digno redactor do «Diario de Noticias» e autor do citado artigo, carta que S. Ex.a, no dia 15, fez publicar, nos seus pontos substanciaes, em outro artigo de redacção sob o titulo-Supplicio de Tandalo e que, por sua vez, deu logar á contra-dicta do Snr. Dr. Francisco de Sousa pelo Jornal de Noticias » de 17 e á do Ex.mo Snr. Cons. Antonio Carneiro da Rocha, Intendente Municipal, pela «Gazeta do Povo » de 19 do mesmo mez. Dahi a polemica que se seguiu. Os artigos, que então escrevi e agora aqui estão reunidos, importam para mim, em verdade, n'uma reivindicação. Por mais de quatro annos se procurou fazer e entreter, no meio bahiano, uma opinião desfavoravel ao saneamento da cidade e ao respectivo contracto de 19 de Maio de 1905 e, principalmente, contra o serviço do novo abastecimento d'agua, serviço que, aliás, havia já um anno, eu entregara ao Municipio, após as respectivas provas indispensaveis em taes casos. O que, desde então se escrevera na imprensa contra mim e contra o saneamento, tinha já o caracter de uma empreitada de demolição. No publico, entrara já uma tal ou qual convicção de que o grande culpado de tantos gastos improficuos e de tantos esforços empregados em pura perda era eu. Vinham de mim os males de que se queixava o povo, tormentado pela falta d'agua, que se distribuia mal e escassa, mas que, não obstante, se cobrava caro. O grande criminoso era eu que ainda, por cumulo de meus males, não me defendia das accusações que se me faziam, ou quando me movia a fazel-o, vinha á imprensa em attitude tão moderada e tão prudente que até despertava suspeitas de estar eu realmente em faltas pois que, como se sabe, ao culpado não é dada a eloquencía do innocente. Enganavam-se, porem, os que assim me julgavam. Fui paciente e cordeiro por deliberação propria, firmemente tomanda e mantida durante quatro longos annos; pois que sempre pensei que a victorta final me havia de caber infallivelmente, uma vez que sempre procurèi agir mais por factos que por palavras:— res non verba. Esperei a prova dos factos. Essa prova veiu e me veiu favoravel. Ha já um anno que se fizeram exames e provas dos trabalhos d'agua que projectei e executei, por conta do Municipio, terminando isso pela acceitação definitiva por parte dos senhores engenheiros fiscaes, os quaes até são meus desaffectos. Por isso é que disse e repito: «que o projecto de abastecimento d'agua do meu contracto com o municipio, por mim executado, foi provado bom e como tal recebido. >> Agora, depois de entregue, ha já um anno, esse serviço, se manifestaram nelle irregularidades e desmanchos. Não se procurou explicar o facto por uma impericia qualquer ou descaso por parte do pessoal do Municipio. Não, senhor. Foi-se, na forma do costume, procurar-se o responsavel na pessoa do auctor e empreiteiro da obra, cuja responsabilidade legal expirara já, havia quasi seis mezes. Sim, era elle, ainda e sempre, quem devia responder pelos desmanchos de um serviço que a desidia e até a malignidade do funcccionalismo municipal tinham feito avultar até ao escandalo. Os artigos, que se seguem, põem isso em relevo e são, na especie, a um tempo, um protesto e uma reivindicação de minha parte. Como reivindicação fiz ajunctar, ao fim, os artigos que logo em seguida escrevi, pelo mesmo « Diario de Noticias », sob o titulo-Maternidade, a proposito do procedimento incorrecto do Snr. Dr. João Pereira Novarro de Andrade, engenheiro que me substituiu na construcção dos edificios da Faculdade de Medicina e no daquella utilississima instituição, ha pouco inaugurada. Ha entre todas essas reivindicações certa affinidade que as une e por isso é que tambem reuni aqui aquelles artigos que ultimamente andei a escrever contra o agronomo Pedro Jayme David. empregado municipal, que de longa data collaborou nos ataques anonymos contra mim e que, ha pouco, veiu tirando a mascara, reivindicar glorias que, por isso, lhe cabiam. Theodoro Sampaio Bahia, 28 de Novembro de 1910 PROLOGO Como prologo deste livro, nada tenho de mais adequado do que o artigo de redacção do Diario de Noticias de 13 de Outubro passado, escripto pelo Exmo. Snr. Dr. Guilherme Moniz. Eis o artigo: A QUESTÃO D'AGUA São constantes, são diarias, podemos dizer, as queixas e reclamações que chegam ao nosso conhecimento, para as transmittir ao poder competente, contra o serviço de abastecimento d'agua á população dasta cidade. Por vezes temos calado muitos desses pedidos de que, reitiradamente, nos tornam portadores os infelizes consumidores desse precioso liquido, por que nos não attribuam o maligno proposito de importunar os responsaveis pela direcção desse importante ramc da administração publica municipal, que nem sempre acolhem de animo desprevenido e calmo os reclamos da imprensa, ou, quando promettem escutal-os, nem por isso remedeiam o mal de que todos nos queixamos, Mas, não querendo prolongar por mais tempo o nosso silencio, que póde ser mal interpretado pelos malevolos, decidimo-nos a appelar para os altos representantes do governo da cidade a vêr se conseguimos incutir em seu espirito o sentimento da urgencia de uma medida energica, efficaz, immediata, que nos garanta o aprovisionamento d'agua na cidade durante os proximos mezes de verão. Não ha assumpto mais importante que melhor deva interessar a administração municipal do que o da distribuição d'agua a esta capital. Questão de alta relevancia que envolve elementos muito complexos, de ordem local e geral, não pode o chefe do poder executivo municipal renunciar ao seu dever de cuidar seriamente dessa materia administrativa, consoante o exigem os respeitaveis interesses da população confiada aos seus desvelos. Já não se trata simplesmente de desalterar o povo, aliviando-lhe supplicio da sêde, importa sobretudo zelar pela salubridade publica, pois é sabido que a agua copiosa, exuberante, constitue o factor mais poderoso para melhorar o estado sanitario de uma localidade. Numa cidade como esta, cheia de viellas, betesgas e azinhagas, onde não ha esgotcs, onde não ha um serviço regular de asseio, nem hygiene, e onde a peste, a variola, a febre amarella e quejandas epidemas estabeleceram francamente o seu dominio, tornando-se endemicas, privar os seus habitantes desse artigo essencial de nutrição e hygiene, ou distribuil-o á ração e portamina, é augmentar a reputação triste que tanto desalama esta terra digna de melhor sorte, entorpecendo-lhe o progresso. Pretendendo conjurar os effeitos da calamidade que numa intercadencia dolorosa tanto nos flagellava, resolveu a administração, que por ultimo dirigiu os destinos deste municipio, adquirir a antiga Companhia do Queimado, cuja direcção particular não provara bem, afm de dotar esta cidade de um regular serviço de aguas na altura de suas imperiosas neces sidades. Nesse proposito contrahiu-se um grande emprestimo, e municipalisamos esse serviço, entregando-o ao dominino do governo local. E para fazer face ao compromisso, superior ás finanças do municipio, augmentou-se exageradamente a taxa d'agua, tornouse o proprietario do predio responsavel por seu pagamento e privilegiou-se o debito com o processo executivo, ao contrario do modo de pensar do actual |