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todo o inimigo sahido das casas e postos da circumvisinhança; de sorte que fazendo um calculo pelo que puderam observar, havia alli uns 240 homens.

Os nossos, ainda que em tão pequeno numero, atacaram tão corajosamente com os indios, que os Portuguezes depois de darem uma descarga sobre os nossos, perderam o animo e puzeram-se a fugir; pereceram alli tres Portuguezes e dous negros.

Os nossos foram o mais depressa possivel no encalço do inimigo até um riacho, no outro lado do qual os Portuguezes desfra'daram novamente a bandeira e postaram-se como se quizessem fazer resistencia e esperar a nossa ida; mas vendo que os nossos iam fortes contra elles, ficaram amedrontados, enrolaram a bandeira, passando a um que estava a cavallo, e entregaram-se á fuga, sem mais se virarem nem uma vez.

Devido à longa marcha e ignorancia dos logares os nossos não acharam conveniente demorar ou ir mais longe; pelo que voltaram á dita casa, donde expelliram o inimigo, para descançar alli um pouco.

Os Tapuyas nesse interim espalharam-se, segundo o seu costume, no matto e apanharam de surpresa 10 indios, que eram de outra nação e seus inimigos, a todos os quaes mataram, exceptuando um que se escapou e se escondeu no espesso do matto.

O porta insignia, achando o campo ao redor deserto e não vendo mais cousa alguma para fazer, não foi alem e voltou, chegando no dia 13 ao forte do Rio Grande, chamado agora Ceulen.

O Commandeur Garstman empregou nesse interim todos os meios para communicar aos Snrs. Directores Delegados essas noticias e a chegada dos Tapuyas pagando a alguns dos seus, assim como dos indios para levar a sua carta ao Recife por mar e por terra, mas apezar disso ella só chegou ás mãos dos Srs. Directores Delegados no Recife em principio de Abril. Deixemos agora descançar por esse lado do Rio Grande e voltemos ao Recife; e depois de dar um resumo do que succeden alli, passaremos á narração dos acontecimentos de maior importancia e consequencia.

No dia 20 chegou dos Paizes Baixos o Fortuyn da Zelandia, trazendo comsigo um navio capturado ao inimigo na latitude de quatro gráos ao Norte do Equador, montado com seis columbrinas e quatro pedreiros e carregado com varios pannos em fardos, que foram embarcados em Portugal para Angola; vieram nelle 110 soldados. No dia 20 chegaram os navios Eendracht e o Bije-korff, com um reforço de 77 soldados. E no dia 25 entrou no porto o pequeno yacht Sparwer da Zelandia, que tivera ordem de navegar para O forte Arguin, nas passara alem. No dia 26 chegou com o navio Mercurius da Hollanda Septentrional um contingente de 100 soldados e no dia 28 um outro de 65 soldados no navio fretado, Prins Hendrick. No dia 4 de Fevereiro chegou uma barca, carregada com 31 pipas de vinho e algumas mercadorias, capturada a 19 gráos de latitude pelos navios que iam para o Rio de Janeiro. E finalmente no dia 5 de Fevereiro entraram o navio Deventer com o Sout-bergh, de Katte, den Harengh, Kem-phaen, Spreeuwe e o Windt-hondeken de Hoorn; nesses vieram as companhias dos capitães Daye e Duynkercker e mais um contingente de cerca de 74 soldados.

Como houvessem chegado da Republica no mez de Janeiro e principio de Fevereiro todos esses navios com tropas, viveres e todas as especies de artigos bellicos, os nossos se achavam agora regularmente fortes (ainda que não fossem tão bem providos como poderiam desejar e convinha serem se as circumstancias da Companhia o permitissem ou se o governo houvesse auxiliado, conforme lhe foi pedido) para emprehender uma expedição e atacar uma das praças do inimigo.

