e abre aqui e alli uma flôr - nossa em breve, temperada ao calor do céo americano, com alguns dos representantes da Escola mineira. Dêstes coube á lyra de José Basilio da Gama desferir as suas melhores notas. Certo antes do cantor de Lindoya eleger para objecto de poema o assumpto nacional do « Uruguay », houve quem se occupasse do que é nosso, celebrando em verso e prosa excellencias do Brasil, seu clima, sevs animaes, flores, fructos, aguas, prados, montanhas, tudo o grande e copioso da terra; mas foi isso em poetas e chronistas pouco mais de simples enumeração ou meras palavras. Onde o calor, a vida, a poesia que só o sentimento patriotico poderia inspirar? Com Basilio da Gama desperta este sentimento, palpitando pela primeira vez em sorte de versos, segundo nota José Verissimo, como mais bellos ainda não haviam sido feitos na lingua. O « Uruguay » vale por eloquente lição aos inanes nomencladores de cousas nossas de que não basta vêr e descrever, é mister sentir e amar, sem o que toda poesia é falha, ou não é poesia. Com a nossa independencia politica coincide a literaria, sendo postos de parte os modelos classicos. Rasgam-se novos horisontes á imaginação dos poetas. Inicia-se a phase romantica ou o aureo periodo de nossa literatura. Os que demorarem os olhos nas folhas aqui enfeixadas, poderão notar como, sobre sentir mais intenso nas producções dessa epoca, vae por ellas mais gosto de arte, mais leveza e graciosidade do que no periodo anterior. Não é ainda a elocução rigorosamente artistica, esta virá um pouco mais tarde, quando o romantismo, passado o seu meio-dia luminoso, descáe e se afunda em affectadas subjectividades. Ha tambem na poesia um processo regular de crystallização de fórmas ou de evolução destas para um todo definitiro e harmonico. O verso e as composições de vario caracter por elle tecidas modificam-se com o tempo em sua estructura, adquirem novos elementos indispensaveis á expressão e acabam tornando-se talvez menos simples porém mais significativos e artisticos. Nesse trabalho de continua transformação e aperfeiçoamento entra o legado por gerações anteriores, conjugam-se successivos esforços, não cabendo a um só poeta ou a uma pleiade uțanar-se delle como obra exclusiva sua. Aos romanticos succedem os parnasianos. Em mãos dêstes verso accentua aquella evolução e é perfeito como instrumento de sentir e de idéa. Restauram-se e aprimoramse antigas fórmas e votam-se á lingua culto e estima que ultimamente lhe iam faltando. De toda essa nossa poesia acreditamos haver aqui reunido algumas das paginas mais caracteristicas. Achamos dever restringir o numero de auctores e augmentar em alguns o de transcripções, para isso ceifando mais onde a seara nos pareceu mais rica e podia dar-nos melhores feixes. A douta romanista D. Carolina Michaelis, prefaciando a collecção: « As cem melhores poesias lyricas da lingua portuguesa», confessa que, tomando á letra o titulo esta-, belecido, ou guiando-se só por suas predilecções pessoaes, apresentaria exclusivamente versos do cantor dos « Lusiadas ». ༥ Por nossa vez confessamos que se houvessemos tambem de consultar sómente o nosso gosto, com dez ou doze apenas dos nossos poetas formariamos este florilegio. A obra, porém, requeria, como documentação á historia da poesia nacional, maior numero de producções e de nomes representativos das varias phases por que tem esta passado. Forçoso foi amplial-a, abrangendo não todos os poetas, mas os principaes (só nos occupando dos mortos) em algumas das paginas principaes que escreveram. Se alguem extranhar a omissão de certos nomes queridos e de valor, veja o titulo da collecção, que obriga á escolha dos maiores no que melhor nos deixaram. 16 de Agosto de 1920. Alberto de Oliveira. GREGORIO DE MATTOS 1623-1696 Gregorio de Mattos Guerra, filho da Bahia, formado em leis ou canones pela Universidade de Coïmbra, exerceu por algum tempo a advogacia em Lisboa e tambem serviu os lugares de Juiz do Crime e dos Orphaõs. Tornou á sua patria, onde adquiriu grande celebridade pelas poesias satiricas e foi, pela violencia destas, cognominado Bocca do Inferno. Desterrado pelo governador para Angola, conseguiu voltar mais tarde para o Brasil, e em Pernambuco veio a fallecer. Do famoso satirico só pequena parte do que deixou está publicada, continuando ineditas as collecções que se acham na Bibliotheca Nacional e na do Ministerio das Relações Exteriores. Obras poeticas, precedidas da vida do poeta pelo licenciado Manoel Pereira Rabello. Tomo I, Rio de Janerio 1882. Foi publicado este unico volume por diligencias de A. do Valle Cabral. |