança ajuntamos sobre a cabeça d'uma creança de poucos mezes?.... D. Sebastião...

D. IGNEZ (atalhando) - Dizeis bem, D. Alvaro!... desque morreu o infante D. João, o unico filho d'El-rei, parece que andam por toda a parte, ruins annuncios de futuro... E, tão grandes, e tristes, são os agoiros, que até à India vieram... Por isso, Luiz...

D. ALVARO Luiz de Camões olha para as coisas do reino, com os seus olhos de poeta sem ventura, e de portuguez leal... E, quem sabe, se, por já andar lendo no futuro do reino, d'ahi lhe virá a adivinhação do seu proprio?...

D. IGNEZDO seu?... Até hoje, cuido que não haverá motivo para desgosto grande... A sua Catherina continua a viver na côrte, e, penso que firme ainda, nas promessas que lhe fez...

D. ALVARO Certo que sim... Mas, á roda d'ella, andam as invejas... e os ciumes... que algum dia lhe crearão no animo, a desgraça do amante... Suspeito, desde muito... que Pero Caminha ama Catherina d'Athayde!... E, dominando elle, como domina, a vontade de D. Antonio de Lima... Guardae-me segredo d'isto, senhora!... (olhando ao fundo) E, mudemos de conversa, que ahi chega a D. Maria Figueirôa!... Coisa ri

« VorigeDoorgaan »