Os Snrs. Directores Delegados puzeram-se a deliberar contra qual das tres praças, que o inimigo ainda possuia e com as quaes nos embaraçava, a saber: o forte no Cabo, o Arrayal ou a Parahyba, devia-se emprehender um ataque, porque o verão, que já estava adiantado, obrigava a apressarem-se a tentar qualquer cousa em uma dessas tres praças, para apertal-os mais e tornar os portos impraticaveis ao inimigo, se o tempo e as circumstancias não permittissem apoderar-se delles. Tambem tomaram em consideração que não tinham de esperar mais reforços por um bom espaço de tempo e que o inimigo de quando em quando recebera reforços de gente e viveres e era de esperar que ainda recebesse; pelo que havia mais probabilidade que se tornasse mais forte do que mais fraco, e convinha aproveitar esta tropa fresca o mais depressa possivel.

Atacar de improviso o Arrayal, que lhes ficava mais perto, era muito difficil, devido ás numerosas guardas avançadas, e para assedial-o e dar-lhe assalto, não se achavam bastante fortes. Para atacar-se o Cabo de Sto. Agostinho havia tambem grande difficuldade, pois era muito forte e em 24 horas podiam receber reforços de gente do Arrayal; tambem nada se podia emprehender alli a não scr entrando-se no porto com os navios, os quaes correriam alli grande risco e mal poderiam ser auxiliados, a não ser que se chegasse a apossar immediatamente dos reductos e baterias collocadas na entrada do porto e no Pontal. Tambem não havia meio de se transportar canhões, viveres e munições ao logar onde o exercito tinha de se estabelecer sem ter continuamente de passar pelas baterias do inimigo. De sorte que finalmente as attenções recahiram sobre a Parahyba, cuja conquista fôra tão frequentemente ordenada da Republica e sem a qual não era de esperar que alcançassemos a occupação pacifica da região do Norte do Brazil; alli parecia haver menos difficuldades que em qualquer outro logar, especialmente si a expedição fosse planejada e executada da forma que se segue.

O inimigo havia pouco tempo montara um forte no lado Norte do rio da Parahyba, quasi direito na entrada, mas (conforme os nossos estavam avisados) estava em parte aberto, e quasi sempre guarnecido com pouca gente, porque o inimigo mal imaginava uma surpresa e em caso de assalto poderia ser facilmente socorrido pelo forte do Sul ou pela cidade por meio do rio. Suspeitavam ao mesmo tempo e tambem estavam informados que havia facilidade para desembarcar as tropas e levar ao exercito em botes por dentro do recife ao Norte tudo que fosse preciso. Pelo que resolveram atacar em primeiro logar esse forte, e sendo bem succedidos, ver depois se haveria facilidade para apossarem-se do forte do Sul, como alguns haviam proposto.

Mas primeiro que tudo deviam se apoderar de certa ilhota, situada no meio do rio, um pouco acima dos fortes, tomada a qual ou entrando alli com alguns

yachts teriam bastantes meios de impedir que fossem mandados da cidade ou do forte do Sul alguns soccorros ao forte do Norte e poderiam fechar ao inimigo o rio e o porto da Parahyba.

Tendo portanto resolvido firmemente a execução desse projecto, mandaram para ella 12 companhias e um contingente de 100 soldados, sommando ao todo 1.500 homens.

Os navios destinados para ella foram repartidos em duas divisões. A primeira compor-se-hia dos yachts: 't Wapen van Hoorn, como capitanea, no qua tinha de ir o Commandeur Lichthart, Ter-l'eere, como vice almiranta, de Vos, como sota almiranta, e o Sout-bergh, den Haring, Windt-hondt de Hoorn, Zee-Ridder, Kemp-haen e Ceulen, transportando as companhias dos capitães Fredrick Maulpas e Jan Talboom, chamado Duynkerckez.

Essa divisão devia hastear a bandeira vermelha, entrar no rio Parahyba por entre os dous fortes e desembarcar as duas companhias na ilhota para se apoderarem della e se fortificarem lá; e os yachts deviam subir mais o rio até o ponto em que elle se bifurca, formando essa ilha, e ficarem vigiando, para impedir a passagem por alli.

