Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

Não-Eterno, e potente, e grande e forte,
Creador de milagres e protentos,
O sceptro que avassalla vida e morte,
Deu-t'o a ti, creador de pensamentos.

Deu-t'o engenho e com esse dom primeiro
Deu-te cr'oa de flores e de espinhos -
Poz-te entre o céu e a terra medianeiro
Para os homens guiar nos bons caminhos.

Poz-te ahi por fiel depositario
Do brando consolar, doce piedade;
Poz-te ahi, ó Poeta, solitario
Para chorar na triste humanidade.

Doe na terra uma dor — vai tu,

Poeta,

Levar-lhe logo o balsamo celeste.
Uma vida tocou da vida a metta
Vai plantar n'esse tumulo um cypreste.

Algum pranto correu - acolhe-o n'alma ! Alguma flor murchou - por ella chora! Algum ente soffreu-da-lhe uma palma ! Algum ai se exalou seu mal minora !

Crava os olhos no céu, d'onde te veio
Essa missão tão nobre, e tão sagrada
Deus tens na mente, tens amor no seio:
Ergue, ó Poeta, a fronte laurcada.

[ocr errors]

E eu fui sentar-me à sombra do arvoredo
Do valle bem no fundo,

Da tarde a viração rompia a medo

Mudez e paz ao mundo.

Ido era o sol. No cimo da montanha
Um raio seu ficára

Quebrado e só. -Em solidão tamanha
Que voz erguer-se ousára ?

No loureiro do bosque ave canora
Erma nota soltou.

Fallaram échos. - Era triste a hora.
Triste a nota.voou.

E de antro em antro ao longe repetida
Voou, voou....

morreu,

E d'aragem nas azas conduzida ;

Lá foi parar no céu!....

Tal corre, ó Poeta, incerto o dia

Aqui triste canção,

Alli teu Deus.... e alguma pedra fria
Em raso, humilde chão.

Mas não desmaies não, ó rei dos hymnos,
És grande ainda, és nobre,

Inda podes mandar sobre os destinos
E consolar o pobre.

Inda podes queimar ao Deus, que adoras
Incensos d'entro d'alma.

Dizer podes ao triste: - Porque choras?
Depois prestar-lhe calma,

Depois chorar com elle e acalentar-lhe
A dôr dos males seus,

E adormecer-lh'a, e quebrantal-a, e dar-lhe
A oração de Deus.

Podes ainda ao perdido viandante,

Sozinho em noite escura,

Dar luz de esp'rança, facho radiante,
Livral-o d'amargura.

Dizer podes aos grandes : Affastai-vos!

E, em teu solio d'amor,

Da terra aos potentados retirai-vos!

[blocks in formation]

As extremas da vida que viveste

Não são na sepultura:

Foi breve, foi pequena a que tiveste
Tens outra que mais dura.

E nem no chão das campas se t'ergueram
Barreiras da existencia :

Onde os outros do mundo morte houveram, Bebeste nova essencia.

Foste humilde e mesquinho, e pobre d'ouro
Serás rico de gloria:

Na louza chan irão lançar-te um louro,
É louro de victoria.

O véu do tempo é véu d'esquecimento

Para o grande ignorado.

Tu vives, qual não vive em seu moimento Incognito abastado !

IV

O' Poeta, ó Poeta, que encontraste
Lá n'esses céus formosos?

[ocr errors][ocr errors][merged small][merged small]

LIZIA POETICA

OU

COLLECÇÃO DE POESIAS MODERNAS

D'AUCTORES PORTUGUEZES.

INTRODUCÇÃO.

n'estes ultimos annos que os talentos juvenis tem surgido em Portugal de uma maneira espantosa. Com tudo, as suas producções são pouco conhecidas; porque a maior parte d'elles publicam-as nos jornaes litterarios, e estes jornaes quasi nunca chegam ao dominio do publico do Rio de Janeiro, porque ordinariamente morrem á nascença, ou se passam do terceiro numero é já um milagre. Não pertencemos ao numero dos depreciadores das cousas alhêas, mas não

« VorigeDoorgaan »