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Foi exactamente o caso das obras da Faculdade de Medicina desta cidade.

Organisado o projeto definitivo dos novos edificios e orçadas as respectivas despezas, metteu-se não ás obras. Queria o ministro, que então era o illustre D. José Joaquim Seabra, que tudo se fizesse rapidamente, deniro de seis mezes, se fosse possivel, <que assim, me dizia elle, não ha de faltar recurso emquanto eu aqui estiver».

Tão grandes obras em seis mezes, dependendo a construcção de edificio incombustivel de material europeu a importar, era porém, um tour de force.

Não foi possivel satisfazer ao ministro, que, pezaroso, teve de retrar-se do governo sem concluir a sua obra.

Começaram dahi as difficuldades. Governo novo, idéas novas.

No Brasil. vae se mais longe... requer se gente nova, a gente do peito.

O orçamento espichado e bem espichado para poder caber quantidade enorme de obras accrescidas, como sejam demolição dos velhos edificios incendiad›s, demolições de quatorze predios desappropriados, remoção de entulhos, regularisação do terreno, construcção de dois pavilhões a mais para machinas e apparelhos electricos e para o almoxarifado, reparos no edificio antigo, outros e outros serviços accrescidos, esse orçamento, digo, não podia dar mais para os novos edificios a que exclusivamente se destinava.

O governo novo do Dr. Affonso Penna não tinha amores pelo Dr. Alfredo Britto e quiz alijalo da direcção da Faculdade. O Dr. Britto, porém, contemporisou, infelizmente, e dahi todos os desastres que se seguiram.

Era preciso não exceder o orçamento e o supprimento que se pedira, e que o Congresso ainda não concedera, trazia difficuldades sem conta.

Figuram-se então varias hypotheses em relação ás obras por concluir. Cortavam-se umas, alargavam

se outras; supprimia-se aqui; ajuntava-se alli. Era preciso poupar, porque exigiam-se economias....., as taes economias de que só se lembram os governos quando se tracta de desaffectos.

Aqui está a razão primeira, Sr. Dr. Navarro, da existencia de mais de um orçamento para as obras da Faculdade.

Agora vejam os leitores como a cousa mudou, retirado o engenheiro, que isto subscreve, para ser substituido pelo Dr. João Pereira Navarro de Andrade O ministro do Sr. Penna foi todo liberalidades.

Deu autonomia a Navarro para fazer o que entendesse, sem se embaraçar com a directoria da Escola a quem não ouvia e a quem não devia prestar contas. Foi uma maravilha e maravilha ficou até hoje como cousa que deslumbra e não se comprehende

Vejamos agora os esgotos de São Paulo, entupidos e estragades, obra que o Dr. Navarro diz que foi a causa da minha retirada d'alli.

Isso, porém, é cousa que se liquida rapido. S. Paulo não está nos antipodas.

Proponho um repto ao Dr Navarro que, estou certo, acceitará.

-Telegraphe para alli ao Dr. Antonio Candido Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, engenheiro distincto e nobilissimo caracter que, ao tempo, era o secretario das Obras Publicas, em S. Paulo.

-Telegraphe ao Dr. José Ricardo Moreira de Barros, chefe de secção, que trabalhou sob as minhas ordens na restauração daquelles esgotos e que ainda agora occupa o mesmo cargo na repartição do saneamento.

Pergunte-lhes quem restaurou, quem salvou a rêde de esgotos da cidade de S. Paulo, na parte nova. Pagarei os telegrammas, si assim o preferir o Dr. Navarro.

Esgotos entupidos!!

Entupido está o Dr. Navarro, até que se explique da gestão financeira das obras da Faculdade e das do Correio interminavel, esse sorvedouro que ali, na

cidade baixa emperrou nas fundações. Entupido está o Dr. Navarro, na attitude esquerda, de falsificador e penosa do individuo apanhado em flagrante delicto de lapides commemorativas.

Aqui fico.

Com o quinto artigo, publicado no dia 11, despedi-me do Dr. Navarro de Andrade:

Estou a despedir-me do Dr. Navarro, já á porta. O homem vae-se... e vae sahindo entupido; pois hontem não nos deu senão notas summarias, á guisa das que se escrevem a lapis no punho da camisa.

Não se explicou quanto aos gastos que fez nas obras da Faculdade sem fiscalisação de ninguem, sem exame algum de meritis dos documentos comprobatorios; não dizendo palavra sobre aquelle energico protesto do Dr. Augusto Vianna, illustre director da Academia. Passou por ahi como gato por brasas, contente com dizer-nos que prestou contas ao ministro do Interior, isto é, ao Sr. Lyra, o mesmo das revelações estupefacientes do engenheiro Junqueira.

