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A escadaria que levava ao andar nobre era sumptuosa; desembocava em quatro salões aderessados de preciosas pinturas de Ticiano, Corregio, Rubens, e outros. As salas davam de plano para um eirado todo de mosaico, cheio de estatuas de marmore.

Tal era a casa dos eruditissimos Menezes, como nol-a descreve uma testemunha ocular de tantas elegancias.

Tudo isso já lá vae!!

Fallei ainda agora a proposito de Vasco de Pina, no celebre chronista dos nossos reis Ruy de Pina. Concluirei o capitulo citando, a proposito de Fernando Alvares e do seu palacio, outros nomes litterarios não menos illustres, os de seus filhos Francisco de Andrada, chronista d'el-rei D. João III, Diogo de Paiva de Andrada, e frei Thomé de Jesus, irmandade toda estudiosa, que soube honrar o velho tronco galliciano, e a sua adoptiva patria portugueza.

Veja-se Carvalho, Chorogr. Tom. II, pag. 438.

CAPITULO XII

Excursão archeologica pelo bairro. O largo de S. Roque.Enumeram-se os principaes palacios e casas nobres do Bairro alto. Memorias celebres concentradas no estreito recinto do largo de S. Roque.-A torre de Alvaro Paes.-Sua demolição em 1836.-Palacio de D. Henrique de Noronha.Palacio Niza e suas tradições.-O alfarrabista.-- O theatrinho do pateo do patriarcha.

Agora vamos correr muito pela rama os sitios mais famosos do Bairro alto, e a chronica das suas principaes casas religiosas e particulares. Onde souber noticias ineditas, dal-as-hei; onde só tivesse de repetir o que outros apuraram, passarei rapido; e como as fontes são conhecidas, o leitor pode ir em pessoa encher a ellas o seu cantarinho.

Começarei pelo largo de S. Roque, um dos trechos lisbonenses de maior interesse historico. Aqui ha palacios, ha recordações publicas, e ha uma egreja dignissima de detido exame.

Antes de tudo: as vivendas do Bairro alto merecedoras de menção seriam mais de trinta. Para não alongar a volumes este escripto despretencioso, não

irei investigar a origem de cada uma d'ellas; mas quer o leitor fazer uma idéa rapida da mina que podiamos explorar? aqui lhe cito sem ordem o que me lembra: o palacio dos condes de Soure, na travessa do Conde de Soure; o dos srs. marquezes de Ficalho, na rua do Carvalho; o dos srs. marquezes de Niza em S. Roque; o de D. Estevam de Faro, e de D. Henrique de Noronha defronte da portaria de S. Roque; o do Cunhal das Bolas na rua do Carvalho; o dos srs. marquezes de Olhão (onde é o correio geral, ao Calhariz); o dos srs. marquezes de Pombal na rua Formosa; o dos srs. duques de Palmella, ao Calhariz; o dos srs. condes do Sobral, ao Calhariz; o dos srs. Galvões Mexias, na rua dos Mouros; o dos srs. viscondes da Lançada, na rua Formosa; o do antigo negociante Jacome Raton, na mesma rua; o dos Cunhas morgados de Paio Pires, depois Lumiares, e hoje Delfim Guedes; o do celebre architecto d'el-rei D. João v Ludovice, em S. Pedro de Alcantara; o dos Rebellos, hoje dos srs. marquezes de Vallada, na travessa da Queimada; o da sr.a baroneza de Almeida na rua da Barroca; do Diario de Noticias na rua dos Calafates; o dos srs. marquezes de Vallada, ao Calhariz, hoje do sr. Torres; o do sr. Carlos Relvas na rua da Atalaya; o do sr. Bartholomeu dos Martyres Dias e Sousa em S. Roque, fundado por Gaspar de Brito Freire; o do sr. visconde de Seabra na rua da Barroca; o dos srs. Moraes de Carvalho na mesma rua; o do Jornal do Commercio e typographia Castro, nas ruas de Belver e da Cruz de Pau; o do Diario Illustrado na rua da Atalaya; o do sr. conselheiro José Sil

vestre Ribeiro na rua de Belver; o palacio da esquina da rua das Chagas para o Calhariz, onde esteve a legação de Hespanha; o que foi dos srs. viscondes de Condeixa na rua da Horta secca, onde fôra residencia dos condes da Torre; o dos herdeiros do sr. Vianna, e que fôra dos srs. condes de Cunha na rua das Chagas; o do sr. conde de Casal Ribeiro ás Chagas, que foi dos Castros (Novas Gôas); sem fallar em palacios transformados ou destruidos, como o dos condes de Avintes onde se fundou o convento de S. Pedro de Alcantara; o dos condes da Feira; o dos marquezes de Marialva na praça de Luiz de Camões; o dos condes de Vimioso na actual rua do Alecrim, etc. etc.

É evidente que não havia paciencia para ler tantas noticias; muito menos para as escrever; os benedictinos de S. Mauro não moram aqui. Iremos por tanto depressa, como quem vae a novos descobrimentos. Começaremos sim pela cabeça do bairro, pelo largo, onde são tantas e taes as tentações dos assumptos, que duvido se conseguirei pol-os em ordem.

Tinhamos para volumes; e se não, vejamos: as tradições do santo condestavel, cujo nome nobilitava o postigo da cerca; as do chanceller Alvaro Paes, que parece ter dado appellido á celebre torre; a ermidinha d'el-rei D. Manuel; o cemiterio da peste de 1569; o olivedo, famigerado pelos desafios que ali vinham ter os casquilhos espadachins; a casa dos jesuitas com todas as suas phases, com o seu nobre papel na sociedade, com os seus homens illustres; a parenése de S. Francisco de Borja; as obras ar

tisticas do templo e da sachristia; o palacio habitado pelos Vidigueiras, e a auréola d'essa casa nobre; o mesmo palacio habitado pelos cardeaes patriarchas; as scenas tumultuarias da extincção da Companhia; as scenas agitadas no theatrinho do largo, e a estreia de Garrett; as troupes francezas; a procissão dos Passos, tão popular e concorrida; o monumento ao casamento d'el-rei D. Luiz; tudo isso condensado n'uma área de poucas braças, tudo a fallar, tudo ao mesmo tempo a chamar pela penna de um chronista.

-Tanta coisa no largo de S. Roque? e de que tamanho é elle? --pergunta o leitor, maravilhado de ter passado tantissimas vezes por lá, sem suspeitar tal affluencia de phantasmas historicos n'aquelle pequenino Josaphat.

Quem d'antes subia a rua que Balthazar Telles chama de todas a mais fermosa, a mais alegre, e por proprio nome a rua larga, a que leva á egreja de S. Roque e á casa da Companhia', encontrava, logo ao desembocar na praça, uma torre historica, do lado direito, senhoreando ao rez do caminho o populoso largo e a rua larga de S. Roque, segundo informa outro escriptor portuguez 2; era a torre de Alvaro Paes, já assim chamada no tempo do Mestre, e do proprio chanceller (ou logo depois), como se vê em

1 Chron. da Comp.- Part. II, pag. 102.

2 Castilho.- Artigos intitulados Homenagem ao antigo e ao moderno, na Revista Universal.— Tom. ii, pag. 8o e seg.

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