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III 1

Missões dos capuchos, carmelitas e mercenarios ao Maranhão-Desavenças de Fr. Christovam de Lisboa, custodio dos capuchos, com o povo-Difficuldades que encontram os primeiros jesuitas para se estabelecerem em S. Luiz e em Belem-Annúem ás condições impostas pelo povo com restricções mentaes-Primeiros tumultos por causa das leis de liberdade de indios-Chegada do P. Antonio Vieira em janeiro de 1653-Posto que nascido em Portugal, passou este homem extraordinario mais de metade da sua vida no Brazil, e pertence á nossa historia.

Vamos entrar na segunda idade dos jesuitas no Brazil. Foi aquella em que floreceram no Maranhão, e em que, ás antigas virtudes individuaes, juntaram em alto gráu a ambição collectiva da influencia politica e poder temporal.

Todas as mais ordens religiosas forneceram missionarios ás conquistas, nenhuma porém como a companhia de Jesus, cujos membros eram os missiona

↑ Pertencia este capitulo ao livro VIII; mas tendo deslocado os que se lhe seguem, e respeitam a vida do padre Antonio Vieira, para passa-los para o volume IV, annexamo'-lo ao livro VII como convinha.

ríos por excellencia. Mas assim como entre as diversas ordens avultava e sobresahia a de S. Ignacio, assim entre todos os jesuitas realçava a grande figura do P. Antonio Vieira, brilhante personificação do instituto, em quem se resumiu todo o lustre e interesse daquelles tempos.

Escreveremos pois succintamente o que constar das diversas ordens-com mais largueza dos jesuitas-e porfim, quanto soubermos, do seu grande superior Antonio Vieira, em cuja vida encontrará o leitor o espirito, a ambição, a grandeza, os trabalhos, os sacrificios e a dedicação da ordem; como a historia toda inteira das raças indigenas sob a denominação portugueza, nas diversas relações com a liberdade, escravidão, catecheze e administração dos indios, ou consideremos essas relações em these, e involtas em fórmas legislativas; ou nos variados e infindos accidentes da acção e execução. ·

Os missionarios associavam-se a todos as explorações e expedições, se não eram elles mesmos que as emprehendiam e guiavam. Já vimos (a pag. 73) como em 1605 os padres Francisco Pinto, e Luiz Figueira, ambos jesuitas, tentaram chegar até a serra de Ybiapaba na esperança de converterem os selvagens que a povoavam, e como foram victimas da sua feresa, morto um, e outro afugentado.*

Logo no anno seguinte (1606) alguns outros jesuitas, da provincia de Quito exploraram o Alto-Amazonas, penetrando no territorio chamado de Cofanes, junto á nascente do rio Coca, no mesmo piedoso intento de conversão, que custou a vida ao P. Ferrier, sendo os outros obrigados a fugir. Estas explorações duraram até 1611.

Em 1637 o capitão João de Palacios desce da mesma cidade para explorar o grande rio. Não logrou o intento, que os selvagens o mataram; mas uns frades capuchos, de que se acompanhava, poderam vir até o Pará. Este successo accendeu no governador do Maranhão, Jacome Raymundo de Noronha, o desejo de tentar a mesma empreza; o capitão Pedro Teixeira, por ordem sua, subiu pelo Amazonas até Quito; e o collegio daquella cidade fe-lo acompanhar na volta por dous padres de muitas letras, que escrevessem a derrota, e as notícias que fossem colhendo daquellas regiões novas e desconhecidas, e dos gentios que as habitavam.

O nome dos jesuitas tambem se encontra nos descobrimentos das nações fabulosas das Amazonas, Pésvirados, Gigantes, Pygmeus, Barbados ou Ibirajáras, descendentes dos antigos naufragos de Ayres da Cunha; e dos Amanajós, de cabellos louros e olhos azues, oriundos dos hollandezes. Posto que, fallando dos descendentes dos Perós, (os barbados do Itapucurú) diga André de Barros que a sua fama é mais plausivel que averiguada; quanto à nação dos gigantes, afirma

desenganadamente que um missionario a descobriu em 1721 no rio Tocantins.1

Com a mesma intrepidez assevera este escriptor (Vida do P. Antonio Vieira, tom. 1.o, cap. 170 a 178) que a restauração do Maranhão. do jugo hollandez, foi devida, não a Antonio Moniz Barreiros e a Antonio Teixeira de Mello, senão principalmente aos jesuitas Lopo do Couto e Benedicto Amodei; á industria daquelle, que foi quem deu o plano do levantamento, e animou a elle Moniz Barreiros, seu sobrinho; e ás orações e penitencias deste, conhecido e venerado por sancto, e que, como tal, fôra quem abrandára e dobrára o ceo, antevira com prophetico espirito o fim do successo, e nos casos mais desesperados promettia aos indios e portuguezes a felicidade e o triumpho, com que vieram a ser vencidos os hereges. Se isto calaram os historiadores, (conclue o chronista da ordem) deixou-o ao menos em memoria n'uma certidão jurada o capitão-mór Antonio Teixeira de Mello.

Foi ainda um jesuita, Francisco de Vilhena, quem veio á Bahia com a nova da restauração de 1640, e com ordens e instrucções para faze-la aceitar dos povos do Brazil. Deixemos porém estes factos, ou duvidosos, ou isolados, para seguirmos as ordens nas suas obras mais serias e duradouras.

↑ Veja-se a nota G no fim do volume.

Já vimos que logo no principio da conquista vieram com Jeronymo de Albuquerque dous capuchos que se apossaram do convento dos capuchinhos francezes. Acrescentemos agora que com Alexandre de Moura, e por capellães da sua armada, vieram dous carmelitas, que em um sitio elevado da recente povoação levantaram seu convento, o primeiro que aqui houve de portuguezes. Alexandre de Moura lhes concedeu mais a ilha do Medo, e duas leguas de terra na de S. Luiz.

Tambem vieram na sua armada quatro jesuitas, a saber, os dous já mencionados Lopo do Couto, e Benedicto Amodei, pretendidos restauradores do Maranhão, outro cujo nome nos não foi conservado, e por superior de todos, o P. Luiz Figueira, que mais tarde veremos figurar nas perturbações civis. A estes, pelo emquanto, não se permittiu estabelecimento algum, e muito tardou primeiro que a côrte de Madrid lhes levantasse a prohibição. Por isso lhes foi forçoso seguirem para uma grande aldea do Monim a prégar a fé aos selvagens,

Os capuchos e carmelitas tomaram a si a conversão dos tupinambás, uns e outros, escreve Berredo, com grande fructo, Não foi isso parte todavia para que dentro em pouco não rebentasse a formidavel sublevação dos de Cuma, que se estendeu até o Pará; e para que se lhes não fizesse uma guerra de exterminio, começada por Mathias de Albuquerque, e continuada por Bento Maciel.

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