A segunda divisão compunha-se dos seguintes navios: Overijssel, como capitanea, na qual devia ir o Sr. Jean Gijsselingh, Director Delegado, o Sr. Sigismundo van Schuppen, Coronel Servaes Carpentier, Conselheiro Politico, alem do Swol, como almiranta, Fortuyn, como Vice-almiranta, Deventer, como Sota-almiranta, Campen, Domburgh, Mercurias, Gondt-l'inck, Phoenix, Nachtegael e Spreeuw. Essa divisão devia hastear o estandarte do Principe e levar as companhias do Tenente Coronel Bijma, (elle mesmo ficava no Recife commandando as forças alli e dirigindo tudo no caso que o inimigo, durante essa expedição, tentasse qualquer cousa) do Major Steven de Vries, Charles de Tourlon Junior, Claude Prevost, Alexander Picard, Davidt Wildtachut, Jan Everwijn, Hendrick Fredrick, chamado Mausveldt, Jan Gilbert e um contingente de soldados; a divisão devia desembarcar as tropas meia legua ao Norte do forte e depois ficar protegendo o exercito. Para a defesa do Recife e dos fortes foram deixados: em Affogados o Major Smit com 140 homens e o Capitão Christiaensz. com 170, alem de alguma gente de artilharia; no Emilia 30 homens da companhia dos Senhores Delegados; no Fredrick Hendrick o Commissario com 150 homens e o Capitão Bongarson com igual numero; no forte Ernestus o Major Mellingh com 140; no Wardenburgh o capitão Tailler com 150; no forte do Bruyne o capitão Beayerdt com 150; em Itamaracá o capitão d'Escars com 150; e no forte Orange sob o commando do capitão Jacobus Petri 85; no Rio Grande o capitão Garstman com 160; no reducto do forte do Bruyne com o forte de S. Jorge 68 sob o commandeur Boshuysen; no Recife a ccmpanhia dos Senhores Delegados 120 homens e duas companhias de burguezes com 160; em Antonio Vaz o Capitão Daye com 150 e o capitão Mortimer com 120, mas a companhia dos Senhores Delegados foi postada a pedido do Tenente Coronel em Antonio Vaz. O Oast-Cappel foi collocado como guarda avançada Bruyne e Wardenburgh e o bote Exter junto a Barreta.

entre o forte do

em

Havendo-se provido tudo com o maior zelo e diligencia, e havendo barcado a gente, a esquadra fez-se à vela no dia 24 de Fevereiro do Recife e chegou no dia 27 pela manhã em frente ao rio Parahyba.

Cada divisão fazendo o possivel para cunprir o que lhe fôra ordenado, a que hasteara o pavilhão do Principe dirigio-se para o logar do desembarque e começou a descer a gente; mas a outra estando em frente á foz do rio encontrou uma briza tão fraca que foi necessario collocar-se fora do alcance dos tiros do forte.

O vento soprava do Sueste quarta de Leste e o rio após a entrada se dirige bruscamente para o Sul, de sorte que não podendo conseguir o vento do Sul e sendo a briza fraca, os yachts não podiam ir senão para junto do forte, porque dalli o rio faz repentinamente uma curva para o Sul, e naquelle ponto corriam grande risco de serem os navios postos a pique ou pelo menos lhes ser feito grande damno assim como á gente. Isso causou no principio grande desapontamento; pois a maior esperança do exito era baseada na collaboração dessa divisão.

A outra, na esperança de melhorar a situação, não deixou, entretanto, de desembarcar a força, ainda que não acharam o logar tão bom coino julgaram, por causa da arrebentação, e só á tarde a gente poude ser desembarcada. Quando mal havia descido á terra a metade da tropa, o Coronel resolveu ir immediatamente para o forte para ver a sua situação e onde poderia produzir maior damno ao inimigo ou tirar ás pressas alguma vantagem e partio com 150 homens, deixando ordem ao Major de Vries de seguil-o com os restantes logo que desembarcassem, o que se fez em muito boa ordem, indo tambem á terra o Sr. Gijsselingh e Carpentier.

O Coronel nesse interim approximando-se do forte Sto Antonio mandou alguns adiante para reconhecer a posição do inimigo, os quaes encontraram um reducto ao redor cheio de palissadas, estendéndo-se uma ao longo da praia até dentro do rio. A tropa atacou intrepidamente a fortificação, mas como não estivesse bem provida de inachados e picaretas pouca vantagem teve e retirouse com a perda de dous homens e de alguns feridos. A força esntado agora toda reunida, acampou nessa noite no matto. No dia seguinte de manhã cedo começou o inimigo a atirar violentamente do forte contra os nossos, mas causou pouco damno, porque estavam protegidos pelo matto.

