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Assim como na primeira Renascença as Gestas se converteram
em Chronicas, na segunda Renascença do seculo xvi as Chro-
nicas tornam-se Epopêas eruditas.a) Affonso Giraldes e o
Poema da batalha do Salado. - Relações com a Chronica em
redondilhas de Rodrigo Jannes. —A Prophecia do Leào dor-
mente, do seculo xix, apparece no Bandarra em 1540.
b) Diogo Brandão, e a Lamentação á morte de Dom João II.
A fórma hespanhola do poema da Cava.—c) Diogo Velho,
Coplas á descoberta da India. —Como se vulgarisára a tra-
dição de um designio providencial reservado aos Portugue-
zes. -A inscripção sybilina de 1508. –d) João de Barros, e
os rudimentos de uma Epopêa portugueza: ainda a fórma
da outava castelhana ou de lamentação: reminiscencias da
tentativa de Barros no canto 1 dos Lusiadas. —e) Luiz An-
riques, e o poema da Tomada de Azamor. O syncretismo his-
torico do ideal patrio no nome Luzitania. - Allusão a Vir-
gilio.-Camões nas estancias supprimidas dos Lusiadas fal-
lando de Azamor, excede em belleza o poeta do Cancioneiro.

A necessidade de uma epopêa revelada com a maior clareza em 1564.- Como a Eneida tinha de ser fatalmente o modello da Epopêa.

As Canções de Gesta da edade media, que foram a expressão epica do mundo moderno, sob o regimen da erudição da primeira Renascença do seculo XIII affectaram um caracter historico, tornaram-se Chronicas rimadas, como as escreviam Benoit de Sainte More, Phi

1-TOMO II.

poema

lippe de Mouskes ou Rodrigo Jannes. (1) No seculo XVI
a fórte Renascença classica levou pelo servilismo da imi-
tação grega e romana a traduzir-se outra vez a chroni-
ca em epopêas academicas. Assim, se no seculo XIII
um Affonso o Sabio basêa a Chronica general de Es-
paña sobre os romances tradicionaes do povo diluin-
do-os em prosa, no seculo xvi um Lorenzo de Segura
traduz e retalha a prosa dos Chronicons em versos de
redondilha. (2) São dois actos que se ligam e comple-
tam mutuamente, filhos do mesmo syncretismo que se
deu em toda a Europa. Vejamos como a Epopêa do se-
culo XVI nasce d'esta segunda corrente. Antes do
dos Lusiadas, a litteratura portugueza apresenta algu-
mas tentativas de epopêa; como lhe faltava esse nucleo
vital de toda a concepção epica, o mytho obliterado na
tradição, serviu-se dos successos historicos na sua expo-
sição menos poetica, pela ordem chronologica. Faltava-
nos tambem esse respeito pelas grandes Gestas da edade
media, que nós parodiámos ironicamente, como se vê na
Gesta de mal dizer, de Affonso Lopes Baião. O poema
de Affonso Giraldes á batalha do Salado é uma imita-
ção das fórmas metricas usadas na côrte de Affonso XI;
o poema de Diogo Brandão á morte de D. João II enu-
mera os feitos de D. João 1, Dom Duarte, Dom Af-
fonso v e Dom João II, imitando o antigo metro de arte
maior, chamado na poetica hespanhola estylo de lamen-
tação, que o marquez de Santillana constituia em ge-

(1) Formação do Amadis de Gaula, cap. 1.
(2) Epopêas da raça mosarabe, p. 283.

nero litterario; as Coplas de Diogo Velho á Descoberta da India dão-nos o fio da tradição prophetica do Leão dormente com que, tanto o poema de Rodrigo Jannes como o popular Bandarra, symbolisam o rei de Portugal. João de Barros é o primeiro que, presentindo a unidade nacional, reconhece a necessidade de uma epopêa que seja a expressão d'essa consciencia; e o chronista esboça com difficuldade o quadro de uma epopêa em fórmas archaicas do verso de arte maior. Luiz Anriques conhece já o symbolo da unidade politica de Portugal representado pela identificação imaginaria dos Lusitanos com os Portuguezes; estuda Virgilio e cita o canto sexto; tira a invocação poetica dos sentimentos christãos; assiste como heroe á victoria de Azamor, mas faltava-lhe a elle e a todos os outros o genio, essa qualidade moral que leva o homem, como diz Carlyle, a firmar-se nas cousas e não nas apparencias das cousas. Camões sentiu intimamente a realidade d'isto que eram apenas sonhos e vagas aspirações.

Porque é que as tentativas de uma epopêa nacional começaram em Portugal pelas chronicas rimadas até chegarem ao poema historico? Portugal constituiu a sua independencia em uma epoca em que a fecundidade profunda das creações da edade media estava terminada; foi por isso que entrámos logo em uma actividade historica, e já não era tempo nem de crear nem de elaborar essas tradições fundamentaes d'onde se derivam as epopêas, e que produzem as litteraturas. N'este ponto Portugal teve uma certa analogia com o povo romano,

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