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OITAVA III

Estas oitavas na primeira edição trazem este titulo: «Sobre a setta que o Santo Padre mandou a El-Rei D. Sebastiam, no anno de 1575 ». Devia ser este o papa Gregorio XIII. Já anteriormente havia outro papa enviado a el-rei D. João III a reliquia do braço do santo, ao que se refere Francisco de Sá de Miranda na elegia à morte do principe D. João. Em uma chronica, inedita, de el-rei D. Sebastião, escripta no anno de 1580, encontrou Manuel de Faria e Sousa esta noticia: «O braço do Martyr S. Sebastiam trazido a este reyno do Saco de Roma, em tempo de Clemente VII»

N'estas oitavas faz Camões aquelle falso vaticinio que faz tambem nos Lusiadas, e em que tinha por companheiros todos os poetas, oradores e aduladores, de que o joven principe derrubaria o poder ottomano. É tomando paridade dos poucos annos do principe e os de Ascanio, filho de Enéas, diz-lhe: que assim como o principe, em tão tenra idade, derrubou com uma flecha o capitão dos rutulos, Numano Remulo, que com suas bravatas affrontava os troyanos, elle com aquella flecha sagrada derrubará a arrogancia ottomana que blasfema contra o nome catholico. Desconfia Faria e Sousa, pela ultima oitava, que estes versos foram acompanhados novamente com a entrega de um exemplar dos Lusiadas.

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De Roma, e só reliquia do Troiano.

Romano, e só reliquia do Troyano.

Edição de 1595

Recebei com benigna e Real mão.

Recebei com benigna e lêda mão.

Edição de 1595.

OITAVA IV

É a glosa do soneto XIV. Esta oitava e as duas que se seguem encontrou-as Manuel de Faria e Sousa em dois manuscriptos; pelo estylo e assumpto irrecusavelmente é de Camões, e dirigida á sua D. Catharina de Athaide, como se deprehende d'este verso:

Natercia, Nympha bella, por quem vivo.

Commentando Faria e Sousa esta glosa, nos declara que a achou mui viciada de erros, de sorte que lhe foi necessario emenda-la, o que fez tambem em outras partes das rimas; porém não sem colhe-lo ou inferi-lo da variedade de copias, porque o que em uma está errado e confuso, apparece n'outra com mais luz. Esta poesia é uma especie de idilio, e julgo que foi escripta durante a estada no Ribatejo, por occasião do primeiro degredo.

OITAVA V

Glosa do soneto CXCIV. Eis-aqui o que nos diz Faria e Sousa a respeito d'esta poesia: «Hallela en un manuscrito de los que vinieron á mi mano. En el estilo no dexa de parecer del P. En otras cosas no: si fuere suia, sea-lo: sino, servirá de ver que fue estimado aquel soneto, pues le glosavan. Los curiosos que jusguen». É uma satyra sobre o desgoverno da India, e dirigida a uma senhora, á qual manifesta a saudade que experimenta por ella no meio d'aquelle estado desagradavel. Esta senhora não podia ser D. Catharina de Athaide, porquanto esta oitava foi escripta, como consta da mesma, no reinado de el-rei D. Sebastião, ou já depois da sua morte, epocha em que era tambem já fallecida a amante do Poeta. Não me parece de Camões, e inclino-me a acreditar que foi escripta já no tempo dos Filippes, pelos seguintes versos:

Cá nesta Babylonia onde a Nobreza
Da Lusitana gente se perdeu;

E do Grão Sebastiam toda a Grandeza
Irreparavelmente se perdeo.

Aquelle irreparavelmente parece-me indicar a desesperação do remedio da salvação publica por parte do vencido.

OITAVA VI

Estas oitavas são uma declaração de amores a uma senhora; parecem-me frouxas, e se são do Poeta, certamente não as dictou o coração.

OITAVA VII

Oitavas a Santa Ursula: dedicadas á infanta D. Maria, filha de el-rei D. Manuel. Antes de Diogo Bernardes publicar estas oitavas no anno de 1596, corriam ellas em nome de Camões. Em um soneto que as acompanha, dirigido á infanta, applicando-lhe Diogo Bernardes o «Hos ego versiculos feci » de Virgilio, se queixa

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o poeta do Lima de lhe ter roubado um vil engano a honra d'esta composição, e estando dedicada á dita infanta :

Caio para se ver peor tratada

Nas mãos, livre ja d'hum, d'outro tyrano.

