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Sn. intendente que, em carta dirigida á imprensa, profligava todos esses atrazos e extorsões por parte do governo municipal.

Não obstante, o povo supportou paciente todas essas prepotencias e arbitrariedades, inclusive a collocação obrigatoria de penas d'gua em suas casas, na supposição de que esse emprehendimento colossal seria o remedio efficaz á flagellação periodica que nos torturava pela escassez d'agua. Puro engano! E, por nosso mal, sómente agora é que comprehende a illusão de que foi victima....

A verdade é que não temos agua, já não diremos abundante, como era de esperar e seria um ideal, para inundar os esgotos, lavar as ruas, sanear as casas, mais para satisfazer as proprias necessidades dos habitantes. Entretanto, todas as nascentes facilmente captaveis parece estarem captadas, e sabe-se que esse artigo de primeira ordem existe nos mananciaes do municipio e nos vastos reservatorios de ha muito concluidos.

E' o caso, portanto, de indagarmos do sr. intendente, pois outro não é o nosso intuito senão dar largas a uma explicação ao publico, afim de se ter noticia da administração local, o motivo porque não temos agua.

A população sente-se oppressa e inquieta, vendo a agua minguar nos encanamentos de modo assustador. E se em plena primavera é mesquinho o supprimento desse liquido, que será na estação calmosa, onde o consumo cresce de 30 % sobre a média, quando falharem ás excellentes condições atmosphericas e augmentarem as necessidades creadas pelos costumes e pelas exigencias do clima?!

Realmente é muito doloroso que depois de havermos despendido tanto dinheiro, compromettido gravemente as finanças municipaes, gravado de modo iniquo o pobre consumidor, tenhamos de curtir a secca, que tem intimas relações com a immundicie e esta com a insalubridade.

Si nos permittem e promettem não levar a mal a

nossa justa curiosidade, é o caso de inquirirmos ao sr. intendente ácerca das providencias que tem dado para evitar os effeitos de uma calamidade, de que conservamos bem triste recordação.

Por ora, ao que nos consta, o chefe do poder exe. cutivo municipal limitou-se a officiar á digna direcção da Companhia Progresso Industrial, avisando de que precisa de agua e, para não encontrar difficuldades, assegura indemnisal-a dos prejuizos.

Estamos, por conseguinte, na mesma situação de antanho e de sempre; a questão continúa insolvente; é a historia eterna que se repete.

Gastamos muito dinheiro, oberamos o erario municipal de serios compromissos, gravamos iniquamente o consumidor, peioramos a sorte dos proprietarios, e afinal continuamos na mesma pendanga, a supplicar cada anno os favores de uma companhia particular para que salve a população de um flagello na estação estival.

Mas, então, que fim levaram os dinheros publicos; que noticias nos dão do serviço de abastecimento d'agua; que applicação teve o emprestimo municipal contrahido especialmente para fins determinados?

Temos agua nos reservatorios, annunciam; mas ninguem, ou poucos, a recebem no domicilio. E' o suplicio de Tantalo que soffremos.

Ora, para deixar insolvente a magna questão d’agua, facilitando a propagação do desasseio, da sêde, das pestes, com a oppressão tributaria do pobre consumidor, não precisavamos emprehender tão audaz commettimento, sacrificando além do mais as finanças do municipio.

I

A' vista do artigo de redacção que serve de prologo a este livro, dirigi ao Ex.mo Snr. Dr. Guilherme Muniz a seguinte carta que S. Ex.a fez publicar, em parte, mas que aqui devo dar na sua integra:

<< Bahia, 13 de Outubro de 1910

Ill.mo e Ex.mo Snr. Dr. Guilherme Muniz.

Acabo de ler o artigo de redacção do « Diario de Noticias» de que é V. Ex.a um dos redactores, referente á crise do abastecimento d'agua e subordinado ao titulo-<< A questão d'agua ».

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<< Pela parte, que me toca, acudo ao appello de V. Ex., prompto, como estou a dar as informações e dados que forem mister para a eíucidação da materia, com toda a isempção de animo e com a devida justiça. Como não desejo alongar esta carta, aqui passo a dizer, em substancia, o seguinte de referencia a essa questão d'agua.

<< Entreguei ao Municipio as obras do novo abastecimento d'agua, a 27 de Novembro do anno passado, e já agora nenhuma responsabilidade me cabe por esse serviço.

