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dia 27 de Fevereiro que nadou para lá, collocou-lhe uma bomba e accendeu-a, mas os nossos presentiram logo e a atiraram n'agua sem soffrer damno algum.

Depois disso no dia 1o de Março á noite deu alarme em varios logares como em Affogados, em Antonio Vaz e cerca do forte do Bruyne, mas o seu designio era na villa do Recife, como depois se viq. A sentinella no forte do Bruyne, vendo alguma gente atravessando o rio, fez fogo, e então a guarda, chegando immediatamente á muralha deu uma forte descarga e os do pequeno yacht Oost-Cappel fizeram o mesmo; os do forte S. Jorge e do forte Wardenburgh imitavam os outros; a nossa gente por toda a parte empunhou immediatamente as armas e cada um no logar determinado, pois não se sabia absolutamente para onde o inimigo projectava propriamente o ataque.

O Sr. Mathias van Ceulen e o Tenente Coronel Bijma foram para as baterias de pedra com uma companhia de burguezes, tendo tudo preparado até se ver qual o plano do inimigo.

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Para melhor se comprehender isso, convem saber que da cidade de Olinda estende-se uma nesga de terra estreita e comprida, na qual estão situados varios fortes, como se pode ver na planta, e na extremidade da mesma, deia, onde os Portuguezes antigamente tinham os seus armazens, a qual chamavam o Recife e os nossos o Recife de terra para differençar do recife do mar o qual estando situado em frente ao outro forma o porto.

Esta aldeia no tempo dos Portuguezes era aberta no lado que olha a cidade e agora depois que Olinda foi abandonada está mais fortificada daquelle lado, tendo no ponto extremo uma bateria de pedra, trincheira e palissada, e mais perto da aldeia e casas de campo uma bateria de madeira; o logar que está aberto entre ambos está provido de ambos os lados com trincheiras, que se estendem de um lado até c mar e do outro até o rio.

O forte mais proximo no caminho de Olinda é S. Jorge, que foi construido no tempo dos Portuguezes e entre ambos ha uma casa, onde mora um companheiro que toma sentido aos animaes guardados alli.

Alem de S. Jorge, e mais adiante na direcção de Olinda está o forte do Bruyn com o seu hornaveque; e entre esses dous, atravessando o rio e junto ao continente o forte Wardenburgh.

O rio Beberibe corre entre ambos, onde estavam os yachts de guarda: mas como existem nelle muitos baixios, ha bastante facilidade de atravessal-o. O pequeno yacht Oost-Cappel vendo a marcha do inimigo deu um tiro para avisar ao recife de terra que segundo todas as apparencias iam para lá; nesse momento chegou o camponio, que morava na casinha fóra do Recife, trazendo a noticia que o inimigo atravessara com uma tropa e que depressa se collocara em ordem cerca de sua casa. Nesse entretanto approximou-se o inimigo e começou a atirar sobre os nossos e os burguezes responderam-lhe galhardamente, tanto com mosquetes como os canhões que havia alli na bateria de pedra; o inimigo, no entanto, avançou em grande numero e 25 ou 30 escalaram as trincheiras e passaram assim a bateria de pedra. O que sendo visto pelos nossos o Sr. van Cenlen dirigio-se para dentro a occupar com a outra companhia de burguezes a bateria de madeira e repellir dalli o inimigo; atiraram tanto dessa bateria com mosquetes e com um canhão carregado de metralha,

contra os que passaram a trincheira que depois de perderem uns mortos, tiveram de fugir. O Tenente Coronel Bijma nesse entretanto fez o que poude, atacando tão valentemente o inimigo que não ousou ficar alli por mais tempo, deixando ficar apenas um morto e um alferes reformado que foi aprisionado; quando atravessaram o rio ao regressarem foram ainda saudados valentemente pelos fortes, que de algum modo causavam compaixão.

Veio tambem uma força de 30 ou 40 homens ao longo dos baixios do rio até junto da casa do Tenente Coronel para atacar tambem por alli, mas foram tão bem recebidos com duas columbrinas pela guarda principal que se retiraram com os outros. Tiveram sem duvida muitos mortos e feridos, mas levaram-nos, como costumam fazer, e no dia seguinte se teve a prova pelas manchas de sangue na areia.

