Não-Eterno, e potente, e grande e forte, Deu-t'o engenho e com esse dom primeiro Poz-te ahi por fiel depositario Doe na terra uma dor — vai tu, Poeta, Levar-lhe logo o balsamo celeste. Algum pranto correu - acolhe-o n'alma ! Alguma flor murchou - por ella chora! Algum ente soffreu-da-lhe uma palma ! Algum ai se exalou seu mal minora ! Crava os olhos no céu, d'onde te veio E eu fui sentar-me à sombra do arvoredo Da tarde a viração rompia a medo Mudez e paz ao mundo. Ido era o sol. No cimo da montanha Quebrado e só. -Em solidão tamanha No loureiro do bosque ave canora Fallaram échos. - Era triste a hora. E de antro em antro ao longe repetida morreu, E d'aragem nas azas conduzida ; Lá foi parar no céu!.... Tal corre, ó Poeta, incerto o dia Aqui triste canção, Alli teu Deus.... e alguma pedra fria Mas não desmaies não, ó rei dos hymnos, Inda podes mandar sobre os destinos Inda podes queimar ao Deus, que adoras Dizer podes ao triste: - Porque choras? Depois chorar com elle e acalentar-lhe E adormecer-lh'a, e quebrantal-a, e dar-lhe Podes ainda ao perdido viandante, Sozinho em noite escura, Dar luz de esp'rança, facho radiante, Dizer podes aos grandes : Affastai-vos! E, em teu solio d'amor, Da terra aos potentados retirai-vos! As extremas da vida que viveste Não são na sepultura: Foi breve, foi pequena a que tiveste E nem no chão das campas se t'ergueram Onde os outros do mundo morte houveram, Bebeste nova essencia. Foste humilde e mesquinho, e pobre d'ouro Na louza chan irão lançar-te um louro, O véu do tempo é véu d'esquecimento Para o grande ignorado. Tu vives, qual não vive em seu moimento Incognito abastado ! IV O' Poeta, ó Poeta, que encontraste LIZIA POETICA OU COLLECÇÃO DE POESIAS MODERNAS D'AUCTORES PORTUGUEZES. INTRODUCÇÃO. n'estes ultimos annos que os talentos juvenis tem surgido em Portugal de uma maneira espantosa. Com tudo, as suas producções são pouco conhecidas; porque a maior parte d'elles publicam-as nos jornaes litterarios, e estes jornaes quasi nunca chegam ao dominio do publico do Rio de Janeiro, porque ordinariamente morrem á nascença, ou se passam do terceiro numero é já um milagre. Não pertencemos ao numero dos depreciadores das cousas alhêas, mas não |