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<vieram tres principaes do Parà, e de Cajeté a me pedirem licença para irem fazer guerra a uma nação a 400 leguas de «aqui, chamada Camarapi, sobre um rio chamado Pacajari.»

Logo que a náu Regente foi partida, que foi em oito de dezembro de 1612, no mez seguinte mandei ao Meari, rio aqui <visinho, quarenta francezes buscar aos tabajarés, nação de indios inimigos, que estavam 200 leguas de aqui sem haver delles alguma noticia. Nesta primeira viagem deixaram os meus dois indios nossos escravos na dita nação; os quaes, fi«cando no mato com mantimento para os irem a buscar, porém <feita a diligencia, se tornaram sem achar nada; e isto tenho advertido em outras Memorias minhas, que esta nação havia «sido muito maltratada dos outros nossos tupinambás; e final<mente depois de sete, ou oito mezes, havendo feito muito mais diligencia com quatro viagens, que alli fizeram que fizessem os francezes, deram com esta gente, e disseram logo que <havia duas castas delles desta mesma nação tabajarés, que «vivíam em guerra, e comíam uns a outros cruelmente; e como «se ajuntáram a mim, vivem hoje nesta ilha em paz, e todos juntos com os tupinambás naturaes, que antes de uns, e outros eram inimigos.»

Depois tendo aviso, que havia outra nação dos tabajarés «mesmos em um rio, que a sua barra é de aqui cem leguas, «mandei ao meu Lugar-Tenente General Monsieur de Pisiaux .com 35 francezes, os quaes acharam a dita nação mais de 200 leguas pelo rio acima, a qual se chama Vuarpi; e deixando <alguns francezes para os trazerem, vieram até ás terras de Comat, e serão desta parte em entrando as chuvas, porque já cos principaes estão commigo, e desta mesma tenho aviso de outra nação tapuya, chamados Igaran Vuanvā, que estavam «nas terras defronte de Pacuripanam, os quaes não desejam «mais, que chegar-se a nós outros pela noticia, que têm de <alguns escravos nossos de sua nação, os quaes lhes mandámos livres para que entendessem, que queriamos paz com todos

os naturaes; e sobre este aviso mandei com outros escravos alguns francezes com um lingua por nome o Mingáo, o qual ⚫os fez vir até ás terras de Pacuripanam, e estão hoje de paz, e «mistura com os tupinambás, e fazem roças de mantimentos, em toda a paz, e amizade com aquelles, com os quaes pouco antes <havia tal guerra, que se comiam uns a outros.»

Depois disto feito mandei Monsieur du Prat a um rio cha«mado Guajahug a 200 leguas de aqui com 30 francezes, e alguns escravos de uma Nação de tapuyas, que fica sobre este rio. A qual gente havendo navegado com imaginação certa de os achar, ou perto, ou longe, tanta diligencia fizeram até que os nossos linguas os descobriram,e lhes deram a entender como os quereriamos por amigos perto de nós outros; e assim os obrigaram a trabalhar em fazer canoas para se virem, e nas que ti*nham se embarcaram logo tres, ou quatro aldeas, e se vieram a esta ilha, e depois delles os demais com o dito senhor du Prat. O qual os trouxe aqui; com que me achei bem embaraçado pol'os accommodar, e sustentar juntos, que nunca quizeram dividir-se pelas aldeas dos outros, de medo de que os não comessem, como tinham de costume. Entonces me resolvi de lar. gar uma aldea, que tinha de minha gente a uma legua daqui, «e os mandei aposentar nella, fazendo sahir os meus; e lhes dei todas as roças de mandioca para seu sustento, e elles me prometteram fazer-me outras; e ainda que já por este anno é «tarde, será ao outro com o favor de Deus, se a terra nos fica como espero. De mais disto tenho mandado vinte e cinco fran«cezes com um dos meus escravos, principal de sua nação, a «buscar uma de tapuyas 250 leguas dentro do rio Pará, que «são em tanta quantidade, que me offerecem cem canoas grandes, como os principaes me têm promettido, aos quaes eu fallei em Parijop sobre a terra dos pacajazes, quando fui ás «Almazonas: aguardo por esta gente no mez de maio, se não «tiverem algum estorvo, esperando recado meu. Pois hãode «saber, que estão ja aqui os portuguezes. Os quaes se tardassem

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mais um ou dois annos, já tinha dado ordem, para que se ajuntassem aqui comnosco mais dez outras nações, que entre ellas ha uma sobre um rio da nossa bahia, que é maior nação, que toda a dos tupinambás.>

Não digo o numero das viagens, e caminhos, que tenho feito, ⚫e mandado fazer em estas terras, e rios pelos meus; nem digo da minha viagem, que quiz fazer ás Almazonas; porque ficou imperfeito pela vinda a esta terra de Martim Soares Moreno portuguez, que veio a descobrir estas terras, e bahias do Ma<ranhão no mez de agosto de 1613 de parte de Jeronymo d'Albu«querque, que em ella está presente, como parece em nossos artigos de paz. De mais disto tenho mandado fazer quatro fortes sobre as principaes partes, e portos desta ilha, donde em todos tenho artilharia, principalmente em este de S. Luiz, donde tenho muita quantidade: não ponho aqui minhas penas, «e trabalhos, e perdas que tenho corrido indo, e vindo 300 leguas desta costa dentro em uma canoa, atravessando as «barras, e bahias, e dobrando as pontas de todas ellas no tempo das brigas, nem fallo em tres crueis, e compridas enfermida«des, que me causáram estes trabalhos; porque quem quizer considerar tudo isto, e julgar com igualdade, rogará a Deus, que «o gratifique, e nos sustente em paz dentro no nosso mundo arctico. Feito no forte de S. Luiz no Maranhão a 29 de dezembro de 1614.