Soube-se pelo prisioneiro que o inimigo veio com uma força de 300 homens sob o commando do Major Martin Soares, com ordem de assaltar a bateria de pedra, uma columna ao longo da margem do rio e outra ao longo da praia, emquanto o resto entretivesse os nossos na bateria (os quaes julgavam serem muitos poucos), e trataram de penetrar por algum lado e fazerem então um signal. Viria então uma outra força de 300 homens (que esperava o resultado do outro lado) para completar o plano, que era atear fogo a toda aldeia do Recife e privar igualmente os nossos de viveres e munições; e effectivamente encontraram-se no dia seguinte entre as armas que o inimigo deixara espalhadas ao fugir algumas machinas incendiarias. Assim o Senhor livrou milagrosamente aos nossos de uma grande desgraça que facilmente poderia lhes ter succedido de surpreza durante a ausencia da maior parte das nossas tropas, si não houvessem sido avisados pela graça de Deus e não se prevenissem por todos os meios possiveis.

Os nossos devido a essa tentativa viviam em continuo sobresalto e O Sr. Mathias van Ceulen e o Tenente Coronel Balthasar Bijma estavam sempre acautellados e mal descançavam tres horas á noite.

No dia 5 de Março chegaram da Republica o navio Enchuysen e Keet-man com 150 soldados, com os quaes a guarnição ficou reforçada e o Sr. Jan Gijsselingh, vindo da Parahyba para o Cabo, mandara ao Recife o pequeno yacht Nachtegael para saber o que havia por lá; e sendo informado que o inimigo déra um assalto ao Recife e julgando poder dispensar alguma gente do Cabo mandou as companhias dos capitães Everwijn e Claude Prevost reforçarem os nossos no Recife.

Os nossos no Recife sentindo-se agora fortes resolveram fazer algumas expedições contra o inimigo, e fazer-lhe ver que não estavam tão fracos como suppunha.

Por conseguinte o Tenente Coronel Bijma fez no dia 14 uma excursão com 300 hòmens na Varzea, onde queimou o engenho de Francisco Monteiro e aprisionou seis Portuguezes e 14 negros; e ainda que esse engenho estivesse situado no caminho de S. Lourenço para o Cabo, passando a uma legua do Arrayal, não longe do rio Capebaribe do lado do Arrayal, entretanto o inimigo não appareceu nem uma vez e os nossos voltaram no dia seguinte carregados de muito assucar e com os prisioneiros.

No dia 16 elle partio novamente com uma tropa para a Varzea e queimou o engenho de Luiz Ramires situado no rio Capebaribe, cerca de tres leguas ao Sul do Arrayal; fez mais alguns prisioneiros e os soldados trouxeram muito assucar.

Fez uma bravata em frente ao Arrayal, do lado de cá do rio, explorou tudo ao redor dalli, mas o inimigo conservou-se tranquillo dentro das suas muralhas.

No dia 19 o Porta Insignia do Tenente Coronel foi a Pau Amarello com uma força de 60 homens e voltou no dia seguinte com alguns prisioneiros. Tendo-se executado todas essas expedições sem haver resistencia por parte do inimigo os nossos acreditaram que era exacto o que declararam alguns prisioneiros e o que contaram cinco desertores italianos no dia 19 de Março, isto é, que o Arrayal estava muito desprovido de guarnição, não havendo lá mais de 300 homens, pois o resto da gente fôra mandada ao Cabo de Santo Agostinho para reter alli o progresso dos nossos. Tomando em consideração essas noticias o Tenente Coronel poz em deliberação, se não convinha fazer uma tentativa contra o Arrayal; pois tendo o inimigo perdido as communicações pelo Cabo, si lhe pudessem tomar o Arrayal, poriam termo á guerra no paiz. E avaliando-se qual a força necessaria para a empreza, acharam que conseguiriam formar uma força de 700 soldados e 250 marinheiros, podendo dispensal-os por pouco tempo das guarnições, pois marchando-se contra o Arrayal não viria ninguem de lá para atacar os fortes no Recife; o Cabo tinha por si mesmo bastante que fazer com o outro exercito, e estava tão distante, que julgavam que teriam tempo de ir por um ou outro caminho para o Arrayal antes que o inimigo pudesse vir de lá. Entremontes chegou da Republica no dia 21 o navio Urissché Jagher de Groeninghen, com 78 soldados. No dia 22 entraram no porto os navios Goeree, Leeuwerck e o Weseltjen, tendo terminado o prazo do seu cruzeiro em frente á Bahia, sem conseguir cousa alguma; na volta subiram um rio até um certo engenho, onde destruiram tudo e trouxeram de lá cerca de 30 caixas de assucar. O Weselijen voltando ao longo da costa perto de Porto Calvo vio uma barca, para a qual se dirigio encontrando-a encalhada; safou-a na enchente, retirou 20 caixas de assucar e incendiou-a

