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III

A 17 de Outubro, a redacção do « Diario de Noticias » voltou a campo com o artigo sob o titulo-Silencio Condemnavel, em que concitava o representante do governo municipal a explicar-se perante o publico, na momentosa questão d'agua.

Estranhava o silencio mantido, até ali, pelo Exmo. Snr. Cons. Intendente e ajunctava:

<< Esse silencio é tanto mais condemnavel quanto Snr. Governador da cidade é um cidadão que gosta de viver ás claras e prestar contas de seus actos », e sempre acóde pressuroso aos reclamos da imprensal para dar as explicações que julga do seu dever ministrar ao publico. »

S. Ex.a, com effeito, acodiu ao appello que assim lhe fazia a illustre redacção e, pelas columnas da << Gazeta do Povo », veiu, a 19, prestar os seus exclarecimentos e tambem fazer o seu ataque ás minhas affirmativas constantes da carta de 13, já citada.

Respondi a S. Ex.a, ponto por ponto, no seus ataques e contradictas, publicando no mesmo Diario, a 10, o primeiro artigo de uma serie que assim

começa:

Pela Gazeta do Povo de hontem veiu S. Ex.a, o Sr. Conselheiro Carneiro da Rocha, trazer o seu depoimento, como Intendente Municipal. nesta momentosa questão d'agua.

O depoimento é uma defeza e uma aggressão. Não tratarei da defeza bôa ou má por S. Ex.a apresentada; tratarei tão somente da parte aggressiva que me diz respeito e que me cumpre rebater, não obstante o respeito que tributo a S. Ex.a em quem muito louvo empenho de se manter « na estacada para responder ás interpellações que se lhe fazem, pois que, como diz, continúa a querer viver ás claras.

Começa S. Exa. por felicitar-me ao ver-me recebido e çonsiderado pelo Diario de Noticias, o mesmo que, mezes antes, sustentava campanha contra mim. e me considerava um sugador dos dinheiros municipaes e titular de um contracto escandaloso, limitando-se S. Exa, a registrar o facto sem qnerer prescrutar os motivos que determinaram tão repentina e profunda alteração.

Não se admire S. Exa. da evolução que no espirito publico se vem fazendo em meu beneficio. Quando Deus tarda, diz o proloquio, vem no caminho. Essa evolução faz-se devagar, mas hade se completar e firmar porque, Exmo. Senhor, a verdade e a justiça. têm prestigio para muito mais do que isso de que V. Ex.a tanto se admira. Essa evolução hade ir até a V. Ex.a eu o espero, uma vez que, como o declara no final da sua defesa, S. Ex.a não tem paixões, nem preconceitos, nem prevenções.

A carta que enderecei ao Senhor Dr. Guilherme Moniz, por este publicada em parte, no seu bello editorial de 15 do corrente do Diario, carta, que V. Ex.a mostra desejos de conhecer a integra, é documento que está ao alcance de todos. Basta que o des. tinatario a queira exhibir, pois que lhe dei autorisação para della fazer o uso que lhe conviesse.

Nesta materia do saneamento, o meu desassombro é tanto, Exmo. Sr., que não tenho reservas, porque não tenho o que temer; possúo bastante hombriedade para dizer bem alto o que sinto e o que penso, e, mercê de Deus, não me dóe a consciencia por uma falta commettida ou pelo dever não cumprido.

Diz V. Ex.a que essa minha carta contem inexa

ctidões e até perfidia. As inexactidões discutil-as-emos mais de espaço; a perfidia, essa não, pomol-a já daqui para fóra com esse movimento brusco e instinctivo de quem repelle nma brasa que queima.

A perfidia, Exmo. Senhor, é o apanagio dos caracteres fracos. dos que não têm a coragem moral de enfrentar o dever, custe o que custar, sejam quaes forem as consequencias. Ora, V. Ex.a já tem tratado commigo o bastante para ter verificado que não sou homem de perfidias. Ouça-me V. Ex.: No dia em que uma queixa se me tornar precisa, vou procurar V. Ex.a para me queixar de V. Ex.a, e fal-o-ei imperturbavelmente, certo de que estou praticando a coisa mais comesinha deste mundo.

Portanto, fóra com a perfidia. E' coisa a que se não deve alludir numa discussão entre cavalheiros. Passemos ás inexactidões que me attribue.

Bôa parte dellas já foram por mim explanadas nas respostas ao Snr. Dr. Francisco Sousa, e ahi deixei plenamente provado que não são inexactidões, como V. Ex.a as qualifica, mas affirmações muito verdadeiras e categoricas.

