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«um quadro energico da situação do paiz) devia a acollonia hollandeza reconhecer os agouros sinistros «da sua proxima ruina, semelhantes a essas tochas que «nunca esparzem um clarão mais luminoso, que quando «estão prestes a apagar-se.»

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Os hollandezes não deixaram entre nós rasto ou memoria alguma que denunciasse intenções beneficas. Ainda em Pernambuco deram elles vigoroso impulso ao commercio e á agricultura, e foram parte para que o Brasil, até então completamente ignorado, se revelasse de algum modo á Europa; mas aqui a sua presença foi assignalada somente pelos estragos e ruinas que fizeram.

Gayoso diz, é certo, que além dos cinco engenhos de assucar que acharam no Itapucurú, os hollandezes estabeleceram uns seis ou sete mais-mas apenas (acrescenta elle) se conhecem hoje os logares onde foram situados-1 Contando de guerras e combates escapou acaso a Berredo o dizer-nos que um delles foi levantado no Araçagy. Mas todos deviam de ser obras muito imperfeitas, e porventura apenas começadas; pois os hollandezes não podiam, mesmo nesta materia, prefazer cousa melhor, divertidos o mais do tempo em vexar e opprimir os colonos, e em reprimir a sublevação que a sua oppressão suscitou. Entretanto, ainda na erecção destes engenhos não fi

1 COMPENDIO-HISTORICO § 142, pag. 169.

VOL. II.

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zeram elles mais do que mostrar o espirito mercantil que exclusivamente os dominava. Calcularam friamente os milhares de florins que poderia fundir o seu assucar, e nada mais. Assim, abstrahi deste resultado da sua cobiça, e não achareis mais acto algum que revele essas idéas de religião, humanidade e civilisação, sempre inherentes ás emprezas dos primeiros povoadores.

Se olhamos porém a expedição franceza, que contraste! Esta não se dirigia a surprender perfidamente uma cidade edificada por outra nação amiga, senão a cultivar uma terra abandonada e deserta, pois os seus unicos habitadores, os selvagens tupinambás, precisavam elles mesmos de mais cultura que a terra que pisavam. Esses titulos provenientes das doações papaes, sobre absurdos e vãos em si mesmos, póde com justiça dizer-se que tinham caducado, incorrendo os regios donatarios nas penas de commisso, pela falta de effectiva occupação e cultura, em um lapso maior de cem annos.

Sem duvida, os interesses mundanos tambem foram parte mui principal nesta expedição, e os francezes, como os outros, levavam a mira nas riquezas que deviam produzir o commercio e a grossura natural da terra; mas é impossivel desconhecer o zelo e fervor religioso que os animava, se attentarmos para o grande

e dispendioso apparato de missionarios que trouxeram, e para os importantes trabalhos que estes emprehenderam, não menos que para os resultados conseguidos.

Á volta dos catholicos, vinham tambem muitos protestantes no intento de dispor e proporcionar nestas apartadas regiões um asylo seguro aos seus co-religionarios perseguidos então na Europa; e não é este certamente o lado menos tocante da empreza.

Para não interrompermos a narração dos successos militares, pospozemos no Livro II a da parte religiosa e civilisadora da expedição; mas já é tempo de enceta-la, e de dar noticia do estado da nossa ilha naquella epocha.

Mal aportaram na de Fernando de Noronha, começaram logo os missionarios a fazer o seu officio, e com quanto apenas se demorassem ali uns quinze dias, baptisaram alguns indios, e casaram dous.

Não se deixaram tambem ficar ociosos na breve demora que tiveram na ilha de Sancta Anna, a qual consagraram com varias ceremonias do culto, erigindo no dia 29 de julho de 1612 a primeira cruz que viram aquellas paragens, e sendo os pesados madeiros que serviram á sua fabricação carregados ao hombro pelos cabos e senhores mais principaes.

A ilha do Maranhão era então exclusimente senhoreada pelos tupinambás emigrados do Sul. A sua população se elevava a cerca de doze mil almas, divididas em vinte sete aldeas, segundo affirma Claudio

d'Abbeville, escriptor contemporaneo, e testemunha ocular, bem que Berredo, sem duvida muito menos competente, as reduza a vinte tres. Só nos ficaram os nomes de quatro de entre ellas, Juniparan, a principal de todas, Januarém, Timbohú, e Mayóba. A dos indios chamados-Pedras-Verdes-foi estabelecida posteriormente, e junto ao forte de S. Luiz, por suggestão dos francezes, que queriam te-los assim visinhos, afim de serem por elles auxiliados nas suas obras e trabalhos.

Em Tapuytapéra havia dez aldêas; em Cumã onze; o numero dellas porém crescia prodigiosamente á medida que se caminhava na direcção do Pará.

Os cabos e soldados francezes precederam os missionarios na entrada da ilha, onde foram recebidos e festejados ao modo patrio por um corsario seu conterraneo, chamado Dumanoir, que acaso ali estava ancorado com dous navios. Os missionarios vieram por ultimo, e só depois de bem certificados de que seriam acolhidos com a reverencia devida ao seu caracter. Desembarcaram com pompa e apparato na praia chamada do Javiree, (nome que se perdeu) e desfilaram em procissão, entoando canticos sagrados,

i Claudio d'Abbeville no cap. 32 da sua interessante e curiosa Histoire de la Mission des Frères Capucins (1614), obra seus hoje mui rara, traz os nomes de todas essas aldeas e com os de muribixábas.

(DÓS EEDD:)

e seguidos de grande multidão de indios, surpresos e enleados do que viam.

As primeiras noites passaram-n'as todos, os padres como os soldados, sob frondoso arvoredo que sombreava a beira-mar, até que se erguesse o forte e armazem de que já fallámos, trabalho a que os indios ajudaram, derribando e transportando troncos e madeiros enormes. A mil passos de distancia do forte, em um sitio aprazivel, e refrescado por nascentes d'agua pura, traçou-se recinto para o convento dos capuchinhos, que para logo se ergueu sob a invocação de S. Francisco; humilde e modesta habitação coberta de palha, com paredes de páu á pique e barro, que mais tarde devia ser substituida pelo actual convento de Sancto Antonio, edificado no mesmo local, como é bem manifesto, pelas circumstancias que indicámos. As primeiras missas foram ditas em 12 de agosto, disposto para esse fim um altar portatil.

Por esse theor procediam sempre os primeiros povoadores catholicos; junto ao forte, a igreja; e aos pés da cruz cingida do pavilhão nacional, a espada, o mosquete e o canhão.

Os padres acompanhados de poucos soldados se derramaram incontinenti pelas aldeas visinhas, e mediante a discrição, prudencia e sabedoria com que se houveram, entraram logo a fazer numerosas conversões. Todos os dias eram missas, sermões, baptisados e casamentos. Para conseguirem dos selvagens que se abstivessem do costume abominavel de comer

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