<< Ignoro por que motivo se não faz com a devida regularidade a distribuição d'agua na cidade; o que, porém, affirmo é que, a despeito de se ter mandado esvasiar por metade a grande represa do Pituassù, ha ainda muita agua nas outras represas do serviÇo novo.

« Affirmo, e já é tempo de fazel-o desassombradamente, que o projecto de abastecimento de agua do meu contracto como Municipio foi por mim executado; foi provado bom e como tal foi recebido.

« Affirmo que a reforma do serviço antigo, ora concentrado na estação de bombas do Retiro, si já não está concluida, o que aliás não prejudica o funccionamento regular dessa estação, deve-se o ao Municipio pela demora com que tem fornecido os respectivos materiaes, pelo retardamento excessivo nos pagamentos, pela morosa decisão no adquirir os terrenos indispensaveis ao alargamento dessa estação.

« Affirmo que a distribuição d'agua na cidade nunca esteve em minhas mãos, nem mesmo para se fazer a separação das tres zonas em que o meu projecto a dividia, sendo esse serviço exclusivamente effectuado pela Secção de Aguas, a cargo do Snr. Dr. Francisco Souza, auxiliado pelo Snr. Gustavo Rocha.

<< Affirmo que já me offereci pessoalmente para regularisar o serviço de agua, sob a condição, porém, de o fazer com o pessoal da minha confiança, e que isso foi recusado.

« Affirmo mais que a organisação desse serviço, como a mantém hoje o Municipio, não pode ser mais imperfeita; que já representei contra isso ao Exmo. Snr. conselheiro Carneiro da Rocha, intendente municipal, fazendo-o verbalmente uma vez, e reiterando-o por officio que lhe dirigi a 10 de Janeiro de 1910.

« Juncto remetto á V. Ex.a o folheto que ora começo a distribuir e que diz respeito ao abastecimento d'agua desta cidade. Leia-o V. Ex.a e ahi encontrará os dados de que precisa para esclarecer a questão e depois, si entender conveniente levar mais longe, procure V. Ex.a visitar as obras da Bolandeira para certificar-se si o problema da agua foi ou não resolvido, como eu o affirmo.

<< Com toda a consideração sou de V. Ex.a

Cr.do att. e obrg.do
Theodoro Sampaio

No dia 15 de Outubro publicou o « Diario de Noticias », sob o titulo--Supplicio de Tantalo-o artigo seguinte, com o sub titulo:

Informações do contractante Correspondendo ao appello que dirigimos aos altos representantes do governo da cidade, « a vêr se conseguimos incutir em seu espirito o sentimento da urgencia de uma medida energica, efficaz, immediata, que nos garanta o aprovisionamento de agua na cidade durante os proximos mezes de verão », endereçou-nos o illustrado Dr. Theodoro Sampaio a seguite carta, cuja leitura offerecemos á apreciação do publico, préviamente auto:isados.

Ainda bem que o contractante das obras de abastecimento de agua a esta capital, comprehendendo a responsabilidade que lhe cabia pela imperfeição do serviço, mostra-se disposto e prompto, « quanto á parte que lhe toca nessa importante questão, a prestar ao publico todas as informações e dados que forem mistér para a elucidação da materia, com toda a isenção de animo e com a devida justiça ».

Outrotanto não podemos dizer do Snr. intendente que até ao presente ainda se não dignou de esclarecer o publico ácerca das providencias que tem alvitrado, para livrar-nos de um flagello a mais, precisamente numa época em que os depositarios do poder publico devem, mais do que nunca, empregar todos os esforços para conjurarem os males que tanto affligem a população paciente desta capital, já trabalhada por innumeros soffrimentos e agora mesmo ameaçada de novo perigo, de consequencias im. previsiveis.

Não é possive! que o administrador da cidade tenha como assumpto de menor monta a saúde publica, de cuja excellente conservação é factor poderoso a agua copiosa, boa, exuberante. Nestas condições, ao Snr. intendente recommendamos, de preferencia, a leitura dos seguintes trechos da carta a que acima nos referimos, que aliás é longa, mas, em substancia, reza o seguinte:

E, transcrevendo os trechos, em affirmativa, daquella carta supra, prosegue:

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