Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

O texto da presente edição foi feito conforme a do Visconde de Juromenha. Damos no fim o interessante summario do poema, extrahido da referida edição.

NOTICIA BIOGRAPHICA

DE

LUIZ DE CAMÕES

I

Deixando, como elle proprio nos declara, a vida pelo mundo em pedaços repartida, e consignados em suas poesias alguns traços d'ella, mais ou menos obscuramente, legou Camões á posteridade uma serie de incertezas e de pontos controversos em quasi tudo que lhe diz respeito. Com elles tiveram de luctar os biographos, que mais tarde assumiram o difficil encargo de circumstanciar os feitos e successos do varão preclaro, do homem que (segundo o pensamento de Schlegel) «resume em si uma litteratura inteira.» Na mingua de documen. tos authenticos, e perante a deficiencia de informações dos contemporaneos, que por bem instruidos podiam melhor fornecel-as, foi-lhes forçoso lançarem-se desde o principio no mar das conjecturas, soccorrendo-se de inducções mais ou menos fundamentadas, quer para determinar questões de logar e tempo, quer para dar luz

a factos muitas vezes envoltos nas sombras do mysterio.

Cumpre porém confessar, que, apesar do muito que (mórmente em epochas modernas) a critica tem lidado para apurar a verdade, não são poucos nem de pequena monta os pontos sobre os quaes mal póde ainda assentar-se um juizo definitivo. Facil nos seria comprovar este asserto, mediante uma discussão em que não receiáramos entrar: veda-o porém a indole da tarefa que nos foi commettida, e ainda mais a exiguidade do espaço que para ella se nos faculta.

Assim limitar-nos-hemos á simples e succinta exposição chronologica da vida e acções do poeta, acostando-nos ás opiniões mais correntes, mas tomando principalmente por guia o sr. visconde de Juromenha, nos pontos em que este erudito e perseverante investigador conseguiu rectificar alguns erros e inadvertencias de seus predecessores.

Descendente de familia nobre, oriunda de Galliza, e cujo tronco começa em Vasco Pires de Camões, vindo para este reino no tempo de D. Fernando I, nasceu Luiz de Camões em Lisboa, ao que passa por mais certo, posto que antiga e modernamente Coimbra, Santarem e Alemquer pretendessem, com argumentos especiosos, disputar á capital a gloria que em verdade The resulta, de ter sido o berço de tão esclarecido filho. Foram seus paes Simão Vaz de Camões e Anna de

Sá, a quem alguns accrescentam o appellido de Macedo.

Se devemos inteira fé e credito a Manuel de Faria e Sousa, isto é, ao assento que elle affirma haver encontrado nos registros da Casa da India (sem que todavia saibamos como foram parar-lhe as mãos, nem que descaminho ou extrav o levaram depois), o poeta, contando de idade vinte e cinco annos no de 1550, deveria ter nascido por fins de 1524 ou principios de 1525: ao passo que os seus primeiros biographos lhe assignam a data do nascimento em 1517.

Não sendo para nós de peso algum o que ultimamente se escreveu em contrario, continuaremos a ter por mais provavel que em Lisboa começasse os seus primeiros estudos, indo depois continual-os em Coimbra, sob a direcção de seu tio D. Bento de Camões, que no anno de 1539 saira eleito geral da Congregação de Santa Cruz, e fôra pouco depois nomeado chancellario da Universidade. Da sua estada n'aquella cidade encontra-se mais de uma allusão nas suas poesias lyricas. Do seu aproveitamento litterario dão pleno e exuberante testemunho as suas obras. Não ha comtudo memoria ou vestigio de que chegasse a ser-lhe conferido algum dos graus, que, no concluir dos estudos, põem pelo dizer assim o sêllo aos trabalhos academicos.

Foi ainda nos ultimos tempos da sua permanencia em Coimbra (ao menos na opinião do sr. visconde de Juromenha) que teve começo a paixão amorosa, que tão poderosamente devia influir em toda a sua vida. O objecto d'esses amores, que o poeta á sua volta para Lisboa pelos annos de 1542 a 1545 veio encontrar na

côrte, era D. Catharina de Ataide, donzella da rainha D. Catharina, e filha de D. Antonio de Lima, então mordomo-mór do infante D. Duarte.

Os primeiros annos da sua residencia na côrte parece haverem sido para Luiz de Camões a epocha de felicidade, em que elle diz de si: «que andava farto, querido e cheio de favores e mercês de amigos e damas.» Seu talento e dotes naturaes não só lhe conciliaram a estima e convivencia das pessoas mais qualificadas, mas até The facilitaram a entrada no paço. Ahi com a frequencia e trato da dama, sem respeito ao local privilegiado, · tomaram incremento os amores, que divulgados por inveja ou ciume, provocando talvez as iras de parentes poderosos, fizeram que sobre o poeta recaisse a severidade da lei. E a essa causal attribue uma tradição, com visos de bem fundada, o desterro, que primeiro soffreu em logar situado nas margens do Tejo, que o sr. visconde conjectura ser Punhete (hoje villa de Constancia), e mais tarde, ao que se presume, por effeito de nova reincidencia, nas possessões d'Africa.

Na praça de Ceuta assistiu e militou por algum tempo, tomando parte nas refregas contra os mouros, e perdendo em um d'esses recontros o olho direito; se não é que, como alguns pretendem, tal desastre lhe sobreveiu á ida em combate naval, travado no estreito de Gibraltar com a propria embarcação que o transportava.

Parece que no anno de 1549, sendo chamado á côrte D. Affonso de Noronha, que estava de capitão em Ceuta, para ir succeder no governo da India a D. João de Castro, com elle viera o poeta no intuito de acompanhal-o áquellas paragens; para o que effectivamente

.

« VorigeDoorgaan »