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A luz de tantos bellos apagar-se ?
Vendo a purpurea rosa, a cecein pura
Em tão forinosas faces descorar-se?
As tranças d'ouro vendo, espedaçadas,
Por debaixo dos pés andar pizadas?

Na força desta furia accesa e brava
0 Tyranno cruel a vista ergueo
Á virgem, qu’invencivel animaya
As almas que juntára para o Ceo.
Assi ja envolta em sangue como andava,
Da sua formosura se venceo;
E com doces razões, que Ainor ensina,
A vencê-la d'amor se determina.

Fingindo se arrepende do passado,
(E de fingi-lo se arrepende azinha)
Sua vida lhe offrece e seu Estado,
Sem ver qu'Estado e vida a perder vinha.
O seu amor lhe pede confiado;
O seu amor que dado a seu Deos tinha:
Pede-lhe o seu amor; antes não seu,
Porque ja dado o havia a quem lho deu.

Usa de mil lisonjas, mil enganos,
Por conseguir o seu desejo bruto.
A flor logra (dizia) de teus anos,
Colhe d'essa belleza o doce fruto:
Não dês materia nova a novos danos,
Não pagues verde á morte o seu tributo:
Olha que tens em mi (não são cautelas )
Outro Reino, outro esposo, outras donzelas.

Não faças mentirosa a natureza
Que dá d'amor em ti grande esperança.

Que se pode alcançar d'essa belleza,
Se ja piedade della não s'alcança?
Aos tigres, aos leões deixa a braveza,
E deixa aos meus soldados a vingança.
Se por ver-me cruel queres ser crua,
Ja te vingas de mi em cousa tua.

Volve esses olhos ja com mais brandura;
Esses olhos, d’Amor doce morada:
Delles não faça em mi a formosura,
O qu'em tantos ja fez a minha espada.
Se queres derribar ininha ventura,
Que delles estar vejo pendurada,
Acabarei de ver quão pouca tenho,
Pois donde a matar vim a morrer venho.

Como do rôgo meu não te aproveitas,
Quando o teu risco a me rogar te obriga?
Ou não conheces bem a quem engeitas,
Ou m'engeitas por inais que seja e diga.
Em que cuidas, Senhora ? ou que suspeitas?
Mais proprio era chamar-te dura imiga.
Mas não consente Amor nome tão duro
Em parecer tão brando e tão seguro.

Os raios desses olhos ja serenos
Enxuguem desse rosto as puras rosas;
0 triste suspirar ja sôe menos
Nestas concavidades saudosas.
Não fação grande mal males pequenos ;
Que não soffre esperanças vagarosas
Quem anda costumado em seus ainores
A medir por seu gosto seus favores.

Que gôsto podes ter de maltratar-me,

Vendo-me do passado arrependido?
Attenta que mais ganhas em ganhar-me,
Do que neste destroço tens perdido.
Se queres insistir em desprezar-me,
Ver-me-has, sôbre amoroso, enfurecido.
Não me declaro mais, porque não quero
Que o medo faça o que d'amor espero.

Ah persido amador! deixa o teu erro.
Não vês quanto enganado e cego andas?
Aquella a quem não vence o duro ferro,
Como a podem vencer palavras brandas?
Manda a sua alma ja deste destêrro,
Com essas que a seu doce Esposo mandas.
Não a detenhas mais em teus amores,
Se dobrar-lhe não queres suas dores.

Vendo o cruel, emfiun, que o que dizia, Tomava a bella virgem por affronta, E que quanto d'amor mais se accendia, Ella delle fazia menos conta; No concavo arco que na mão trazia, Huma setta embebeo d'aguda ponta, E o peito lhe passou de banda a banda. Assi rendeo o esprito a virgem branda.

Vae-te, Esprito gentil, desta baixeza; As azas abre ja, ja a luz derraina; Vôa com desusada ligeireza Onde o teu Bem t'espera, onde te chama. Verás baixa do mundo a mór alteza; Verás qu'engana mais a quem mais ama; E lá do teu Amor, ca suspirado, O fructo colherás tão desejado.

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Em paz te vae, ó alma pura e bella, Mais bella inda no sangue que verteste; Vae-te alegre a gozar, vac, ja daquella Formosa Região, alta e celeste. Coroada de glória immortal, nella Com Christo lograrás, a quem te deste Com tantas e tão bem nascidas almas, (Formosura do Ceo) onze mil palmas.

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