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pela linguagem ou pelo estilo outros elementos, mas só aquilo lhe é próprio e peculiar. O que é preciso conhecer, antes de mais, sam os que deixaram nome imorredouro na cultura literária de Portugal e que como tais sam considerados seus filhos mais gloriosos, porque por êles se criou eterno e grande o nome da Patria querida. A história da literatura portuguêsa apresentar-nos-há os nomes dêsses beneméritos, os factos principais da sua vida e as suas obras mais importantes e mais dignas de serem conhecidas e imitadas. E' um campo vastissimo e dos mais curiosos e instrutivos.

O estudo da Literatura é, pois, profundamente scientifico. Remontando a Sainte-Beuve, que agrupou as suas críticas em volta dum grande nome, por ex., de Chateaubriand e do meio em que êle viveu, a Taine que nos seus estudos literários dos Países-Baixos e da Inglaterra e noutros partiu da idéa do meio, da raça, e do momento, completa-se com Brunetière que mostra o valor dum novo elemento -a evolução, que nos permite avaliar o encadeamento dos factos literários. Por outro lado surgiu tambêm o conceito estético com a criação desta sciência por Baumgarten (1762) e a sua divulgação por Guyau, Hennequin, etc., até à sua aplicação ao campo literário por Bouterweck, Bellerman, Sismondi e outros. De modo que se chegou a um conceito inteiramente novo da História literária que, alargando-lhe o âmbito, tornou a missão do historiador muito mais dificultosa pela complexidade de investigações a que terá de proceder fazendo que ele seja, por vezes, simultâneamente, não simples historiador, mas filólogo, arqueólogo, crítico, estéta, etc.

3. Antologia portuguêsa. Mas não podemos nem devemos limitar-nos ao estudo bio-bliográfico dos escritores portugueses. Ao lado desse conhecimento, que é indispensável, a lição colhida da própria leitura das obras que imortalizaram seus autores é, antes de tudo, necessária e útil. Por isso damos no nosso trabalho larga parte aos documentos, que constituem uma verdadeira Antologia de prosa e poesia desde as orígens até á atualidade, e que sam tanto mais importantes quanto a raridade de muitos dos livros portugueses, bem como a sua reprodução cuidadosa e esmerada, torna ainda mais dificultosa a lição e aproveitamento que deles pode e deve de tirar-se. Não esqueçámos, porêm, que êste livro representa um mero subsidio. Como compêndio ou manual não passa de sintese de idéas complecissimas. O seu estudo tem de ser acompanhado de esforços próprios, base de todo o saber.

4.- Divisão da História da literatura portuguêsa. A história da nossa literatura pode considerar-se dividida em três grandes épocas, marcando três grandes correntes de ideias dominante:

1-Medieval abrangendo os séculos XII a XV;

Clássica compreendendo os séculos XVI a XIX;

III- Romântica, que principia em 1825.

Nestas três épocas fica abrangida a vida literária do nosso país:

a) primeiro, uma fase de infância ou de iniciação, período das origens em que a lingua sai pouco a pouco, através de fórmas múltiplas, do latim popular, do qual, como em outro logar vimos, ela com as suas congéneres novi-latinas deriva'. A literatura ensaia tambêm os seus primeiros vôos; os documentos literários que possuimos dêste periodo, a princípio irregulares e até mesmo, por vezes, ininteligiveis, gradual e sucessivamente se acentuam e caraterizam. Até 1245, reinado de D. Sancho II, há o que pode chamar-se o período proto-histórico da literatura, em que se faz uso duma língua ainda na sua infância; com D. Afonso III abre-se uma éra de progresso, a lingua começa a fixar-se, os pensamentos que ela é chamada a traduzir sam ingénuos, graciosos, cheios de vivacidade, embora a prosa seja ainda hesitante e a versificação muitas vezes dura e pouco regular. Nesta época, que denominamos Medieval, predominam por um lado os TROVADORES, em grande parte influenciados pela corrente que provinha da Provença, por outro os CRONISTAS, dominados pela grande figura de Fernão Lopes.

b) Inicia-se em seguida o Classicismo, época a princípio de esplendor e virilidade e em que as obras clássicas dos gregos e latinos, impostas pelo Renascimento, sam o modelo e o guia de todos os espíritos cultos. Cria-se a Epopeia nacional; funda-se o Teatro. A lingua entra abertamente nuna fase histórica, definida e regular; toma fórmas amplas e opulentas nas obras dos que chamamos os clássicos dos séculos XVI e XVII, auxiliados ou secundados na fixação dessas formas pelos gramáticos, como Fernão de Oliveira e João de Barros.

