។ huma pera-pão, e huma donzella, que vem podre de amor, fallando como Apostolo, mais piedosa que huma lamentação. MARTIM. Para estes taes he grande peça rapaz travesso com molho de junco, porque não andem mais ao coscorrão, inais roucos que huma cigarra, trazendo de si enfadamento. Moço. Ó lá Senhoras; pedem as figuras alfinetes para toucarem hum Escudeiro. Ora sús, ha hi quem dê mais? que ainda vos veja todas a mim ás rebatinhas: ora sus, venhão de mano em mano, ou de mana em mana. MORDOMO. Moço. Senhor, não faz ao caso; que os erros por amores tēe privilegio de Moedeiro. AMBROSIO. ó rapaz, não me entendes? Pergunto-te se tardarão muito por entrar. Moço. Parece-me, Senhor, que antes que ainanheça começarão. AMBROSIO. Moço. AMBROSIO. Moço. Nas mãos das parteiras. AMBROSIO. Em que terra? Moço. Toda a terra he huma; e mais eu nasci em casa assobradada, varrida daquella hora, que não havia palmo de terra nella. MARTIM. Bem varrido de vergonha que me tu pareces. Dize: Cujo filho es? He para ver com que disparate respondes. Moço. A fallar verdade, parece-me a mi, que eu sou filho de hum meu tio. MARTIM. Vem cá. De teu tio! E isso como? Moço. Como? Isto, Senhor, he adivinhação, que vossas mercês não entendem. Meu pae era Clerigo, e os Clerigos sempre chamão aos filhos sobrinhos; e daqui me ficou a mi ser filho de meu tio. MARTIM. Ora te digo que es gracioso. Senhor, donde houvestes este? MORDOMO. Aqui me veio as mãos sem piós nem nada; e eu por gracioso o tomei; e mais tee outra cousa, que huma trova fa-la tão bem como vós, ou como eu, ou como o Chiado. AMBROSIO. Não! quanté disso nós havemos-lhe de ver fazer alguma cousa, em quanto se vestem as figuras. Aindaque, para que he mais Auto, que vermos a este? MORDOMO. Vem cá, moço: dize aquella trova que fizeste á moça Briolanja, por amor de mi! Moço. Senhor, si, direi; mas aquella trova não he senão para quem a entender. MARTIM. Como! Tão escura he ella? Moço. Senhor, assi a fiz e a escrevi na memoria, porque eu não sei escrever senão com carvão; e porém diz assi: Por amor de vós, Briolanja, Ando eu morto, Pezar de meu avô torto. MARTEM. Oh como he galante! Que descuido tão gracioso! Mas vem cá: que culpa te tee teu avô nos desfavores que te tua dama dá? Moço. Pois, Senhor, se eu houve de pezar de alguem, não pezarei eu antes dos meus parentes, que dos alheios? MORDOMO. Pois oução vossas mercês a volta; que he mais cheia de gavetas, que trombeta de Serenissimo de la Valla. Moço. A volta , Senhores, he mui funda; e parece-me, Senhores, que nem de mergulho a entenderão. E por isso mandem assoar os engenhos, e metão mais huma sardinha no entendimento; e pode ser que com esta servilha lhe calçará melhor: e todavia palra assi: Vossos olhos tão daninhos MARTIM. Ora bem: que tệe de ver os cominhos com o teu coração? Moço. Pois, Senhores, coração, bofes, baço e toda a outra mais cabedella, não se podem comer senão com cominhos: e mais, Senhores, minha dama era tendeira; e este he o verdadeiro entendimento. MARTIM. E aquella regra que diz, Meu bem anda sem focinhos, me dá tu a entender; que ella não dá nada de si. Moço. Nunca vossas mercês ouvirão dizer: Meu bem e meu mal lutárão hum dia; meu bem era tal, que meu mal o vencia? Pois desta luta foi tamanha a quéda que meu bem deo entre humas pedras, que quebrou os focinhos; e por ficarem tão esfarrapados, que lhe não podião botar pedaço; por conselho dos Physicos lhos cortárão por lhe nelles não saltarem erpes; e daqui ficou: Meu bem anda sem focinhos, como diz o texto. AMBROSIO. Tu fazes ja melhores argumentos, que moços de estudo por dia de S. Nicolao. MARTIM. Senhor, aquillo tudo he bom engenho: este moço he natural para Logico. Moço. Que, Senhor? Natural para loja! Si, inas não tão fria como vossas mercês. MORDOMO. Parece-me, Senhor, que entra a primeira figura. Moço, mete-te aqui por baixo desta inesa, e ouçamos este Representador, que vem mais amarrotado dos encontros, que hum capuz roxo de piloto que sabe em terra, e o tira da arca de cedro. MARTIM. AMBROSIO. Mais parece ourinol capado, que anda de amores com a menina dos olhos verdes. MORDOMO. Entra o Representador. He lei de direito, assaz verdadeira, |