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ARGUMENTO

Livre já das traições, e perigos que o amcaçavão, sahe Vasco da Gama de Calecut, e volta para o Reino com as alegres novas do descobrimento da India Oriental: encaminha-o Venus a huma Ilha deliciosa: descripção da mesma Ilha: desembarque dos navegantes: festivas demonstrações com que alli são recebidos, das Nereidas os soldados, e de Thetis o Gamn.

OUTRO ARGUMENTO

Parte de Calecut o Lusitano,
Com as alegres novas do Oriente,
E no meio do tumido Oceano,

Venus lhe mostra huma Insula excellente :
Aqui de todo bem soffrido dano,
Acha repouso assaz conveniente,

E com Nymphas gentis o mais do dia
Em festas passa, e jogos de alegria.

OS LUSIADAS

CANTO NONO

I

Tiveram longamente na cidade,

Sem vender-se, a fazenda os dous feitores;
Que os infieis por manha, e falsidade
Fazem, que não lha comprem mercadores;
Que todo seu proposito, e vontade,
Era deter alli os descobridores

Da India tanto tempo, que viessem
De Meca as náos, que as suas desfizessem.

H

Lá no seio Erythrêo, onde fundada
Arsinoe foi do Egypcio Ptolemeo,
Do nome da irmãa sua assi chamada,
Que despois em Suez se converteo,
Não longe o porto jaz da nomeada
Cidade Meca, que se engrandeceo
Com a superstição falsa, e profana
Da religiosa agua Mahometana.

III

Gidá se chama o porto, aonde o trato
De todo o Roxo mar mais florecia,
De que tinha proveito grande, e grato
O Soldão, que esse reino possuia.
Daqui aos Malabares, por contrato
Dos infieis, formosa companhia
De grandes náos pelo Indico Oceano
Especiaria vem buscar cada anno.

IV

Por estas náos os Mouros esperavam, Que, como fossem grandes e possantes, Aquellas, que o commercio lhe tomavam, Com flammas abrazassem crepitantes: Neste soccorro tanto confiavam,

Que já não querem mais dos navegantes, Senão que tanto tempo alli tardassem, Que da famosa Meca as náos chegassem.

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Mas o Governador dos ceos, e gentes,
Que, para quanto tem determinado,
De longe os meios dá convenientes,
Por onde vem a effeito o fim fadado;
Influio piedosos accidentes

De affeição em Monçaide, que guardado
Estava para dar ao Gama aviso,
E merecer por isso o Paraiso.

VI

Este, de quem se os Mouros não guardavam,
Por ser Mouro, como elles, antes era
Participante em quanto machinavam;
A tenção lhe descobre torpe e fera:
Muitas vezes as náos, que longe estavam,
Visita, e com piedade considera

O damno, sem razão, que se lhe ordena
Pela maligna gente Sarracena:

VII

Informa o cauto Gama das armadas,
Que de Arabica Meca vem cada anno,
Que agora são dos seus tão desejadas,
Para ser instrumento deste dano:
Diz-lhe, que vem de gente carregadas,
E dos trovões horrendos de Vulcano,
E que pode ser dellas opprimido,
Segundo estava mal apercebido.

VIN

O Gama, que tambem considerava
O tempo, que para a partida o chama,
E que despacho já não esperava

Melhor do Rei, que os Mahometanos ama:
Aos feitores, que em terra estão, mandava,
Que se tornem ás náos: e, porque a fama
Desta subita vinda os não impida,
Lhe manda, que a fizessem escondida.

IX

Porêm não tardou muito, que voando
Hum rumor não soasse com verdade,
Que foram presos os feitores, quando
Fôram sentidos vir-se da cidade.
Esta fama as orelhas penetrando
Do sabio Capitão, com brevidade
Faz represalia n'huns, que ás náos vieram
A vender pedraria, que trouxeram,

X

Eram estes antiguos mercadores,
Ricos em Calecut, e conhecidos:
Da falta delles logo entre os melhores
Sentido foi, que estão no mar retidos.
Mas já nas náos os bons trabalhadores
Volvem o cabrestante, e, repartidos
Pelo trabalho, huns puxam pela amarra,
Outros quebram co'o peito duro a barra:

ΧΙ

Outros pendem da verga, e já desatam
A vela, que com grita se soltava;

Quando com maior grita ao Rei relatam
A préssa, com que a armada se levava:
As mulheres, e filhos, que se matam,
Daquelles, que vão presos, onde estava
O Samorim, se aqueixam, que perdidos
Huns tem os pais, as outras os maridos.

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