No dia 26 chegou da Republica o l'lieghende Sparwer pela Camara de Delft.

No dia 28 chegou ao Cabo o navio Overijssel carregado de assucar e pau brazil. Tendo ficado resolvida a expedição (como dissemos antes) o Tenente Coronel marchou no dia 29 de Março à noite para o Arrayal com cerca de 1.000 homens e acampou ao raiar do dia em um monte perto do Arrayal; o inimigo atirou continuamente com os canhões e fez varias sortidas, mas foi repellido todas as vezes com perdas e os nossos perseguiram-no até á porta. Nesse entretanto o Tenente Coronel mandou montar dois morteiros sobre um monte perto do Arrayal, trazidos para esse fim rio acima em dous botes, para ver se intimidava o inimigo, e foram lançadas em pouco tempo 15 bu 16 granadas, sete das quaes cahiram dentro do forte e fizeram a sua obra,

mas não quanto esperavam, porque quando o inimigo as via vindo e quazi calculavam onde iam cahir corriam para o outro lado (sendo a praça muito espaçosa) e assim lhe fizeram pouco mal. Para sondar a disposição de animo do inimigo fez-se uma intimação á praça, mas respondeu cortezmente, que guardava a praça para o seu rei e não via motivo algum que o fizesse entregal-a.

Não havia outra cousa que fazer alli a não ser dar-lhe um assalto, mas acharam as muralhas muito altas e alcantiladas e tambem se apresentou tanta gente na defesa, que não se via vantagem de emprehendel-o; pelo que reembarcando-se os artigos bellicos nos botes a tropa retirou-se sem damno notavel, tendo morrido apenas o tenente do capitão Tailler por bala. Uma das granadas tendo cahido antes do forte e arrebentado sobre as casas que estavam do lado de cá do Arrayal ateou fogo em algumas e o inimigo vendo o incendio, por sua vez poz fogo a outras; e desse modo todas as lojas de mercadorias e artefactos, os armazens, assim como todo o quartel dos Italianos onde sempre estiveram alojados ficaram completamente incendiados.

Voltemos agora ao Cabo de S. Agostinho. O Coronel Schuppe mandou fazer um reducto no Pontal, com uma bateria entre ambos e ligar a mesma aos reductos, deixou alli uma guarnição de tres companhias, alem de alguma gente mais numa caravelà mesmo em frente ao caminho, pelo qual o inimigo viera na ultima vez, e levou a demais força para a ilha para construir as obras que consideravam necessarias á defesa daquelle logar e para dominar o porto.

O inimigo vendo que apparecia pouca gente no Pontal, pois ultimamente se conservavam dentro dos reductos e tendo sabido que a nossa gente do Recife estivera no Arrayal com cerca de 1.000 homens (como já foi dito) calculou que os nossos mandaram gente para lá e portanto deveriam estar mais fracos no Cabo. Quizeram portanto fazer nova tentativa contra o Pontal, e vieram atacar no ultimo de Março, com 1.200 homens, como na ultima vez, mas foram recebidos de tal forma pelos reductos que deixando 11 homens mortos perto dalli se retiraram. Em frente ao caminho, pelo qual veio o inimigo, os nossos haviam collocado uma caravela e nella uma companhia de soldados com duas columbrinas; essas fizeram grande damno em parte na chegada e mais ainda na retirada do inimigo, pois tinha que passar perto della. O inimigo vira a caravela surta naquella posição, mas não suspeitara que contivesse soldados.

