Se te procuro, fujo de avistar-te, E se te quero, evito mais querer-te. Desejo quasi... quasi aborrecer-te, E se te fujo, estás em toda a parte. Distante, corro logo a procurar-te, E perco a voz e fico mudo ao ver-te. Se me lembro de ti, tento esquecer-te, E se te esqueço, cuido mais amar-te. O pensamento assim partido ao meio, E o coração assim tambem partido, Chamo-te e finjo, quero-te e receio! Morto por ti, eu vivo dividido,
Entre o meu e o teu ser sinto-me alheio, E sem saber de mim, vivo perdido!
Ó musa do Brasil, vem inspirar-me; Tempéra a lyra, o canto meu dirige; Accende-me na mente estro divino De heroico assumpto digno.
Se commigo choraste os negros males Da escravidão, que a cara patria avilta, Da Grecia renascida altas façanhas As lagrimas te sequem.
Se ao curvo alfange, se ao pelouro ardente O Despotismo a nobre Grecia vende, As bandeiras da cruz, da liberdade,
Farpadas inda ondeiam!
As bayonettas, que os Servis amestram, Carnagem, fogo não assustem peitos Que amam a liberdade, amam a patria, E de Héllenos se prezam.
Como as gottas da chuva, o sangue ensopa Arido pó de campos devastados; Como do funeral lugubre sino Gemidos mil retumbam.
Criancinhas, matronas, virgens puras, Que á apostasia, que a deshonra vota O feroz Moslemim, filho do inferno, Como martyres morrem.
E consentis, oh Deus, que os tristes filhos Da redemptora cruz, Arabes, Turcos Exterminem do sólo antigo e santo` Da abandonada Grecia?
Contra algozes os miseros combatem; Contra barbaros crus, honra e justiça; A Europa geme: só tyrannos frios Com taes horrores folgam.
Rivalidades, ambição, temores,
Cujo interesse a inerte espada prendem; E o sangue de Christãos, que lagos fórma, Um ai lhes não arranca!
Perecerás, ó Grecia; mas comtigo Murcharão de Albion honra e renome: O sordido egoismo que a devora E' já do mundo espanto!
Não desmaieis, porém; a Divindade Roborará teu braço; e na memoria Gravará para exemplo os altos feitos Dos illustres passados.
Eis os mirrados ossos já se animam De Milciades; já da campa fria Ergue a cabeça; e grito dá tremendo Para acordar os netos.
<< Héllenos, brada, ó vós, prole divina, Basta de escravidão não mais opprobrios! E' tempo de quebrar grilhão pesado E de vingar infamias.
Se arrazaste de Troya os altos muros Para o crime punir, que Amor causára, Então porque soffreis ha largos annos Estupros e adulterios?
Foram assento e berço ás doutas Musas O sagrado Helicon, Parnaso e Pindo: Moral, sabedoria, humanidade
Fez vicejar a lyra!
Ante Hellenicas prôas se acamava Euxino, Egêo
e mil colonias iam
Levar artes e leis ás rudes plagas E da Lybia, e da Europa.
Um punhado de heróes então podia Tingir de sangue persa o vasto Ponto! Montões de corpos inda palpitantes Estrumavam os campos!
Ah! porque não sereis o que já fostes? Mudou-se o vosso Céo, e o vosso sólo? E não são inda os mesmos estes montes, Estes mares e portos?
Se Esparta ambiciosa, Athenas, Thebas O fratricida braço não tivessem Em seu sangue banhado, nunca a Grecia Curvára o collo á Roma.
E se de Constantino a infame prole Do Fanatismo cégo não houvera Aguçado o punhal, ah nunca as Luas Tremulariam ufanas!
Depois que fostes, ó Grecia miseranda, De despotas brutaes, brutal escrava - Em a esquerda o koran, na dextra a espada, Barbárie préga o Turco.
Assaz sorveste já milhões de insultos, Já longa escravidão pagou teus crimes; O céo tem perdoado. Eia, já cumpre Ser Héllenos, ser homens.
Eia, Gregos, jurai, mostrai ao mundo Que sois dignos de ser quaes fostes d'antes: Eia, morrei de todo ou sêde livres.
E qual ligeira nevoa sacudida
Pelo tufão do Norte, a sombra augusta Desapparece. A Grecia inteira brada: Ou liberdade, ou morte!
Tu que te apressas desde longe ousada Dize para onde, sacudindo, voas, Tantos aromas de sabia origem, Doce rollinha?
Entre a plumagem de arroxadas côres, Alegre trazes pallidas violas! Porque no bico de roma tu levas Jasmins e rosas!
Ella responde: Vou seguindo, amigo, Não meus caprichos, obedeço ao mando Imperioso de meu caro Amo, De Nize escravo:
Nize formosa, Nize que domina Livres vontades, e com meigo riso As iras vence de Cupido, e vence Mortaes e Deuses.
Desd'os pendores da gentil Tijuca Vim ao chamado do meu grão Poeta: Meigo me trata; porém eu submissa Senhor o chamo.
Elle me ordena que á sua Nize leve Carta nascida de seu brando peito, Puro amoroso, cuja doce Musa Canta suave;
Quando entre as penhas resoando a Lyra, Amor celebra em Catombi ditoso;
Ou nas sombrias sempre verdes margens Do seu Cattête.
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