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Capitulo XII

Bonifacio o poeta

Agora, vejamos o poeta:

Ser e não ser

Se te procuro, fujo de avistar-te,
E se te quero, evito mais querer-te.
Desejo quasi... quasi aborrecer-te,
E se te fujo, estás em toda a parte.
Distante, corro logo a procurar-te,
E perco a voz e fico mudo ao ver-te.
Se me lembro de ti, tento esquecer-te,
E se te esqueço, cuido mais amar-te.
O pensamento assim partido ao meio,
E o coração assim tambem partido,
Chamo-te e finjo, quero-te e receio!
Morto por ti, eu vivo dividido,

Entre o meu e o teu ser sinto-me alheio,
E sem saber de mim, vivo perdido!

Ode aos Gregos

Ó musa do Brasil, vem inspirar-me;
Tempéra a lyra, o canto meu dirige;
Accende-me na mente estro divino
De heroico assumpto digno.

Se commigo choraste os negros males
Da escravidão, que a cara patria avilta,
Da Grecia renascida altas façanhas
As lagrimas te sequem.

Se ao curvo alfange, se ao pelouro ardente
O Despotismo a nobre Grecia vende,
As bandeiras da cruz, da liberdade,

Farpadas inda ondeiam!

As bayonettas, que os Servis amestram,
Carnagem, fogo não assustem peitos
Que amam a liberdade, amam a patria,
E de Héllenos se prezam.

Como as gottas da chuva, o sangue ensopa
Arido pó de campos devastados;
Como do funeral lugubre sino
Gemidos mil retumbam.

Criancinhas, matronas, virgens puras,
Que á apostasia, que a deshonra vota
O feroz Moslemim, filho do inferno,
Como martyres morrem.

E consentis, oh Deus, que os tristes filhos
Da redemptora cruz, Arabes, Turcos
Exterminem do sólo antigo e santo`
Da abandonada Grecia?

Contra algozes os miseros combatem;
Contra barbaros crus, honra e justiça;
A Europa geme: só tyrannos frios
Com taes horrores folgam.

Rivalidades, ambição, temores,

Cujo interesse a inerte espada prendem; E o sangue de Christãos, que lagos fórma, Um ai lhes não arranca!

Perecerás, ó Grecia; mas comtigo
Murcharão de Albion honra e renome:
O sordido egoismo que a devora
E' já do mundo espanto!

Não desmaieis, porém; a Divindade
Roborará teu braço; e na memoria
Gravará para exemplo os altos feitos
Dos illustres passados.

Eis os mirrados ossos já se animam
De Milciades; já da campa fria
Ergue a cabeça; e grito dá tremendo
Para acordar os netos.

<< Héllenos, brada, ó vós, prole divina,
Basta de escravidão não mais opprobrios!
E' tempo de quebrar grilhão pesado
E de vingar infamias.

Se arrazaste de Troya os altos muros
Para o crime punir, que Amor causára,
Então porque soffreis ha largos annos
Estupros e adulterios?

Foram assento e berço ás doutas Musas
O sagrado Helicon, Parnaso e Pindo:
Moral, sabedoria, humanidade

Fez vicejar a lyra!

Ante Hellenicas prôas se acamava
Euxino, Egêo

e mil colonias iam

Levar artes e leis ás rudes plagas
E da Lybia, e da Europa.

Um punhado de heróes então podia
Tingir de sangue persa o vasto Ponto!
Montões de corpos inda palpitantes
Estrumavam os campos!

Ah! porque não sereis o que já fostes?
Mudou-se o vosso Céo, e o vosso sólo?
E não são inda os mesmos estes montes,
Estes mares e portos?

Se Esparta ambiciosa, Athenas, Thebas
O fratricida braço não tivessem
Em seu sangue banhado, nunca a Grecia
Curvára o collo á Roma.

E se de Constantino a infame prole
Do Fanatismo cégo não houvera
Aguçado o punhal, ah nunca as Luas
Tremulariam ufanas!

Depois que fostes, ó Grecia miseranda,
De despotas brutaes, brutal escrava -
Em a esquerda o koran, na dextra a espada,
Barbárie préga o Turco.

Assaz sorveste já milhões de insultos,
Já longa escravidão pagou teus crimes;
O céo tem perdoado. Eia, já cumpre
Ser Héllenos, ser homens.

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Eia, Gregos, jurai, mostrai ao mundo
Que sois dignos de ser quaes fostes d'antes:
Eia, morrei de todo ou sêde livres.

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E qual ligeira nevoa sacudida

Pelo tufão do Norte, a sombra augusta
Desapparece. A Grecia inteira brada:
Ou liberdade, ou morte!

Ode á rolla

Tu que te apressas desde longe ousada
Dize para onde, sacudindo, voas,
Tantos aromas de sabia origem,
Doce rollinha?

Entre a plumagem de arroxadas côres,
Alegre trazes pallidas violas!
Porque no bico de roma tu levas
Jasmins e rosas!

Ella responde: Vou seguindo, amigo,
Não meus caprichos, obedeço ao mando
Imperioso de meu caro Amo,
De Nize escravo:

Nize formosa, Nize que domina
Livres vontades, e com meigo riso
As iras vence de Cupido, e vence
Mortaes e Deuses.

Desd'os pendores da gentil Tijuca
Vim ao chamado do meu grão Poeta:
Meigo me trata; porém eu submissa
Senhor o chamo.

Elle me ordena que á sua Nize leve
Carta nascida de seu brando peito,
Puro amoroso, cuja doce Musa
Canta suave;

Quando entre as penhas resoando a Lyra, Amor celebra em Catombi ditoso;

Ou nas sombrias sempre verdes margens Do seu Cattête.

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