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Esta noticia deve encher de jubilo todos que presam as boas lettras. Com verdadeiro sobresalto se desejará saber o que pensa dos outros quem tanto ha escripto.

D'aqui beijamos as mãos ao illustre romancista que, arredando escrupulos, aliás de louvavel delicadeza, se deliberou a prestar este enorme serviço, não só a nós em especial, como em geral a todos que se entregam a estudos sérios.

OS EDITORES.

NECESSIDADE DE UM CURSO DE LITTERATURA PORTUGUEZA

É quando se procura estudar as diversas phases por que teem passado as lettras em Portugal que reconhecemos a falta de um Curso completo de litteratura patria. Em o nosso idioma existem obras, que não podem deixar de ser consideradas de alguma valia, e varias até de poderoso auxilio para o estudioso das evoluções litterarias porque tem passado o engenho portuguez; mas são apenas dissertações, ou Memorias, dispersas nas publicações da nossa Academia, como os trabalhos de frei Manuel do Senaculo, frei Fortunato de S. Boaventura, Trigoso, Ribeiro dos Santos, João Pedro Ribeiro, Francisco Dias Gomes, frei Francisco de S. Luiz, Francisco José Freire, e muitos outros sobre linguas antigas, philologia, theatro, e critica, os quaes apenas resolvem alguns pontos da historia da litteratura nacional. O Primeiro ensaio sobre historia litteraria de Portugal, de Francisco Freire de Carvalho, já abrange, como o seu titulo denota, os differentes periodos do progresso das lettras entre nós, mas ainda assim é um livro sem methodo, diffuso na fórma e predominado, na sua parte analytica, dos velhos e erroneos principios

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da eschola mythologica. No entanto, como subsidio de materiaes collegidos e dispostos para um certo fim, muito lhe devemos, por nos poupar investigações em que fôra mister consumir tempo aturado e quantas vezes improficuo.

O Elucidario de Viterbo traz egualmente uma resenha da origem e alternativas da lingua portugueza, porem mui succinta; e no Parnaso Lusitano, como prefacio áquella compillação de poesias, o visconde d'Almeida Garrett escreveu o Bosquejo da historia da poesia e lingua portugueza, apreciavel, decerto, como critica de alguns dos nossos talentos, mas que não vae mui álem de esboçar contornos, e esses vagos, e esses truncados até, para poderem lograr o intento de instruir o leitor desejoso de conhecer as relações intimas e syntheticas que prendem a indole das diversas épocas litterarias.

E em linguas estrangeiras, outras obras tem apparecido, como as publicadas por Sismondi, Bouterweck, Ferdinand Deniz, Bellermann, Villemain, Volf, Diez, Mennechet, Lefranc, Souvestre, que, nas suas relações geraes, e mais immediatamente derivadas do movimento geral das grandes elaborações litterarias nos differentes seculos, traçam de algum modo o esboço da litteratura portugueza desde a sua origem até aos tempos mais proximos. Mas satisfazem essas obras? São completas? Entram na indagação de factos directos, que são como a intimidade, o espirito da litteratura de um povo? De certo não. E da mesma sorte o Ensaio biographico-critico sobre os melhores poetas portuguezes, de José Maria da Costa e Silva, unicamente se occupa dos talentos poeticos, e d'esses mesmo os principaes.

Nenhum d'estes escriptos, portanto, pode ser lido por um curso de litteratura portugueza, como o reclama o exame das diversas manifestações do pensamento litterario e os principios da critica moderna. Subsistem lacunas notaveis em todas estas obras, e até juizos condemnaveis a respeito da valia e caracter de muitos dos.

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nossos escriptores, aliás dos mais indicativos da indole peninsular.

E quantos damnos se teem seguido, para a apreciação verdadeira da historia das nossas lettras, da leitura d'esses livros, que, reputados auctorisados pela fama de seus auctores, induzem em erro a mancebos que procuram a sua licção e a tomam por authentica!

É isto que importa evitar. Já no Curso Superior de Lettras mais de uma vez os seus dignos professores deploraram a eficiencia de subsidios cabaes que os auxiliassem, e auxiliassem mais defficazmente os alumnos do mesmo Curso, no estudo da nossa historia litteraria, pois que, para entrar em investigações de qualquer capitulo d'essa historia, importava compulsar muitas obras, e algumas d'ellas raras, ou excessivamente caras, fóra, por isso, das posses communs.

E isto foi em referencia ao merito individual de cada auctor; porque, se considerarmos estas ponderações nas suas relações complexas de época, nas influencias exteriores das differentes origens litterarias, e effeitos que estas trouxeram ás imaginações e talvez a outros factos mais positivos da sociedade d'esse tempo, então este trabalho augmenta em difficuldade, visto que pouquissimos, ou antes nenhuns escriptores possuiamos que se houvessem dado a taes locubrações, porque os processos e horisontes que depois descobriram os estudos modernos da critica litteraria, ainda nem sequer eram previstos por esses homens, aliás benemeritos debaixo de muitos outros pontos de vista.

Felizmente, este facto, em parte, desappareceu. Os estudos sobre poesia nacional sobre os antigos cancioneiros e sobre theatro, do sr. Theophilo Braga, dados á estampa n'estes ultimos annos, significam uma transformação completa. Inspirados pelo fecundissimo sentimento das antigas tradições peninsulares, alliando a philologia á philosophia, e tomando por norma as lucubrações de profundos eruditos estrangeiros, os livros do talentoso escriptor rasgam novas perspectivas á lit

teratura e á critica em Portugal. Mas ainda assim não constituem, por ora, tão recommendaveis trabalhos uma historia total de litteratura portugueza e principalmente ao alcance da mocidade. São bellas investigações academicas, e este titulo sobeja para seu elogio.

Não quer isto inculcar que o livro que se vae lêr reuna os meritos que excluo nos livros apontados e seja obra completa, como os grandes Atheneus ou Cursos que possue a Allemanha, a França, a Inglaterra, e a mesma Hespanha; mas em todo o caso dispõe os materiaes para a realisação d'esse intento; e se os não abrange e ordena em todas as suas partes, deixa a traça gizada e o incitamento da construcção para mãos mais pujantes e ageitadas a inteirarem em toda a sua sumptuosidade architectonica.

E sobretudo, note-se que o intuito do auctor d'este trabalho é principalmente não illudir a espectiva dos eruditos, mas tambem não baldar os dezejos dos estudiosos. As questões serão tratadas com investigação e consciencia; porem, seguindo-se sempre as duas essenciaes condições de fórma, que devem constituir o estylo de um livro que precisa de ser entendido pela mocidade estudiosa: a clareza e a concisão.

Assim este Curso de Litteratura Portugueza deverá ser de reconhecida vantagem para os Lyceus e Escolas de instrucção secundaria, onde, para se obterem noções regulares das diversas quadras que completam a nossa historia litteraria, se necessita de manusear muito compendio e selecta, sendo ainda assim tudo infructifero, porque nada existe que satisfaça totalmente este ramo de estudos.

Se as qualidades geraes do livro lhe conquistarem este logar, grande será o jubilo do seu auctor, que não planeou o fazer tãosómente um trabalho litterario, senão, e principalmente, proporcionar aos estudiosos uma obra cuja falta era de todos sentida e deplorada, e que aproxima, quanto possivel, a nossa litteratura dos seus resultados praticos.

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