Eis aqui está como o contractante das obras de abastecimento de agua livra a sua testada quanto á actual distribuição desse precioso liquido á população desta capital. Que dirá a tudo isso o sr. intendente do municipio? Que conceito emittirá esse administrador ácerca das informações que ao publico presta o contractante das obras de abastecimento de agua? Como responderá s. ex. ás arguições que ahi ficam, atiradas com tanta convicção á luz da publicidade pelo sr. dr. Theodoro Sampaio? Será possivel que o sr. intendente relegue como assumpto de nonada a importantissimas questão do abastecimento de agua á cidade do Salvador? Será crivel que o nosso admidistrador recuse a sua intervenção directa para a perfeita solução de uma materia tão relevante, continuando a deixar o assumpto ás correntes de ininfluencias mais ou menos interesseiras que tantas vezes levam ás peiores conquencias as difficuldades mais serias, as mais graves necessidades populares? Por que razão não tem accedido aos pedidos instantes do contractante das obras ? Que motivos o levam a proceder deste modo? Parece-nos que o publico tem o direito de ser informado dos negocios da administração, que envolvem os interesses de toda a collectividade. Na situação critica em que nos achamos, não é admissivel que o sr. intendente se despreocupe da saúde publica, deixando ao abandono, além do mais, o patrimonio do Municipio, cujo valor se mede pela somma de sacrificios que nos tem custado tão audaz emprehendimento. Desde o dia 1o do corrente mez fornece-nos a Companhia Progresso Industrial oito milhões de litros de agua, diariamente, do açude de Campinas para o Camurugipe, segundo nos consta, acarretando não pequena despeza ao erario municipal; e, não obstante, a pcpulação soffre falta de agua... Por sua vez, assegura o sr. dr. Theodoro Sampaio, confirmando o nosso asserto, que ha muita agua nos mandou reservatorios do municipio, e tanta que se esvasiar por metade a grande represa do Pituassú, » No emtanto, a população não recebe agua, como era de esperar, nos seus respectivos domicilios, e por cuja obtenção paga á bccca do cofre a quantiosa somma de...... 144 000 annualmente!... E' ou não o supplicio de Tantalo que soffremos? II Pelo "Jornal de Noticias" de 17 de Outubro, veiu o Snr. Dr. Francisco Sousa, chefe interino da Repartição de Aguas, contestando algumas das affirmatitivas da minha carta de 13, á redacção do "Diario". Dei resposta a S. S. pelo mesmo " Diario de Noticias,' a 18, nos seguintes termos: Quem leu hontem o Dr. Francisco Sousa, engenheiro do Serviço d'agua, explicando-se diante das affirmações categoricas que fiz, por carta ao Dr. Guilherme Muniz, a proposito desta questão de agua, viu que o sr. engenheiro procurou rebater-me e o não conseguiu. O sr. engenheiro que, ao que consta, é um bom mathematico, começou a sua explicação por um vicio de logica; começou por attribuir-me o que eu não disse. Nas minhas affirmações publicadas no Diario de Noticias de 15 do corrente, em artigo da redacção, disse textualmente: «entreguei ao Municipio, as obras do novo abastecimento d'agua a 27 de Novembro do anno passado e já agora nenhuma responsabilidade me cabe por esse serviço ». O sr. Dr. Souza, porém, me faz dizer nas suas explicações, e para aqui transcrevo as suas palavras: «Disse o sr. engenheiro contractante que em 27 de Novembro proximo passado entregou ao Municipio todas as obras do novo abastecimento. » Disse eu precisamente isso? As duas proposições, perante a logica, são eguaes? Não preciso insistir. O vicio de logica é aqui tão patente que basta apontal-o, dispensando-me de combatel-o. A minha affirmação porém fica de pé, incoiume, porque o que affirmei é a verdade provada e testemunhada. Da entrega do serviço novo se lavrou termo naquelle dia, na Bolandeira, termo que foi assignado pelas partes contractantes e pelas pessoas presentes, que tambem o assignaram como testemunhas. Da entrega feita nesse dia não se excluiram senão cousas de detalhes, insignificantes, porque se fossem de alcance maior, estou certo e faço essa justiça ao Sr. Dr. Sousa, S. S. não assignaria aquelle termo. Disse eu que já agcra nenhuma responsabilidade me cabe por esse serviço, e o affirmo apoiado no contracto que me dá esse direito. O economisador, apparelho por S. S. então excluido da entrega, por carecer de ligeiro reparo, já não está restaurado porque o trabalho das bombas da Bolandeira não tem podido parar. Sein que se esfriem as respectivas caldeiras impossivel é qualquer reparo nesse apparelho. Passaram-se seis mezes depois da entrega, os seis mezes da minha responsabilidade, segundo o contracto, e durante esse tempo o Municipio não providenciou como no caso cabia. O Dr Francisco Sousa deu como excluidos de entrega os encanamentos de distribuição. Excluidos, porém, para que effeito? A entrega que se fazia por termo era do serviço novo. Os encanamentos de distribuição eram e são, porém, do serviço antigo, encanamentos cuja rêde se ampliou e que sempre estiveram, depois da encampação, entregues ao Municipio, e que hontem como hoje os explora, novos e velhos, no serviço de distribuição d'agua da cidade. A que vinha pois o recebimento naquelle dia, se a repartição municipal já delles estava de posse e os explorava? Referiu-se tambem o Snr. Dr. Francisco Sousa aos trabalhos de ampliação da estação do Retiro, como excluidos, daquella entrega. Não lhe disse o contrario tambem. Affirmei até que esses trabalhos, si já não estavam concluidos, devia-se-o ao Municipio pela demora no fornecimento dos materiaes, pelo retardamento excessivo nos pagamentos, pela morosa decisão no adquirir os terrenos indispensa veis ao alargamento dessa estação. S. S. não poude, nem poderá destruir essa minha affirmação tão categorica. Das outras affirmações minhas, que S. S. tambem não poude destruir, resalta porém a explicação que S. S. dá para o esvasiamento por metade da represa do Pituassú, e dil-o que o autorisou porque se tornou preciso tomar um vasamento que ameaçava a parede dessa represa. Perdoe-me o distincto collega, a razão por S. S. allegada não justifica o passo errado que deu. Essa represa estava cheia a transbordar, e desde que encheu que se manifestou na margem direita della um pequeno vasamento que não interessava á parede, mas ao morro em que essa parede se apoia, vasammento causado por um formigueiro que dava sahida a agua por baixo do sangradouro Para se vedar essa sahida não precisava fazer-se mais do que o que mandei de S. Paulo, onde então me achava, se fizesse, isto é, cavar no sangradouro um sulco tão profundo quanto bastasse para attingir a veia liquida, e, isso conseguido, enchel-o com concreto, não carecendo para isso de esvasiar-se a represa. Realisada a obra segundo essas indicações, verificou-se a minha previsão. A veia liquida ficava apenas a uns sessenta centimetros abaixo do solo, isto é abaixo do fundo do sangradouro e, portanto, para vedal-a, escusava esgotar tão grande volume d'agua quanto se perdeu. As explicações dadas por S. S. para justificar a minha não intervenção na separação das zonas em que, segundo o meu projecto, se dividia a rêde de distribuição, não colhem. Não é o facto material de abrir ou fechar registros nesta ou naquella rua, que importa salientar como comesinho ou insignificante; não é esse o verdadeiro alcance do facto, o alcance é moral. A responsabilidade disso devia caber a quem projectou e não a outrem. O proprio Municipio é quem devia exigir isso |