E que, se sendo roubada foi tão aceita, apesar de lhe não ter lançado a ultima lima, agora corrigida e mais formosa vae ante a perfeição de sua alteza.

É muito interessante este soneto de Bernardes, para estabelecer a certeza de que a opinião do plagiato do mesmo de algumas obras de Camões, era contemporanea. O soneto e a composição devia ser feito antes do anno de 1577, em que falleceu aquella infanta, e quando ainda vivia Camões; mas estas duas composições só apparecem no anno de 1596, de sorte que nos deixa na mesma duvida. Se Bernardes tivesse publicado este poema em vida da infanta, seria levar a audacia ao maior auge, querendo acobertar um roubo debaixo do nome de uma tão augusta personagem, que alem d'isto podia ser juiza, pois devia saber quem era a pessoa que lhe dedicava a composição; mas como o soneto apparece posterior, podia tambem ser fabricado para fazer passar com mais força a opinião de que a composição era sua.

A dedicatoria que vem no corpo da obra na estancia Iv, principalmente os ultimos quatro versos, me parecem muito no estylo de Camões «lédo rosto » « dai o sentido hum pouco », etc., e com alguma analogia com o dos Lusiadas. As duas dedicatorias se acham em alguma contradicção; no soneto o Poeta se ufana da sua composição, que apesar de imperfeita e roubada, teve grande voga no publico, e que vae mais segura e formosa agora, não soffrendo cousa imperfeita ser dirigida a sua alteza; a outra dedicatoria porém é em estylo humilde.

Não tire o preço delle o meu defeito.

Comtudo eu não me atrevo a decidir. Faria e Sousa pretende decididamente que seja de Camões. Nas obras do Poeta vem melhoradas. Foram pela primeira vez publicadas como de Camões, por Faria e Sousa.

OITAVA VIII

Estas oitavas vem na edição de 1616 com este titulo: «Petição feita ao Regedor de hua nobre moça presa no Limoeiro da Cidade de Lisboa, por se dizer que fizera adulterio a seu marido, que era na India, feita por Luiz de Camões ». Faria e Sousa nega redondamente que estas oitavas fossem de Camões, e diz que devêra o regedor desterrar quem assim o pensasse; não obstante, não somos da opinião do commentador, e nos persuadimos que as oitavas são do nosso Poeta, não só porque nos parece a acção digna, e d'elle o estylo, postoque mais frouxo, mas tambem porque, alem d'isto, elle tinha relações intimas com a familia do regedor.

OITAVA IX

O assumpto d'estas oitavas (ineditas) são a fabula de Echo e Narciso; vem no MS. de Luiz Franco. São endereçadas a uma senhora; porém como não sei o auctor italiano d'onde foram traduzidas, ignoro se este endereço ou dedicatoria é do original ou do Poeta. D'esta traducção faz menção Manuel Severim de Faria na vida de Camões, bem como de outra que ainda se não descobriu, a Fabula de Byblis.

INDICE

DAS POESIAS CONTIDAS N'ESTE VOLUME

SONETOS

A chaga que, Senhora, me fizestes..
Acho-me da fortuna salteado....
A formosura desta fresca serra..
Agora toma a espada, agora a pena..
Ah Fortuna cruel! Ah duros Fados.
Ah minha Dinamene! assi deixaste.
Ai amiga cruel! que apartamento.
A lá en Monte Rey, en Bal de Laça.
Á la margen del Tajo, en claro dia.
Alegres campos, verdes arvoredos.
Alegres campos, verdes, deleitosos..
Alma gentil, que á firme eternidade
Alma minha gentil, que te partiste
Al pie de una verde e alta enzina.
Amor, amor, que fieres al coitado.
Amor, com a esperança ja perdida..

Amor he hum fogo que arde sem se ver..
Amor, que em sonhos vãos do pensamento.
Amor, que o gesto humano na alma escreve.

A morte, que da vida o nó desata ....
Aos homens hum só homem poz espanto.
Apartava-se Nise de Montano....
A peregrinação d'hum pensamento.
A perfeição, a graça, o doce geito...
Apollo e as nove Musas, descantando.
Aponta a bella Aurora, luz primeira.
Aquella que, de pura castidade
Aquella fera humana que enriquece.
Aquella triste e leda madrugada..

Aquelles claros olhos que chorando .
Aqui de longos damnos breve historia
A Romana populaça proguntava ..
Ar, que de meus suspiros vejo cheio.
Arvore, cujo pomo bello e brando..
A ti Senhor, à quem as Sacras Musas

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