Como o sol estivesse já bem elevado no horizonte e o inimigo no forte do Sul (que se conservara quieto até então, imaginado que a outra esquadra desembarcaria alguma gente ao Sul) notou-se agora ou calculou-se que o designio era apenas contra o forte do Norte e que os navios não podiam entrar por causa do vento contrario, atravessou em barcas com grandes forças, para o lado do Norte. Podia-se vel-os marchar com grande tropa para o reducto do forte do Norte, e levarem para lá alguns canhões puxados a bois, que montaram immediatamente e atiraram violentamente contra o bosque.

Os nossos estavam a principio bem resolvidos a se fortificarem alli o mais depressa possivel e mandaram o Sr. Carpentier á praia para tirar dos navios e trazer tudo o que fosse necessario; mas antes que pudessem executal-o, o inimigo trouxe um reforço tão grande do outro lado que suspeitaram que o

seu numero excedia longe ao dos nossos e como considerassem que a outra esquadra não poderia entrar no rio, acharam mais prudente retirar-se em tempo sem damno do que com perda de gente ir como que dar com a cabeça contra a parede. Para esse fim foram mandadas para a praia quatro companhias para proverem com uma meia lua o logar onde a gente desembarcara e devia reembarcar, para garantir assim a retirada. A tarde partiram com toda a tropa e á noite embarcaram.

Esta retirada descontentou muito aos nossos e não quizeram depois das despesas feitas, voltar com uma esquadra tão bem provida sem realisar alguma cousa de vantagem; julgatam que o inimigo tendo ouvido que os nossos se dirigiram á Parahyba, houvesse retirado alguma gente do forte do Cabo para mandar para a Parahyba e que assim achariam agora aquella praça muito fraca. E ainda que não podessem garantir de se apossar do forte de Nazareth, tinham entretanto bôa esperança de poder tomar o Pontal e o reducto inferior, · pelos quaes se impediria o inimigo a utilisar-se tão facilmente do porto (que The era tão util e necessario.)

Tomaram então subitamente a seguinte resolução: depois de deixarem alguns yachts para bloqueiarem o porto da Parahyba, tomariam o rumo para o Cabo de Sto. Agostinho, e formaram o seguinte plano para a expedição.

O Commandeur Licht hart com a sua esquadra, na qual estavam embarcadas quatro companhias, devia entrar ao longo da Barra do Cabo e ir com todo presteza apossar-se do Pontal.

A outra esquadra com o pavilhão do Principe devia desembarcar a sua força ao Norte do Cabo, marchando essa dalli por terra para o reducto e bateria situados á entrada da Barra para tomal-os ao inimigo, pois que aquellas fortificações pela distancia em que se achavam não podiam estar bem defendidas nem podiam ser hostilisadas de outro modo.

Antes de proseguirmos, vamos dar, para melhor comprehensão do que vamos referir, uma descripção mais minuciosa da topographia do Cabo de S.to Agostinho, como se pode ver pela gravura junta.

O Cabo de Santo Agostinho é propriamente um alto monte, composto de varias collinas, prolongando-se cerca de um quarto de legua no mar, tendo ao Sul a Barra. Esta é uma abertura no recife de pedra, o qual se estende uma legua ou mais ao Sul do Cabo, apresentando aqui e acolá brechas ou aberturas, tendo sido a mais profunda utilisada pelos nossos, como veremos depois e denominada a Barreta; ou se pode dizer melhor que o recife de pedra parte da margem Sul do rio Ipojuca, onde se prende ao continente e vem terminar em frente ao Cabo, formando alli a Barra Grande.

Entrando na Barra, que está tão perto do Cabo, que se pode atirar uma pedra para o outro lado, o mar por detraz desse recife torna-se sereno, formando um porto commodo, conio o que fica atraz do recife de pedra perto de Olinda de Pernambuco, com o qual tem alguma analogia. Da cidade de Olinda estende-se para o Sul uma praia de areia, onde estão o forte e a aldeia, aqui tambem se estende a reio tiro de columbrina dentro do recife de pedra, uma praia da raiz do cabo para o Sul, mas de nenhum modo tão longo como a de Olinda e á qual os Portuguezes chamam o Pontal.

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