Uma tríplice corrente-italiana no século XVI, espanhola no XVII e francêsa no XVIII, atravessa sucessivamente esta época, á qual com propriedade compete a designação de clássica por durante ela se fazer sempre sentir o predomínio das literaturas grega e latina. Mas a energia e vigor de estilo que assinalam as obras de muitos dos escritores desta primeira fase, que bem pode chamar-se áurea, a louçania e pintoresco que traduzem na sua linguagem, vēem a decair na afectação e agudeza dos conceitos e no artificio dos sentimentos postos em jogo pelos escritores cultistas ou gongoristas do século XVII. Pelos meados do século XVIII opera-se uma reacção:—é o período do Arcadismo. E' a França que nos dá os cánones por onde

1 Cfr. a nossa Introdução á Historia da Literatura Portuguêsa, 3. ed., Coimbra, 1911, 1 vol.

se guiam os autores portugueses, entre os quais alguns, como Bocage, Filinto e Tolentino sam verdadeiros precursores da época imediata.

c) Por último temos a terceira época a Romântica, em que se estabelece a fusão dos antigos elementos medievais com os populares e tradicionais. Iniciada sob a poderosa acção de Garrett e Herculano a breve trecho os exageros dos sequazes, os ultra-romanticos, provoca a reacção dos Dissidentes e com ela a dissolução das escolas literárias.

Temos, pois

I Epoca Medieval abrangendo os séculos XII a XV e compreendendo as Escolas: 1.") dos Trovadores ou Provençal 1200-1385. Iniciada pelo tempo de D. Sancho I, isto é, pelos primeiros anos do século xin termina com o começo das empresas marítimas, a entrada numa nova fase histórica. 2.) Epoca dos Poetas Palacianos e Crónistas 1385-1521, isto é, desde a subida ao trono de D. João 1 até á morte de D. Manoel.

II Epoca Clássica desde o século XVI até o XVIII e compreendendo: 3.) Escola Quinhentista ou Italiana 1521-1580, a edade áurea da nossa vida literária, assinalada pelos dois grandes genios-Camões e Gil Vicente; 4.) Escola Seiscentista ou Gongórica 15801700, que marca a supremacia do gosto espanhol, esterilizando muitos dos nossos bons engenhos; 5.) Escola Arcadica 1700-1825, o periodo das Academias e Arcadias, em que muito se trabalhou pela restauração da língua e do bom gosto literário.

III Epoca Romântica iniciada com a publicação do Cames e da D. Branca de Almeida Garrett.

E' claro que estas divisões ou outras congéneres não têem uma rigidez matemática nos seus limites definidos com precisão.

Seguidas mais ou menos desde o sábio helenista francês Boisonnade, que em 1806 escrevia «para que a história literária seja convenientemente tratada é preciso dividi-la em certas idades, cada uma das quais tenha sua feição particular», salvam-se nas suas linhas gerais.

5. Critério desta divisão. A divisão que acabamos de fazer não é isenta de defeitos, parecendo antes e nem sempre com rigor mais adequada a uma divisão de história da poesia portuguêsa do que a uma divisão da história geral da literatura. Por outro lado como que amesquinha a originalidade da nossa literatura pondo em relevo as correntes estranjeiras a que ela se subordinou ou pelas quais se deixou guiar.

Mas além de que nenhuma classificação, em princípio, é isenta de defeitos, deve ponderar-se que ela oferece vantagens didáticas — a) distinguindo e acentuando com nitidez as fases predominantes da evolução literária, b) delimitando épocas, cuja distinção é efectiva e

real, c) e prestando-se, por isso, a uma melhor fixação da parte de quem a estuda. Por outro lado, quando falamos em correntes estranjeiras não queremos dizer que elas sejam o elemento principal e fundamental da nossa literatura. Em todos os países houve sempre na sua vida de espirito uma ou outra corrente de imitação. E' um factor secundário, contingente, prestes a desaparecer deante doutro mais intenso. O que fica sempre, o que é primordial e basilar é o que deriva da própria natureza, do próprio organismo social. Quando Bouterweck em 1804, Sismondi em 18292 e Wolff em 1843 se referiram á falta de originalidade da Literatura Portuguêsa ou á sua dependência de literaturas estranjeiras não existiam ainda publicados os Cancioneiros, por ex., e facilmente se atribuíam a espanhois obras nossas, como os romances de Amadis e do Palmeirim.

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Descontemos, portanto, a parte inegável de imitação dos grandes modelos estranjeiros e ainda nos ficará muito e em todos os géneros com que afirmar uma honrosa independência literária. Estabelecido assim o critério da divisão não há inconveniente em aceitá-la. Obedecendo ainda ao critério pedagógico seguimos quanto possível a exposição cronológica mantendo dentro dela a seriação dos géneros característicos, de fórma a ressaltar de tudo um quadro geral e a síntese harmónica e perfeitamente bem estabelecida da nossa evolução

literária.

6.- Esquema geral. No quadro seguinte contēem-se e harmonizam-se entre si as classificações mais adoptadas pelos autores.

1

Geschichte der portug. Poesie und Bereds amkeit, Gottingen, 1805

(Vol. 4.o da Gesch, der Poesie und Beredsamkeit).

2 De la litt. du Midi de l'Europe, Paris, 4 vols.

3 Zur Gesch. der Port. Lit. na Mittelalter in Hallische Allg. Litt.— Zeitung, Mai 1843, nos. 87-91) trad. fr. de Du Méril-Journal des Savants de Normandie, Caen, 1844) reimpr. nos Studien zur Gesch. des sp. und port. National-Litt., Berlin, 1859.

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