S E X T I N A III. Oh triste, oh tenebroso, oh cruel dia, Mas como eu não nasci para ter glória, Suave, deleitosa, alegre vista, Como desejarei humana vida, Pois sem ti ja não posso ser contentc, Não posso sem te ver desejar vista; Não ver a glória tua he ver meu damno. E pois de dia em dia cresce o damno, Nem posso sem tal vista ser contente, Só com perder a vida acharei glória. SEX TINA IV. Sempre me queixarei desta crueza E praza a Deos não veja o proprio tempo Porém ja acabe o triste e duro fado! Acabe o tempo ja tão triste vida, Duro Amor! se pagava só tal vista Sem ti, que posso eu ver senão crueza? Sem ti, qual bem me póde dar o fado, Se não he consentir que acabe a vida? Mas elle della me dilata o tempo. Azas para voar vejo no tempo, Que com voar a muitos foi remedio; E só não vôa para a minha vida. Para que a quero eu sem tua vista? Para que quer tambem o triste fado Que não acabe o tempo tal crueza? Não poderão fazer crueza, ou tempo, Fòrça de fado, ou falta de remedio, Qu'essa vista m'esqueça em toda a vida. E L E G I A S. E L E G I A I. 0 sulmonense Ovidio desterrado Na aspereza do Ponto, imaginando Ver-se de seus Penates apartado; Sua chara mulher desamparando, Seus doces filhos, seu contentamento, De sua Patria os olhos apartando; Não podendo encobrir o sentimento, Aos montes ja, ja aos rios se queixava De seu escuro e triste nascimento. O curso das estrellas contemplava, E aquella ordem com que discorria O ceo e o ar, e a terra adonde estaya. Os peixes por o mar nadando via, De suas fontes via estar nascendo Assi só, de seu proprio natural Só sua doce Musa o acompanha Dest'arte me figura a phantasia Aqui contemplo o gôsto ja passado, Aqui vejo caduca e debil glória Aqui me representa esta lembrança Quão pouca culpa tenho; e m'entristece Ver sem razão a pena que m'alcança. Que a pena que com causa se padece, A causa tira o sentimento della; Mas muito doe a que se não merece. Quando a roxa manhãa, dourada e bella, Abre as portas ao sol e cahe o orvalho, E torna a seus queixumes Philomela; Este cuidado, que co'o somno atalho, Em sonhos me parece; que o que a gente Por seu descanso tēe me dá trabalho. E despois de acordado cegamente, (Ou, por melhor dizer, desacordado, Que pouco acórdo logra hum descontente) Daqui me vou, com passo carregado, A hum outeiro erguido, e alli m'assento, Soltando toda a redea a meu cuidado. Despois de farto ja de meu tormento, |