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«LA RAVARDIERE. »

Além das noticias do - Summario-o proprio Diogo de Campos colligiu outras, que posto que inexactas ou exageradas em parte, são dignas comtudo de vulgarisação. Ei-las:

Além destas informações, e papeis, vio o dito sargento-mór «as terras da ilha, e roças de algodão, de que os francezes tirão «algum proveito, e o tabaco, ou herva sancta, do qual fazem «quantidade com tão boa témpera, que val huma livra em

França hum escudo de ouro. Tambem vio a canafistola do <rio Meari, da qual levão a França quantidade em conserva, е «secca. Tambem vio as perolas, que Mons. de Pisiaus trouxe do rio Zouarpi, que são maiores, que grãos, e da feição de cabacinhas algumas, em que vio huma mui grossa. Tambem «trouxe Mons. de Pisiaus desta sua jornada enxofre mineral, o <qual asseguram que se não acha, senão donde ha minas de ouro, ou prata, e para isto fizerão vir de França na nau Regente hum capucho, grande mineiro, chamado F. Hivo, o qual «adoeceu de sorte na ilha do Maranhão, que não pôde ir ás Minas, antes por não perder a vida, se tornou a França.

O Cavalheiro de Rasilli da Ordem de S. João, e seu irmão Mons. de Lone, e o Senhor de la Blanjartière, e outros fidalgos aprendem, e fallão a lingua dos indios, obrigados de esperanças, que ninguem declara, e todos as confessão; e assim vão lançando mão de todas as miudezas, que achar podem, fazendo caso da tinta vermelha do orucú, e da outra mais fina chamada carajorú, e do páo amarello chamado tatajuba, e de <todas as madeiras, que de diversas côres achão para se poder fazer obra, ou tinta. Tambem no rio Meari tem descuberto sa«litre, com que já hoje refinão sua polvora, e isto de minas, e «terra salitrosa, que o dá em grande abundancia: tem da mesma maneira descuberto maravilhas naturaes de sal mui perfeito em quantidade, que podem carregar quantos navios «quizerem, o qual está 40 leguas do forte S. Luiz da outra banda da terra firme de loeste.

Tem estas terras muita almessega, de que se valem, muito, «e mui fino insenso, do qual ha huma especie de arvores, que <dão tanto, que bream com elle os navios, e canoas. Tem infi«nito oleo de copaiva em toda esta costa, de que os francezes «tirão a quinta-essencia para suas mesinhas, e fica como agoa. Tambem nestas partes dizem, que a temporadas acham muito ambar-gris, e o anno de mil e seiscentos e dez achou hum «francez, soldado de la Ravardière, por nome Mons. de Bault,

«na terra dos Pacajarés da banda do Pará duas pedras, huma ❝como hum ovo de pomba, outra menor: pela qual dizem, que dá El-Rei de Inglaterra vinte mil libras sterlings; huns dizem ser balaias, outros lhe dão differentes nomes.

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«As aves, e animaes silvestres desta terra são innumeraveis, e «estranhos, de que se toma grande abundancia para sustento das «gentes; e assim no mar, e nos rios são infinitas as sortes, e «quantidades de peixes, os quaes se tomão ás mãos muitas vezes, «e ás pancadas, e de peixes bois, cuja carne he como de vacca, da mesma côr, sabor, e cheiro, e hc tão abundante este sitio, «que só de hum rio tinhão os francezes tirado duzentos e cin<coenta; e com estas, e outras coisas que vio, e entendeo o dito «Diogo de Campos se partio do forte S. Luiz a 4 de janeiro de «mil e seiscentos e quinze, trazendo comsigo ao capitão Matheu Maillart francez, com o oval para refem, e testemunho do que «dito fica, se apresentou diante do Senhor Arcebispo Vice-Rei <de Portugal em 5 de março do dito anno, sendo o primeiro «portuguez, que do Maranhão em direitura veio a Lisboa.de <«tantos, quantos intentarão aquella empreza, do que a Deos «sejão dados eternos louvores.»

NOTA C-PAGS. 189 E 247

Nem por isso são muito vulgares na nossa provincia as noticias sobre a origem, conformação physica, indole, e costumes dos antigos habitadores do Brazil; pelo que julgamos fazer algum serviço vertendo em portuguez não só o interessante trabalho de Fernão Denis, a que nos referimos no texto, senão a carta que Pero Vaz de Caminha, companheiro de Pedr❜alves Cabral, escreveu a el-rei D. Manoel, dando-lhe noticia do descobrimento da terra de Sancta Cruz.

Empregamos o termo traduzir, mesmo em relação a esta

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