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De bibliotheca em bibliotheca, de archivo em archivo, de pesquisa em pesquisa, chegámos, um dia, após annos de estudo, a uma uma conclusão dolorosa: José Bonifacio não é o patriarca (1) da independencia, o supremo architecto da emancipação politica do Brasil. Maior, em serviços á causa santa da liberdade patria, é a figura rutilante do tribuno e jornalista fluminense Joaquim Gonçalves Lédo, redactor e proprietario do «< Reverbero Constitucional», porta-voz dos ideaes democraticos em 1821 e 22. Impressionante, formidavel, robusta é a documentação que colligimos. E é este livro o fecho necessario de nossas investigações historicas sobre os vultos brilhantes e masculos do primeiro quartel do seculo passado, sobre os fautores, intrepidos e valorosos, de nossa separação de Portugal.

Aforçurado em nossa crença, publicámos, na primeira pagina do « Correio Paulistano », em pleno coração de S. Paulo, o appello em favor do glorioso esquecido. E proclamámos Joaquim Gonçalves Lédo o heroe verdadeiro, o maior architecto da independencia do Brasil. Varios artigos escrevemos. E dissemos então:

<< Estamos mui proximos do 1.0 centenario de nossa independencia. Iremos commemora-la faustosamente daqui a dois annos. O Instituto Historico e Geographico Brasileiro, nessa data, fará circular o « Diccionario Historico, Geographico e Ethnographico do Brasil », no qual tivemos

alem.

(1) Patriarca, no sentido erroneo de fautor magno, conforme se diz por ahi

a honra de collaborar, pelo convite (1) da commissão presidida pelo dr. Ramiz Galvão (2). Fizemos com prazer o que de nós exigiram. Entretanto, pensamos que o Instituto deverá corrigir os grandes erros historicos que maculam os fastos nacionaes. Em geral, os auctores, em vez de pesquisarem com cuidado e paciencia a velha papelada dos archivos do Brasil e Portugal, repetem machinalmente o que os antecessores disseram. Isso não se chama escrever Historia, e sim contar historias. Urge que se restabeleça a verdade majestosa nas paginas da Historia Patria. Faltam apenas dois annos para o primeiro centenario de nossa independencia, e ainda ninguem fez a justiça devida ao maximo heroe da liberdade nacional. Esse não foi Pedro I, nem José Bonifacio. Foi o abnegado, o intemerato, o tenaz Gonçalves Lédo, para quem nossa patria foi ingrata, confirmando a sentença de Michelet:

« A Historia é, ás vezes, madrasta, cobre de louros os que pouco fizeram e obscurece os meritos dos verdadeiros heroes. »

Estudamos, investigando. Nosso espirito, educado na mais ampla liberdade de acção, guiado, desde a meninice,

(1) Acompanhava o convite um officio do titular da Secretaria do Interior de S. Paulo, dr. Oscar Rodrigues Alves, que nos pedia mandassemos nosso trabalho, dactylographado, para a sua repartição, donde seguiria em destino ao Instituto, com os de outros paulistas. Assim o fizemos.

(2) Eis os termos do convite que recebemos:
Instituto Historico e Geographico Brasileiro

Commissão Directora do Diccionario Historico, Geographico e Ethnographico do Brasil, em 5 de Novembro de 1917. Illmo. e Exmo Sr.

Tenho a honra de vos remetter os questionarios e modelos approvados pela Commissão Directora do Diccionario Historico, Geographico e Ethnographico do Brasil, obra para a qual a referida Commissão solicita o vosso precioso concurso, que espero lhe será prestado como significação do esclarecido patriotismo que vos distingue.

Sendo muitas vezes possivel que o espaço dado no Questionario não baste para as completas informações, com que tendes de contribuir para os artigos do Diccionario, rogo-vos o obsequio de dá-las em folha separada, e sempre com referencia ao numero de perguntas feita no mesmo Questionario.

Aproveito o ensejo para desde já apresentar-vos os protestos de reconhecimento da Commissão Directora do Diccionario, a qual tanto almeja contribuir com esta grande obra de bons brasileiros para solemnizar a data gloriosa da Independencia Patria. Attenciosas saudações.

