Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

JUPITER.
Estes, que logo vereis
Se são vãos, se de raiz.
Patrão, vós sêde juiz,
Que vós logo enxergareis
Qual mais verdade vos diz.

BELFERRÃO.
Eu não sinto onde consista
A cura desta doença,
Que ha tão pouca differença,
Que aquelle em que ponho a vista,
Por esse dou a sentença.
Mas, Senhor, vós que ordenastes
Que o juiz disto fosse eu,
Quando se a batalha deu,
Dizei, que m'encommendastes
Que ficasse a cargo meu?

JUPITER.
Dei-yos cargo, qu'estivesse
Toda a Arinada a bom recado,
E, se mal nos succedesse,
Que para os vivos houvesse
O refugio apparelhado.

BELFERRÃO.
Ora vós quantes dobrões
Esse dia m'entregastes?

AMPHITRIÃO.
Tres mil; e vós os contastes.

BELFERRÃO.
Ambos sois Amphitriões
Pelos sinaes que mostrastes.

JUPITER
Para ser mais conhecida
A tenção deste sandeu,
Vède est' outro sinal meu,
Que he neste braço a ferida
Que me El Rei Terela deu.

BELFERRÃO.
Mostrae vós, Senhor, tambem.

AMPHITRIÃO. Aqui o podeis olhar.

BELFERRÃO. Oh cousa para espantar! Que ambos a ferida tem D’hum tamanho, em hum lugar!

[blocks in formation]

Jupiter, Amphitrião e Sosea.

SOSEA.
Dice mi Señora Alcmena
Que no se ha de asi de estar
Con un bobo á razonar,
Que se le enfria la cena.

JUPITER.
Belferrão, vainos cear.

AMPHITRIÃO. Belferrão, não me deixeis. Como? tambem me negais?

JUPITER. Andae, não vos detenhais,

Vamos comer, se quereis,
Não ouçais hum doudo mais.

AMPHITRIÃO.
Ah maos! assi me ordenais
Offensa tão mal olhada?
Eu farei, se m'esperais,
Com que todos conheçais
Os fios da minha espada.

JUPITER.
As portas prestes fechemos,
Não entre este doudo cá.

SOSEA.
De fuera se dormirá:
Entre tanto que cenemos,
Puede pasearse alla.

S CE N A III.

AMPHITRIÃO só.
Oh ira para não crer,
Em que minh'alma se abraza,
Que me faz endoudecer,
E não me ajuda a romper
As paredes desta casa!
E porque? Não tenho eu
Forças, que tudo destrua?
Pois que tanto a salvo seu,
Outrem acho que possua
A melhor parte do meu;
Eu irei hoje buscar

Quem me ajude a vir queimar Toda esta casa sem pena, Donde veja arder Alcmena, Com quem a vejo enganar.

SCE NA IV.

Aurelio e Moço.

AURELIO.
No hallo á mis males culpa,
Para que merezca pena
La causa que me condena.

Moço.
Essa está gentil desculpa
Para hoje dar a Alcmena!
Tēe-no mandado chamar,
E elle está tão descuidado!

AURELIO.
Moço, queres-ine matar?
Que desculpa posso eu dar
Melhor qu'este meu cuidado?

Moço.
E não ha mais que fazer?
Com isso a boca me tapa
Para mais nada dizer?

AURELIO.
Ora dá-me cá essa capa,
E vamos ver o que quer:
Não trates de mais razão,
Pois não ha quem te resista.
Que vejo? outra novação!

Moço.

Que he ?

AURELIO.

Ou me mente a vista, Ou eu vejo Amphitrião.

Moço.
Eu ouvi a Feliseo,
Quando cá trouxe o recado,
Como elle era chegado,
E quiz-me dizer que veo
Do siso desconcertado.

AURELIO.
Isso quero eu ir saber,
Pois que tal cousa se sõa.

SC Ε Ν Α V.
Aurelio e Amphitrião.

AURELIO.
Senhor, póde-se dizer
Que a vinda seja mui boa?

AMPHITRIÃO. Essa não pode ella ser.

AURELIO. Porque não?

AMPHITRIÃO.

Porque he roubada Minha honra sem temor, E minha casa tomada, E vossa Prima enganada Por hum grande encantador.

« VorigeDoorgaan »