Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

mogenito era Manuel da Cunha e Menezes. A este succedeu seu filho o conde de Lumiares D. José Manuel da Cunha e Menezes, continuando umas entaboladas demandas e pendencias com a Misericordia. Em 26 de março de 1816 foi ratificada judicialmente a consignação dos rendimentos do palacio, para amortisação da divida.

Extinctos os vinculos, o ultimo administrador vendeu a casa de S. Roque em 1875 ao abastado negociante o sr. Antonio Eduardo Guimarães.

O proprietario é hoje o sr. Delphim Guedes, por cabeça de sua mulher, filha do mencionado sr. Guimarães.

CAPITULO XV

Explicações topographicas da velha Lisboa.-O postigo da Trindade. O grande mosteiro da Trindade.-Papel guerreiro dos monges trinos.—Pagina de historia portugueza.— A invasão castelhana.—As ultimas tentativas do prior do Crato.-Doações ao mosteiro.-O bairro do almirante.-A rua da Oliveira.-O grande convento do Carmo.-Ruinas e tristeza.- Como um proloquio popular contém muita vez historia e philosophia.

Descendo de S. Roque, e seguindo sempre por fóra da muralha, encontrava-se, como disse, outra porta, ou postigo, da circumvalação; não era do tempo do rei fundador, mas posterior uns duzentos annos. Foi esta a sua origem:

Defronte da face principal do convento do Carmo, abria-se um largo, um pouco mais estreito que o de hoje na direcção leste oeste. Desembocavam n'elle sete ruas; a saber: pelo norte a calçadinha do Carmo (hoje calçada do Carmo); pelo poente a calçadinha da Trindade (hoje rua da Trindade), a travessa do Arco de D. Manuel (que não existe, e ficava ao centro do quarteirão fronteiro ao templo), e a tra

vessa da Marquezinha (hoje, pouco mais ou menos, a travessa nova do Carmo); pelo sul a travessa dos Poyaes (talvez pelo sitio da travessi nova do Sacramento), e a travessa do Sacramento (hoje calçada do Sacramento); e pelo poente, encostada ao lado sul da egreja, e passando-lhe por baixo dos gigantes, a travessa das Escadinhas do Carmo (hoje o pateo arborisado entre o club e as ruinas).

A calçadinha da Trindade era, pela differença de nivel, muito mais empinada do que é a rua que a substituiu; esta hoje tem pequena inclinação; levava ao largo da Trindade (hoje da Abegoaria) sobre o qual deitava ao norte o lado e a frontaria da egreja dos Trinitarios. Ora uma curta rua que da frente d'esta egreja conduzia á muralha foi, só em 1560, aberta sobre um quintal, para melhor serventia do povo, que até ali tinha de dar uma grande volta para saír para os lados occidentaes, ou pela porta de Santa Catherina, ou pelo postigo de S. Roque.

Essa nova rua1 ia entestar na muralha da cidade, sobre a estrada que subia para o olival e recente casa professa da companhia; ao postigo aberto na muralha deu o povo, por memoria de uma antiga ermida que ali houvera, o nome de Santa Catherina, como já dera egual denominação á grande porta torrejada que se abria mais abaixo, no sitio do actual largo das Duas Egrejas. Mas aquella invocação mudou-se em breve, e o postigo de Santa Catherina passou a chamar-se postigo da Trindade.

Ficava, sem tirar nem pôr, no meio do hoje cha

1 S. José. Tom. 1, pag. 180.

mado impropriamente largo da Trindade, passagem inclinada que liga a rua larga de S Roque com a nova da Trindade. Do lado direito vemos o theatro, edificado nas ruinas de um palacio da casa d'Alva; do lado esquerdo os predios que formam a esquina ressaída da rua larga; e em frente uma habitação alta de azulejo, que marca muito ao certo sitio da antiga egreja do convento, cujas portas principaes olhavam tambem ao poente, e cujo lado da epistola tornejava sobre o actual largo da Abegoaria.

Do postigo da Trindade nem vestigios existem; pois existiam ainda em 1750, que o diz um investigador laborioso, frei Apollinario da Conceição1, apezar de demolida a porta, por inutil, menos de cem

annos antes.

No proprio logar onde se estendia aquelle templo, e todas as dependencias do convento de trinitarios fundado em 1218 por el-rei D. Affonso II, campeara desde tempos antiquissimos uma ermida de Santa Catherina, a que alludi pouco acima, e cuja memoria ainda se conserva no titulo official da rua do Chiado. Doara-a aquelle soberano aos primeiros frades, para junto d'ella erguerem casa, servindo-lhes de egreja a dita ermida, pobre fabrica muito humilde, com sua alpendrada de quarenta palmos de fundo e vinte de largo, e que, menos de um seculo depois

1 Demonstração hist. da parochia de Nossa Senhora dos Martyres, cap. XXIV, num. 247.

da fundação do convento, já não bastava ao povo, que de todas as bandas concorria. Foi por isso que a rainha santa, mulher do neto do que fundara o pequeno mosteiro, reedificou ampliado sobre a velha ermida um templo condigno á magestade do culto, e ao nome da já florescente casa da Trindade 1.

Basta a confrontação das datas para se ver quanto, até então, tudo isso ficava extra-muros. Quando el-rei D. Fernando fez a sua muralha, ficou o mesmo convento pertença da cidade. Ora como a cortina da cerca lhe passava rente, apossaram-se os frades do lanço e das torres com que entestavam; do que se originaram com a camara de Lisboa taes demandas, que só em tempo d'el-rei D. João ш e D. Sebastião terminaram, por composição entre as partes 2.

3

O certo é que, pertencessem, ou não, aos trinitarios a muralha e os cubellos, dos seus terrados praticaram os trinta monges 3, que viviam em tempo de D. João 1, prodigios de valor durando os longos quatro mezes e vinte e sete dias do cerco de Lisboa. Aceitaram os clerigos e frades, como então a egreja admittia n'estes casos extremos, o duro officio de defensores da cidade; a armadura revestiu a estamenha; e as dextras que usavam suster o calix da Eucharistia ergueram sem tremer o montante

1 Frei Jeron. de S. José.-Hist. chron. da ord. da SS. Trindade, tom. 1, pag. 173 e seg.

2 S. José. Tom. 1, pag. 179.

3 Idem., pag. 191. 4 Idem., pag. 180.

« VorigeDoorgaan »