Dr. B. F. RAMIZ GALVÃO

PRESIDENTE DA COMMISSÃO

por mestres insignes e independentes dos preconceitos litterarios, não se prende nos palpos paralysantes da sciencia do magister dixit, ou em teias mortaes de citações sediças. Si em nossa meninice tivemos mestres que nos despertaram, com a rutilancia de seos ensinamentos, as largas e robustas asas da analyse historica, na mocidade tivemos amigos que nos ensinaram a pesquisar a verdade soberana nas regiões das lettras. Foram esses o erudito Mello Moraes, o paciente Vieira Fazenda, o sabio José Hermenegildo Pereira Guimarães (1), principalmente este ultimo que vive ha 40 annos numa das mais selectas bibliothecas do Brasil, fóra das mundanas competições utilitaristas, vivendo para seos livros, estudando sem descanso, e alliando a uma vastissima cultura medica uma erudição historica invejavel. Sabio, par droit de naissance e de conquête. Da dymnastia intellectual dos Guimarães.

Já formada nossa diretriz, encontrámos na estrada da vida o doutissimo Silveira Brasil, dono de intelligencia potente, senhor de cultura fascinante, proprietario de bibliotheca riquissima, habil colleccionador de documentos de historia patria. Este nos ensinou a paciencia benedictina na senda das investigações, na caça difficil e desesperante dos papeis historicos. E assim procurámos a verdade, e ora a dizemos, dôa a quem doer, custe o que custar. Nenhuma sentença é mais exacta que a de Seneca: In tanta inconstantia turbaque rerum nihil nisi quod præteriit certum est. (Em tamanha inconstancia e multidão das cousas nada, a não ser o que passou, é certo). Os homens passam e desapparecem, gerações sobre gerações; as idolatrias esfrangalham-se, clangorosamente, no transcorrer dos seculos: só persiste, sobranceira e invicta, a verdade soberana, que é eterna. Ella é inteiriça como a tunica inconsutil do Christo; immaculada como a consciencia dos justos; incorruptivel como a alma santa dos bons apostolos. Muitas vezes parece succumbir, ferida

(1) O dr. Guimarães vive em Bragança, cidade paulista. Si não tivesse a immensa modestia que tem e si residisse no Rio de Janeiro, seria hoje considerado um dos maiores sabios do Brasil, como realmente é.

republicanos, protagonistas do facto, contemporaneos do heroe. A esses depoimentos valiosos se junctará um exacto estudo do tempo em que viveu Deodoro, e uma analyse rigorosa das circumstancias do momento que o obrigaram a agir. É o que se diria uma reconstrucção do facto pelo estudo da individualidade, do meio, das circumstancias, dos documentos publicos e privados. É o que faremos relativamente a José Bonifacio, demonstrando com firmeza que elle não é patriarca da independencia, architecto maximo de nossa emancipação politica. Altea-se, acima do nivel de todos os homens publicos de 1822, a figura nobre, suggestiva, empolgante, soberba do abnegado apostolo da liberdade, do encantador tribuno, do brilhante jornalista, do fecundo agricultor, do habil advogado, do sagaz conductor de homens, do assombroso propagador de idéas, do fluminense Joaquim Gonçalves Lédo. S. Paulo é Estado prospero, rico, fecundado pelas energias conjunctas de gentes fortes; Estado glorioso que é um país dentro do país. Mas acima do orgulho regionalista está a verdade historica, o respeito á justiça soberana, a gratidão de brasileiro ao superhomem da independencia.

Em se tratando das consagrações patrioticas, desapparecem preconceitos de provincias: só ha o Brasil, só ha brasileiros...

Victoriosa nossa campanha em favor de Lédo, o governo paulista, por intermedio do director do «Museo do Ipiranga », dr. Escragnolle Taunay, em appello á imprensa e aos brasileiros, pediu um retrato do heroe para collocar no monumento que commemora o grito de 7 de setembro. E, proh pudor!, não se encontrou o retrato de Gonçalves Lédo. Nem seos parentes, nem sua cidade natal, nem sua provincia, nem sua patria a quem tanto servira o seo amado Brasil possuiam a sua effigie de augusto apostolo de 22. A Patria não tinha o retrato de Lédo!! Entretanto, existe um na America do Norte, numa galeria de sul-americanos illustres. Por intermedio do consul norte-americano, o distincto e illustre historiador patricio dr. Taunay pretende obter uma

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