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dores e covardes!... Os padres, hypocritas e vingativos!... as mulheres falsas e torpes!... Ah!... que chegará longe a historia d'estas miserias, se não se fizer historia d'acções grandes, que escureçam tantas lastimas!... Pois, amigos!... Essa historia, vou eu fazel-a!... Acordei em fim!... Vejo!... Não serás despresado, velho Portugal!... Não serás, que eu vou escrever Os Lusíadas!... Vamos!... (Aponta a espada a Calisto, que vae saindo a recuar. N'este momento Luiza Barbara sáe da porta da esquerda, quer ir, e cae desfallecida no degrau do estrado.)

ACTO III

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ACTO III

(1558)

Um carcere da prisão do Tronco, em Gôa, contigua ao palacio do Governo. Porta á direita, fresta de grades á esquerda. Ao meio uma mesa tosca, com um escabello ao pé. Em cima da mesa, papeis espalhados. Uma cama pobre, uma bilha com agua, etc.

SCENA I

Camões, depois Luiza Barbara

CAMÕES (só, pallido e abatido, sentado no escabello, escreve, depois de pausa recita:)

E ainda, Nymphas minhas, não bastava
Que tamanhas miserias me cercassem ;
Senão que aquelles que eu cantando andava,
Tal premio de meus versos me tornassem!
A troco dos descanços que esperava,
Das capellas de loiro, que me honrassem,
Trabalhos nunca usados me inventaram,
Com que em tão duro estado me deitaram...

(Pausa)

Vêde, Nymphas, que engenhos de senhores
O nosso Tejo cria valerosos,

Que assim sabem prezar com taes favores
A quem os faz cantando gloriosos!

Que exemplos a futuros escriptores,
Para espertar engenhos curiosos,
Para porem as cousas na memoria,
Que merecerem ter eterna gloria !...

(Pausa. Ergue-se)

Olhae que ha tanto tempo, que cantando
O vosso Tejo e os vossos luzitanos,
A fortuna me traz peregrinando,

Novos trabalhos vendo e novos damnos:
Agora o mar, agora experimentando
Os perigos Mavorcios inhumanos;

Qual Canace que á morte se condemna,
N'uma mão sempre a espada, n'outra a penna!...

Oh!... ditosos aquelles que poderam
Entre as agúdas lanças Africanas,
Morrer, emquanto fortes sustiveram

A santa Fé, nas Terras Mauritanas !...

Ditosos!... ah!... (Vé Luiza Barbara que tem entrado com um cabaz no braço) És tu, Luiza Barbara!... Mais cedo vieste hoje, Luiza!...

LUIZA (dirigindo-se á mesa, e pondo-lhe em cima o cabaz)- Vim... Não pude livrar-me do cuidado em que hontem fiquei... por vêr que nada quizestes, do que vos trouxera.......

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CAMÕES Mais te amofinas do que eu, Luiza!... Pobre Luiza!... pobre!... tão pobre, tanto como eu!...

LUIZA (tristemente)-Mais do que vós, sr. Luiz!... Mais!... Porque a vós... ao menos... ainda vos não deixou a esperança... emquanto que eu...

CAMÕES - Tu... triste mulher!... tu... de todo a perdeste... quando te contei o que por amor d'outra... em Portugal... e Africa... e India... tenho soffrido!... tudo quizeste saber... e, quando

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