Quanto ás lapides falsificadas, disse-me mui praticamente que eu podia fazer outro tanto, mandar ao lado das delle, assentar as minhas, como se isso fosse cartaz de feira que cada qual prega o que quer.

Quanto ao meu repto, o dos telegrammas sobre os esgotos entupidos de S. Paulo, não quiz saber disso. Limitou-se a dizer que apenas revelou o que corre por ahi».

Mas não corre nada por ahi, Dr. Navarro, que isso é esgoto entupido e entupido por S. S.; e o que S. S. entope,não corre... não tem curso contra mim. Como se vê, o homem entupido veiu e entupido saiu. Vá, Dr. Navarro, vá-se embora...; vá sem apices de dignidade, convecido de que errou nas lapides das minhas reivindicações, mas vá puxando o seu asno que raciocina pela pata. Guarde, guarde lá comsigo esse animalsinho precioso com o seu enormie par de orelhas, maiores que as de Midas.

Theodoro Sampaio

VII

Revidando ao Sr. Pedro Jayme David

Nos artigos com que combati o depoimento do Ex.mo Snr. Cons. Intendente, na tão debatida questão d'agua, tive, por vezes, de fazer allusões aos individuos, que com a mascara do anonymo, me aggre. diram, a mim, e ao contracto do saneamento, durante largo tempo, pelas columnas do «Diario de Noticias»>. Entre estes mascarados estava o Snr. Pedro Jayme David, empregado municipal, que, comquanto reconhecivel sob o anonymato, todavia guardava certa reserva que muito de industria o protegia. Mas eis que o homem, nos ultimos tempos, querendo reivindicar as glorias dos seus feitos, com que outrem, talvez menos timorato, se pavoneasse, apresentou-se, pelas columnas, do mesmo «Diario», a escrever umas tantas baboseiras contra mim sob o titulo-O homem dos esgotos.

Revidando os ataques, respondi ao Snr. Pedro Jayme David, no dia immediato, 14, com o artigo que se segue:

O agronomo das Batatas

Eu nunca tive a menor duvida de que, entre os anonymos que na imprensa me aggrediram, a proposito do saneamento da cidade e a que jamais dei

resposta, por lhes não ter reconhecido idoneidade, se enfileirava Sr. Pedro Jayme David.

Para o publico, porém, a nuvem de favor que n'aquelle tempo envolvia a esses patriotas zeladores do dinheiro do Municipio, agora se desfez com as revelações dos proprios interessados. E' o Sr. Pedro Jayme David que, hoje, por seu motu proprio, se desvenda e se declara, corum populo, o AGRONOMO DAS BATATAS. (*)

Pois sim. Não ha negar que o homem teve coragem e, com isso, até prestou um bom serviço aos seus collegas de repartição, os quaes se entreolhavam suspeitosos, muitos delles com maguas bem sentidas. Agora, nac. O homem apresentou se, e apresentou-se tal qual é. Não haja mais duvidas nem confusões. Disse eu, algures, em um dos meus escriptos neste Diario, de referencia a aquelles anonymos, que, entre elles, um havia com o vezo da logomachia», mas... financeiro desastrado, não è de crer que com isso se habilitasse em hydraulica e construcção civil. Outro, dizia eu, possuindo, como possue, a arte de escrever e a habilidade de aggredir, á força de ser mau medico, não é que havia de saber engenharia.

«Outro ainda, continuava eu, funccionario municipal como o precedente, tão espesso em carnes quão diaphano em sciencia, agronomo servindo de engenheiro numa repartição que elle infelicita, á força de maus serviços, não é que havia de me dar leções. Quem aprendeu a amanhar a terra e... a plantar batatas, que vá plantar batatas...>>

«Ne sutor ultra crepidam.»

O titulo supra originou-se de uma sem-razão do Snr. Pedro Jayme David. Todos sabem que o Snr. David cursou as aulas da Escola Agricola de S. Bento das Lages, e por isso é agronomo. Ora, tendo eu naquelles meus artigos, frisados a falta de idoneidade dos meus mascarados aggressores, disse então de referencia ao agronomo: «Quem aprendeu a amanhar a terra e a plantar batatas... que vá plantar batatas...» Inde irae. O Snr. David zangou-se com o reconher-se-o agronomo das batatas! Tal é a origem desse titulo.

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