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Foram tirados d'esta edição 200 exemplares em papel superior

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Typ. de G. Leuzinger & Filhos, rua d'Ouvidor 31

1890

S.A. BR37 po

College Leavey

Transferred from Hawark College
January 8, 1900

BAPTISTA (1)

Quando em 12 de abril de 1882, em carta, me dizias: « Remetto-vos os vocabularios que me tinheis emprestado, os quaes estão em meu poder ha tempo immemoravel, porque... porque... uma fatalidade entendia nunca me permittir trabalhar seguido, e, trabalhando sempre, nunca pude fazer nada, nada posso fazer e nada farei, porque agora toca a arrumar a mala, bater a bota e seguir viagem do outro mundo, ou antes, deste mundo para o cemiterio, onde tudo acaba... », longe estava eu de pensar que a 21 de dezembro desse mesmo anno teria de ir descer o teu corpo à sepultura e desfolhar sobre elle as flores da amisade humedecidas pelas lagrimas da saudade.

Tambem não pensei que, como um tributo de saudosa homenagem, viesse hoje dedicar-te um trabalho imperfeito, que o não seria se ainda existissem as nossas continuas palestras sobre linguas americanas, pois teu saber e tuas luzes não consentiriam que tal acontecesse.

Disseste nos Ensaios de sciencia, nessa revista que foi theatro de tua estréa e laço de união de tres amigos: « Barbosa Rodrigues, com o seu distincto espirito de observação, colligiu notas preciosissimas dos fallares de indios com os quaes tratou e delles se vê que no valle do Amazonas ainda fallam-se dialectos de abaneenga menos eivado de portuguez do que o nheengatu fallado no Baixo-Amazonas e especialmente no Pará e suas immediações; que em muitas malocas, com as quaes tratou Barbosa Rodrigues, fallam-se dialectos que em tudo lembram a derivação omagua e portanto filiam-se ao abaneenga.

Pois bem. Venho hoje apresentar-te o resultado de alguns estudos que confirmam, até certo ponto, tua opinião, e mostram que o nheengatu, posto que, corrompido pela influencia portugueza, menos viciado no Amazonas que

(1) Nasceu Baptista Caetano d'Almeida Nogueira em 5 de dezembro de 1826, em Kamandokaia, provincia de Minas Geraes; bacharelou-se em mathematicas a 19 de setembro de 1855; casou-se a 25 de março de 1856; enviuvou em 1874 e falleceu a 21 de dezembro de 1882. Foi autor de varios trabalhos linguisticos e o primeiro guaranylogo brasileiro.

no Pará, comtudo é mais puro que o tupi do Sul e que o guarany, porque o influxo extranho não conseguiu apagar, no fundo, a pronuncia primitiva do abaneenga. Isso escapou á tua perspicacia, senão teriamos hoje uma obra magistral, que talvez conseguisse rehabilitar a pobre lingua, actualmente estropiada e desprezada.

Desculpa os erros, mestre e amigo, perdôa a ousadia, Baptista (quantum habeo hoc tibi do), e acceita este trabalho como uma grinalda de flores silvestres, que hoje deposito em teu jasigo, pranteando o 5.° anniversario de tua ida para a mansão dos justos.

Manáos, 21 de dezembro de 1887.

J. BARBOSA RODRIGUES.

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