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dos especiaes, e sobretudo o tempo, que, absorvido em outras tarefas, não lhe sobra de nenhum modo para andar compulsando os nossos archivos publicos. Estes mesmos devem de estar hoje bem pobres de documentos que possam ministrar algumas noticias; ha quarenta annos, quando escreveu Gayoso, não seria certamente assim; mas de então para cá, os monumentos e registros, passando com tanta presteza de umas para outras mãos, no meio de tantas reformas de repartições, se foram gradualmente consumindo e extraviando; e o pouco que nos restava, levou-nos ha cousa de dous annos o senr. Gonçalves Dias, por ordem do governo central, e antes que de todo se perdesse. 1

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Além disso, é nossa opinião que das pequenas provincias de um estado, não é mister escrever um corpo completo de historia; bastam simples e modestas memorias, que sirvam depois ao trabalho complexo que comprehenda o todo.

Com esta opinião, e na estreiteza de recursos em que nos vemos, a nossa tarefa consistirá em colligir, refundir, reduzir e comparar o que anda disperso ou disparatado nos auctores que acabámos de indicar, e

1 No XVI volume da Revista do Instituto Historico e Geographico do Brasil, de pag. 370 a 384, encontram-se o relatorio sobre os archivos do Maranhão, e a relação dos documentos, que o dr. Gonçalves Dias enviou para os archivos do Rio. Quanto aos livros da camara municipal, que andam por 12, já esta os reclamou do governo central.

(Dos EEDD).

em outros livros e documentos que temos podido haver á mão, e citaremos no logar proprio. Talvez a nossa apreciação, feita do ponto de vista actual, e segundo as idéas que hoje vogam, illuminando as profundezas e obscuridades do passado, dê aos mesmos factos já referidos, uma côr e apparencia diversa, e por isso mesmo nova.

Nem seguiremos a ordem chronologica, nem escreveremos de tudo, de principio a fim, sem interrupção alguma. Ao contrario, tractaremos cada assumpto. separadamente, e segundo a diversidade delles, saltando de umas para outras epochas, conforme as noticias que dellas se nos proporcionarem.

Á volta das narrações historicas e onde couberem, irão as promettidas considerações sobre as diversas classes da nossa população.

Será de algum proveito este trabalho? o publico di lo-ha. Da nossa parte entendemos que em só reproduzir pura e simplesmente o que anda por ahi disperso, já não fazemos pequeno serviço, principalmente attendendo-se a que os exemplares de Diogo de Campos, Gayoso e Lago são hoje raros, e rarissimos seriam os de Berredo, a não ter sido a segunda edicção de 1850.

Seja como fôr, ao concluir esta introducção, rogamos aos nossos leitores que tomem este trabalho só pelo que elle vale, e verdadeiramente é-simples memorias ou apontamentos, como tantos outros que é de uso publicar em revistas litterarias, sem nenhu

VOL. II.

mas pretenções ambiciosas. Tanto mais que nem pretendemos supprir as faltas que arguimos nos escriptores passados, nem mesmo dispôr materiaes para os futuros; que o nosso fim principal, senão unico, é entreter a curiosidade actual dos nossos benignos leitores, e nada mais.

APONTAMENTOS

PARA A

HISTORIA DO MARANHÃO.

LIVRO I.

Descobrimento da America e do Brazil-Primeiras tentativas para o descobrimento do Maranhão-Naufragios de Ayres da Cunha e de Luiz de Mello-Narrações de João de Barros e de Severim de Faria-Conjecturas sobre a epocha e logares destes naufragios, e sobre as forças da expedição de Ayres da Cunha-Erros dos antigos exploradores e dos seus chronistas-O novo mundo dividido entre os reis de Portugal e de Hespanha-Famosa bulla de partilha do papa Alexandre VI-Formulas singulares das doações de capitanias, e dos autos de posse.

Ao acaso foi em grande parte devido o descobrimento da America e do Brasil. Não quer isto dizer que Christovam Colombo discorresse à toa e de aventura pelos mares, quando pela primeira vez deu vista do vasto continente que hoje habitamos. É bem sabido que os seus immensos estudos, e sobretudo as inspirações do seu grande genio é que o determinaram a uma tentativa tanto mais arrojada e gloriosa, quanto era quasi geralmente reputada por mero sonho de uma imaginação exaltada. Não era porém

em busca do novo-mundo, nem sequer suspeitado, que Colombo partira dos portos de Hespanha, senão para se abrir um novo caminho ao oriente, com que escusasse as longas e trabalhosas derrotas então conhecidas ou tentadas; tanto assim, que ao avistar as nossas plagas suppoz que tinha diante de si o Cathay ou a India, engano em que algum tempo andou confirmado.

Quanto a Pedro Alvares Cabral, desse é que se póde afoutamente dizer que deveu o descobrimento do Brazil, não a proposito ou intenção deliberada que ti-. vesse de acha-lo, senão ao puro accidente de uma tempestade que o arrojou ás paragens que elle mesmo denominou-Porto Seguro-pelo abrigo que nellas encontrou.

Já alguns mezes antes delle, Vicente Yanes Pinçon, um dos companheiros de Colombo, segundo referem Berredo e outros, a quem segue, havia aportado ao Brazil, na altura do Cabo de Santo Agostinho, a que chamou da Consolação, onde desembarcou, repelliu alguns Tapuyas que o accommetteram, e para logo se tornou ao mar, deixando esculpidos n'algumas arvores o proprio nome, os dos reis a cujo serviço andava, bem como a data do successo. Seguindo depois ao norte, avistou o famoso Amazonas ou Maranhão, passou o cabo do Norte, e deu o seu nome a outro rio que mais avante descobriu. Entretanto Robertson, na sua Historia da America,, tractando do descobrimento de Cabral, diz que Pinçon se havia ape

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