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NOTAS.

NOTA A-PAG. 144 E 164.

Como o trabalho que emprehendemos não tem menos de critico que de historico, não podemos vencer a tentação de trasladar aqui, como amostra, as poucas paginas que escreveu Beauchamp acerca deste glorioso episodio da guerra hollandeza no Brazil, afim de que vejam os leitores a maneira por que estes auctores estranhos tractam as nossas cousas.

«João Cornelissen (diz elle) capitão das guardas de Mauri«cio de Nassau, deu á vela para o Maranhão com treze navios, «e tropas de desembarque, pois Mauricio bem conhecia toda a importancia desta ilha. Bento-Miguel-Parentès, * commandante então de S. Luiz, cuidava mais dos seus interesses, que «da defeza da ilha, cujo forte apenas contava uma guarnição «de cerca de sessenta soldados mal armados, e sem disciplina. «Cornelissen traça o mesmo ardil que tam proveitoso lhe fôra já com o inepto commandante de S. Christovam, e Parentès «não averiguou melhor que este a sinceridade dos motivos allegados pelo commandante batavo para alcançar permissão «de desembarcar. «Haveis de saber, disse elle ao governador,

* Por muitas vezes se havia o auctor anteriormente referido a Bento Maciel; mas a adjuncção do appellido de-Parente-lh'o fez tomar por uma nova personagem, que é este-Bento-Miguel-Parentès--de cua invenção.

em como acaba de concluir-se uma tregoa entre Portugal e a «Hollanda; e nestas circumstancias, não deveis considerar-me «senão como um amigo desejoso de regosijar-se por tal alliança, «e como um official conhecedor dos seus deveres, que apenas «pede permissão para desembarcar uma parte dos seus soldados, enfermos e molestados da viagem. Só peço, para os soc«correr e restaurar, alguns viveres de boa qualidade, que de <resto serão pagos a dinheiro de contado. Reclamo estes soc«corros urgentes em nome da tregoa que acaba de reconciliar «as duas nações; mas confesso-vos que será grande prudencia «da vossa parte conceder-m'os sem dilação, em ordem a evitar «que a minha gente, no estado de penuria e desesperação em «que está, se não demasie, muito a meu pesar, em excessos «que ser-me-hia impossivel reprimir ou prevenir.»

«Parentés, que mais que tudo deseja preservar as suas pro<priedades, consente no desembarque; e Cornelissen, introduzido <assim com a capa da amisade, e seguro da pouca força da «guarnição, sem o menor pejo ordena immediatamente a occupação e saque da praça, faz substituir as armas de Portugal pelas da Hollanda, e obriga os habitantes a prestarem juramento «de fidelidade á republica das Provincias-Unidas. A muito custo permittiu elle o embarque dos soldados da guarnição; * Pa«rentès, victima a um tempo da imprudencia e da avareza, foi <conduzido prisioneiro ao Recife, onde acabou bem depressa cheio de miserias e desgostos, sem que Nassau de modo algum reprovasse o procedimento desleal havido para com elle,

«Inopinadamente, sem impulso algum estranho, movidos pelo «unico desejo de recobrar a independencia, os habitantes da ilha

* Tal permissão de embarque aos soldados nunca houve, sim uma deportação violenta de cento e cincoenta dos mais notaveis, habitantes.

<do Maranbão arvoram o estandarte da revolta. Subjugados com «quebra de um tractado, como vissem os seus inimigos não cuidosos do perigo, conceberam o projecto de sacodir o jugo. Os mais ricos d'entre elles formaram secretamente uma liga, a «cuja frente collocou-se D. Antonio Moniz Barreto, que governava «o paiz antes da invasão hollandeza. Moniz tinha perfeito conhecimento das localidades, e gosava de consideração tal que exercia uma influencia decisiva sobre todas as classes de habi«tantes. Reunindo pois secretamente alguns portuguezes, e negros de confiança, que todos lhe prestaram juramento de fidelidade e obediencia, favorecido das sombras da noite, sahe da «cidade, onde a liga tivera nascimento. **

Passa immediatamente ao continente em embarcações que já «estavam para esse fim dispostas, cahe de improviso sobre os <immensos engenhos de assucar que o inimigo occupava, e começa as suas operações por uma matança geral dos hollandezes da costa occidental. Surprehende do mesino modo o forte do «Calvario, passa a guarnição a fio d'espada, e só deixa a vida <salva a um pequeno numero de francezes que viviam de en«volta com os habitantes. Depois disto volve de novo á ilha, e <reforçado por outros insurgentes, vae direito sobre a propria «cidade de S. Luiz, que aliás o governador hollandez, advertido a tempo por um negro evadido do continente, acabava de pôr cem estado de defeza. Moniz ataca logo, e faz em postas um destacamento que sahira a explorar o terreno; e chegado em <frente da cidade, e reconhecidas as suas fortificações, faz jogar <sobre ellas a artilharia do forte do Calvario. Um soccorro de oitocentos homens que viera de Belem ás ordens de Antonio

* Quem governava o paiz na occasião da invasão era Bento Maciel. Antonio Moniz Barreiros fôra capitão-mór de S. Luiz cerca de vinte annos antes.

** A conjuração organisou-se no Itapucurú, onde residia Antonio Moniz em um de seus engenhos, e lá mesmo estalou. Não houve sahida alguma da cidade-favorecida ou não pelas sombras propicias da noite.

«Teixeira de Mello, * engrossou o numero dos sitiantes; e já <aberta uma larga brecha, ia dar-se o assalto, quando o bravo e <emprehendedor Moniz Barreto é ceifado em poucos dias por <uma molestia inflammatoria. Ficou o partido como corpo sem <alma; pois bem que se dessem pressa em nomear successor a <Moniz, a escolha, que recahiu em Antonio Teixeira, não mereceu a geral approvação. Levantaram-se disputas entre os insurgentes, e o assalto se foi dilatando. Ganharam com isso os hol<landezes, pois chegou-lhes um reforço de seiscentos homens <commandados pelo coronel Anderson, com o qual poderam «tentar uma vigorosa sortida. Os portuguezes foram atacados <nas suas linhas; e em seguida a uma acção sanguinolenta, muitos d'entre elles, fatigados da guerra, se retiraram para <o continente, com cuja defecção Antonio Teixeira se viu forçado a levantar o assedio.

«Os vencedores se derramam immediatamente pela campanha <em busca de viveres de que a praça sentia penuria; mas ei-los <que cahem em uma emboscada, e são quasi todos mortos. A <esperança renasce então no meio dos portuguezes que, anima<dos por Teixeira, vem de novo sobre a cidade, se fortificam nas «posições mais vantajosas, e repellem os hollandezes em di<versos ataques.

«As suas baterias fulminam de continuo essa cidade, onde já «a penuria fazia devastações, e para dar o assalto, Teixeira só «esperava a chegada de um corpo de infantaria regular que. <<sahira de Lisboa em um navio, sob o commando de Pedro d'Al«buquerque, mandado á toda pressa pela côrte, afim de restau<rar o Maranhão a todo custo. Mas o navio naufraga á vista do acampamento portuguez na passagem da barra, salvando-se apenas quarenta homens. Este desastre comtudo não

* O soccorro do Pará veio ás ordens de Pedro Maciel e João Velho do Valle. Antonio Teixeira era do Maranhão, o segundo chefe da insurreição, e um dos primeiros que a começaram.

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