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CXLI

E pois, se os peitos fortes enfraquece
Hum inconcesso amor desatinado,
Bem no filho de Alcmena se parece,
Quando em Omphale andava transformado:
De Marco Antonio a fama se escurece,
Com ser tanto a Cleopátra affeiçoado:
Tu tambem, Pono prospero, o sentiste,
Despois que hua moça vil na Apulia viste.

CXLII

Mas quem pode livrar-se por ventura
Dos laços, que amor arma brandamente
Entre as rosas, e a neve humana pura,
O ouro, e o alabastro transparente?
Quem de huma peregrina formosura,
De hum vulto de Medusa propriamente,
Que o coração converte, que tem preso,
Em pedra não; mas em desejo acceso?

CXLIII

Quem vio hum olhar seguro, hum gesto brando,
Huma suave, e angelica excellencia,
Que em si está sempre as almas transformando,
Que tivesse contra ella resistencia?
Desculpado por certo está Fernando,
Para quem tem de amor experiencia :
Mas antes, tendo livre a phantasia,
Por muito mais culpado o julgaria.

OS LUSIADAS

CANTO QUARTO

ARGUMENTO

Continúa o Gama a prática com El-Rei de Melinde, e refere as guerras de Portugal com Castella sobre a successão do Reino, por morte de D.

militares do Condestuvelando: façanhas

D.

Pereira: batalha, e victoria de Aljubarrota: diligencias que se fizerão para descobrir a India por mar, em tempo de El-Rei D.

João o 11: como El-Rei D. Manoel conseguio esse fim, determinando esta viagem: prevenções para ella: embarque e despedida dos navegantes nas praias de Belem.

OUTRO ARGUMENTO

Acclamado João, de Pedro herdeiro,
Convoca Leonor ao Castelhano:
Oppõem-se Nuno, intrepido guerreiro;
Dá-se batalha; vence o Lusitano :
Quem a Aurora buscar tentou primeiro
Pelas tumidas ondas do Oceano :
E como ao Gama coube esta empreza,
Por affinar a gloria Portugueza.

1.1

OS LUSIADAS

CANTO QUARTO

Despois de procellosa tempestade,
Nocturna sombra, e sibilante vento,
Traz a manhãa serena claridade,
Esperança de porto, e salvamento:
Aparta o Sol a negra esuridade,
Removendo o temor do pensamento:
Assi no reino forte aconteceo,
Despois que o Rei Fernando falleceo;

IL

Porque se muito os nossos desejaram,
Quem os damnos e offensas vá vingando
Naquelles, que tão bem se aproveitaram
Do descuido remisso de Fernando;
Despois de pouco tempo o alcançaram,
Joanne sempre illustre alevantando
Por Rei, como de Pedro unico herdeiro,
(Aindaque bastardo) verdadeiro.

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III

Ser isto ordenação dos Ceos divina,
Por signaes muito claros se mostrou,
Quando em Evora a voz de huma menina,
Ante tempo fallando, o nomeou :

E como cousa em fim, que o Ceo destina,
No berço o corpo, e a voz alevantou :
Portugal, Portugal, alçando a mão,
Disse, pelo Rei novo, Dom João.

IV

Alteradas então do reino as gentes
Co'o odio, que occupado os peitos tinha,
Absolutas cruezas, e evidentes
Faz do povo o furor, por onde vinha :
Matando vão amigos, e parentes
Do adultero Conde, e da Rainha,
Com quem sua incontinencia deshonesta
Mais, depois de viuva, manisfesta.

V

Mas elle em fim, com causa deshonrado,
Diante della a ferro frio morre,

De outros muitos na morte acompanhado;
Que todo o fogo erguido queima, e corre:
Quem, como Astyanax, precipitado
(Sem lhe valerem ordens) de alta torre,
A quem Ordens, nem aras, nem respeito:
Quem nu por ruas, e 'em pedaços feito.

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