Existe em Lisboa outra de que tenho agora noticia, por hum amigo fidedigno: he em outavo tão pequeno que parece 16o. OS LVSIADAS De Luis de Camoes. Agora de novo impresso com alguas anotações Por Manoel de Lyra. Em Lisboa. Anno 1591. Esta edição tem as outavas numeradas. Não tive occasião de a ver. OS LVSIADAS DE LVIS de Camões. Polo original antigo agora nouamente impressos. EM LISBOA, Por Manoel de Lyra, 1597. A custa de Esteuão Lopez mercador de liuros. Este tinha obtido privilegio em 1595 que vai transcripto no verso da segunda folha, ou 4 pagina. He em outavo. Com que autoridade, ou licença, tinha imprimido Manoel de Lyra o Poema em 1584? Diogo Barbosa nota huma edição feita em 1607 por Crasbeeck. O Padre Thomás de Aquino refere outra dada á luz em Lisboa, 1609, pelo mesmo impressor, e dedicada por Domingos Fernandez a D. Rodrigo da Cunha. Não vi estas duas, e assim não posso julgar da sua fidelidade, e merecimento. Tenho porém a que imprimio o sobredito Pedro Crasbeeck em Lisboa, no anno de 1613, que tambem he dedicada a D. Rodrigo da Cunha por Domingos Fernandez seu livreiro, com os commentos de Manoel Correa, em 8° largo. He bem provavel que esta faça pouca, talvez nenhuma differença da de 1609, de que falla o Padre Thomás. Se assim he, a affirmação do mesmo Padre, que a dita edição concorda com a de Manoel de Faria e Sousa, he inexacta. Igualmente tenho presente a edição, em pequeno 18°, dada por Pedro Crasbeeck, no anno 1631, corrigida por Joam Franco Barreto, em razão dos vicios, diz elle, com que tão corrupto andava (o Poema) nas outras edições. LVSIADAS de Luis de Camoens, comentadas por Manuel de Faria i Sousa. Quatro tomos folio, b año 1639. En Madrid, por Juan Sanchez. (Inclusas 5 folhas inteiras, e debaixo de cada marca A, B, etc.). LUSIADA Poema Epico de Camoes, etc. illustrado com varias, e breves notas, e com hum precedente apparato do que lhe pertence, por Ignacio Garcez Ferreira; 2 tomos em peq. 4°. Em Napoles o 1o 1731, em Roma o II° 1732. OBRAS de Luis de Camões. Segunda edição, da que, na Officina Luisiana, se fez em Lisboa nos annos de 1779, e 1780; 5 vol. 12°. Lisboa. Na Offic. de Simão Thaddeo Ferreira. Anno 1782. Desta foi editor o Padre Thomás Joseph de Aquino. LUSIADAS de Luis de Camoens: em pequeno 16°. Coimbra, na Imprensa da Universidade. 1800. Nenhuma destas edições pode comparar-se com qualquer das muitas e boas, aindaque reputadas ordinarias, que todas as nações possuem copiosamente dos seus Classicos (2). As que acabo de numerar são todas mal impressas, sobre hum papel muito inferior, com typos mal abertos e muito mediocres, e com pouca correcção typographica. Deste defeito grave nenhuma dellas he isenta, nem mesmo as de Manoel de Faria, e do Padre Thomás de Aquino, que aliás se jactam da sua correcção; de forma que ainda neste sentido, não tem razão de tanto declamarem contra as primeiras, nas quaes verdade he que se encontram erros typographicos, mas em menor numero do que elles pretendem. Não são porém estes defeitos os de que eu arguirei os editores sobreditos; mas sim os accusarei todos perante o publico, do attentado escandaloso de terem alterado e corrompido o texto original das primeiras edições, impressas debaixo dos olhos de Camões, e publicadas com a sua autorisação, e isto sem allegarem hum só fundamento solido, nem plausivel, para lhe ser perdoada huma tal liberdade (3). Não ignoro que corre huma tradição vaga, de que a primeira edição original fora viciada na impressão, e que por essa causa Luis de Camões fizera imprimir a segunda corrigida por elle. Esta tradição originou-se, ou tomou mais consistencia do lugar acima citado de Manoel de Faria. Mas nenhum editor allegou esta razão, mostrando as lições varias das duas edições originaes, e caracterisando a primeira e a segunda. Pelo contrario será evidente a todos os que consultarem a edição de Manoel de Faria, que elle, quando deo esta em Madrid, não tinha noticia alguma de duas. edições de 1572, mas só de huma que chama em muitos lugares el original; o que não lhe obstou para deixar de separar-se delle. De tudo quanto se tem publicado nesta materia não pode colligir-se certeza de qual das duas edições de 1572 seja a mais correcta; e de quanto eu pude averiguar não resulta outra noticia, senão que differem na sua orthographia, a qual não estando fixada ainda em Portugal, he cousa de pouco momento; e que fóra disso não são grandes, nem muito essenciaes as differenças. He positivo que Manoel de Faria não sabia, quando publicou o Poema, que existiam estas duas ediçoes. De mais, o que elle diz no So 27 da segunda vida não he sufficiente para distinguir qual he a primeira ou segunda edição nesses exemplares de 1572. |