Quando começaram a dar alarme, o Sr. Gijsselingh dirigio-se ao Pontal, com o Commandeur Licht-hart e o Conselheiro Politico Servaes Carpentier, os ques estavam juntos no 't Wapen van Hoorn e na ponta do caminho tomaram tambem o Coronel que vinha a cavallo, mas o inimigo se retirara antes que chegassem lá.

Proseguiremos e mais adiante diremos como foram levados para fóra do porto o assucar e o pau brazil capturados e o que se fez para fortificar a ilha.

No dia 8 de Março o capitão Jan Gilbert foi mandado á extremidade. meridional da ilhota para construir um reducto Ou fazer uma trincheira n'uma casa situada alli. As casas do Pontal foram tambem cercadas com um

muro; à noite trouxeram uma presa de assucar até meio do caminho da barreta, de sorte que estava fóra do alcance de tiro, e depois uma outra.

No dia 10 a maior parte dos marinheiros foi trazida para terra, sob a direção do Commandeur Smiendt para montar uma bateria na ponta Norte da ilhota. Notaram nesse dia que o inimigo fez um entricheiramento na praia e uma bateria abaixo do monte. A' noite Ilans Melchior, sargento do capitão Gilbert, com cerca de 60 homens foi transportado para o rio Ipojuca para conduzir uma expedição ao interior; voltou no dia seguinte sem haver encontrado cousa alguma. a não serem algumas rezes, e a sua gente trouxe as que poude.

Foram tiradas do t' Wapen van Hoorn 10 canhões e montados na bateria na extremidade da ilhota; desses. quatro eram de bronze e atiraram 12 libras de ferro e os restantes de ferro. Na noite seguinte sahio uma força, a qual voltou de manhã, depois de haver expulso o inimigo de uma pequena trincheira situada junto ao rio e incendiado algumas casas.

Mandaram o yacht Spreeuw ficar de guarda no rio Ipojuca, ao Sul da

ilhota.

O inimigo fez á noite passada um reducto cerca de meio caminho entre a sua primeira fortificação na praia e o nosso entrincheiramento mais afastado; foram então mandados todos os marinheiros ao Pontal e fizeram uma bateria, onde montaram tres canhões, atirando 12 libras de ferro.

A noite trouxeram outra presa de assucar; e como o inimigo attingisse os barcos com os seus tiros, afastaram-nos um pouco.

Nessa noite foi mandada uma tropa de 200 homens ao engenho de Cosmo Dias, o qual incendiaram, depois de expellirem o inimigo que se collocara atraz de sua palissada, e este vendo que não podia defender uma casa onde havia assucar, incendiou-a.

No dia seguinte houve forte tiroteio de ambos os lados e depois do Coronel mandar fazer um reducto no Ponta!, bem guarnecido de paliçadas e cercar com as mesmas o espaço entre a bateria e os mesmos reductos, como que reunindo tudo n'uma unica fortificação, retirou no dia 14 tres companhias do Pontal e collocou-as na ponta Sul da ilhota junto ao reducto. No mesmo dia foi traçada a planta do forte que julgaram necessario construir na ponta Norte da ilhota, o qual deveria ter de frente uma bateria grande contra o rio, o Pontal e o Cabo e ser fechado por detraz. Fizeram aprofundar todo o recife da parte de dentro; na vasante e no refluxo e até à Barreta acharam 10, 11 e 12 pés d'agua, mas em frente a Barreta não mais de seis e sete pés e mais adiante oito e nove, e junto ao Rio Ipojuca e dentro delle mais fundo; a maré sobe e desce alli sete pés e na maior oito ou nove; e a mais alta é para Sudoeste quarta de Oeste.

No dia seguinte marcou-se a extensão do forte e o dividiram em 10 lotes, encarregando-se cada capitão de um delles e fizeram apostas para ver quem acabaria mais depressa a sua tarefa. Gastaram uns dias procurando um meio de levar o assucar para fóra do recife; finalmente no dia 19 de Março sondaram no mar, por fóra da Barreta para ver se podiam passar alli os botes grandes carregados de assucar e felizmente acharam possivel, de sorte que

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