Uma dellas é a que diz respeito á entrega das obras do novo abastecimento, a 27 de Novembro de 1909, obras que V. Ex.a, no seu depoimento, confunde com as de reforma do serviço antigo, já porque não leu o meu relatorio, já porque os engenheiros, prepostos de V. Ex.a, h'o não explicaram devldamente. A outra é a que diz respeito á represa do Pituassú, mandada esvasiar por metade, sob pretexto de se concertar pequeno vasamento numa de suas margens, cousa que se podia conseguir sem lançar mão daquella medida extrema, que foi positivamente um passo errado da administração, como já o demonstrei na resposta ao Dr. Sousa.

Um ponto do depoimento de V. Ex.a me interessa tanto que não devo deixal-o sem reparo e é aquelle em que V. Ex.a pergunta: « O que poderia eu fazer mais para corrigir defeitos do projecto e da sua execução, quando não fui eu quem fez o contracto com o

Snr. Dr. Theodoro Sampaio e esse contracto não me arma de certo poder?»

Ora, ahi temos o Exmo. Snr. Cons. Carneiro fazendo-se de cordeiro diante do lobo. Não lhe salva porém, aqui, Exmo. Snr., o nondum natus eram do timido animalejo. Que faziam os engenheiros fiscaes do Municipio, quando estudaram os meus planos, e quando fiscalisaram a execução delles ?!

Diz V. Ex.a que resistiu a insinuações sem conta para levar a effeito a rescisão do contracto malsinado. Folgo immenso em sabel-o, tanto mais quanto certo estou de que V. Ex.a sempre tentou alguma cousa, senão no sentido da rescisão, mas no sentido da mutilação delle. Deve recordar-se V. Ex.a de que me tirou violentamente o transporte de materiaes, que é do meu contracto, para dal-o a José Dias Lopes, hoje fallecido, e só parou na violencia diante da manutenção de posse que me concedeu um juiz integro e independente.

Esse incidente, em que é protogonista José Dias Lopes, é, porém, tão interessante que eu voltarei a elle.

Outro ponto não menos importante do depoimento de V. Exa, é o que diz respeito aos juros da mora nos pagamentos em atraso.

Sangra-se V. Exa, na veia da saúde, mas para que? Para não dizer a verdade inteira?

Não, Exmo. Senhor, os pagamentos, a despeito das disposições contractuaes, sempre demorados, alguns até com mais de dous annus, nunca se fizeram com pagamento de juros de mora.

contas

Nunca apresentei ao Municipio conta desses juros. Só agora, nos ultimos mezes, é que o Municipio, deliberando pagar-me por meio de lettras atrasadas de quasi um anno, ajuntou os juros da mora, mas isso somente em algumas lettras e não em todas.

Falou V. Exa, dos tanques da Cruz do Cosme; mas fel-o por forma tão confusa que não sei o que responder. Acho melhor que V. Exa, deixe isso ao Sr.

engenheiro Francisco Sousa, a quem passo a responder. (1)

O Sr engenheiro fiscal increpou-me de imperfeição nos tanques metalicos e nos conductos distribuidores, eu, porém o increpo e fortemente na falta de direcção do serviço, de desordem e abandono por parte de seu pessoal.

Vamos a um exemplo, que tem por si o cunho de authenticidade por me ter sido narrado pelo ex-auxiliar de S. S.

Em um dia de festa, destas que o nosso povo não perde, foi o Snr. Dr. Carlos Sousa, muito cedo pela manhã, visitar a estação de bombas do Queimado. S. S., na fórma do costume, não se fez annunciar previamente e por isso é que, lá chegando, não encontrou ninguem no seu posto. Accendeu uma das caldeiras com as suas proprias mãos; fez vapor, e só depois disso é que começaram a chegar os atardados empregados, e entre estes o chefe que, interpellado, se escusou, dizendo que, como o dia era sanctificado, tinha ido primeiro ouvir sua missa! A consequencia disso foi que a agua faltou na cidade inteira, e os bondes e as fabricas deixaram de funccionar por muitas horas.

(1) Pelo Jornal de Noticias de 17 veiu o Snr. Dr. Francisco Sousa, procurando tirar de si as responsabilidades do mau serviço de distribuição d'agua na cidade, e increpando-me de faltas e defeitos no projecto executado, maximé nos reservatorios metalicos e na rede do encanamentos distribuidores (parte nova). O Snr. engenheiro chefe da Repartição de Aguas aproveita então o ensejo para explicar porque deixou o Municipio de receber o novo serviço d'agua, in totum, para recebel-o por partes; dà as razões porque mandou esvasiar a represa do Pituassù, para concertar um vasamento; e busca justificar-se dos trabalhos que tomou a si para fazer a separação das tres zonas de distribui ção na rede da cidade, promettendo voltar mais tarde para tratar do assumpto em todos os os seus detalhes, e dizer como està a agir para a regularisação das pennas d'agua a domicilio.

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