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ecclesiam tuam regere se levanta o sacerdote o qual com todos esta prostado em quanto se diz a ladainha pelos cantores, e elle levantado diz Ut hanc sanctam sinodum regere et iluminare digneris, isto trez vezes. Depois da ladainha se levantão todos e diz o sacerdote Oremus e o diachono depois diz Flectamus genua e diz o sacerdote sua oração. Depois toma o diachono a benção e diz hum evangelho. O da primeira foi Designavit Dominus, o da segunda me nom lembra, o desta Ascendens Jezus iu naviculam. O ultimo cantão os cantores Veni creator spiritus e diz o sacerdote hua oração do spiritu sancto e depois o diachono Benedicamus Domino.-Todo o tempo que ha entre sessão e sessão se fazem os mais dos dias congregações em hum paço dos legados, e ali consultão as cousas que hão de ser publicadas nas sessões as quacs se fazem na igreja maior onde pera isso está deputado lugar.»

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De repente os ares turvaram-se e levantou-se no concilio a questão vital para o papado e a base de todas as reformas: Se o papa era ou não superior aos Concilios? Balthazar de Faria communicava-o a D. João III em carta de 20 de fevereiro de 1546: «A XIX deste veo nova de Tramto como todavia insistiam os bispos espanhois que se determinase primeiro que se falase nas cousas da fe, utrum concilium sit supra papam vel e contra, do que Sua Santidade esta sentido. Dizem que os framcezes sam de opiniam que sit concilium supra papam.» Era esta a doutrina que prevalecia na Egreja, determinada pelo concilio de Constança, contra a qual o proprio secretario Eneas Sylvio, depois de papa, tinha reagido. Não admira que Paulo III se assustasse com essa questão proposta pelos imperiaes; a adhesão dos francezes a ella levava-o a olhar para os Jesuitas como seu sustentaculo exclusivo. Laynez tinha pendente do triumpho da sua dialectica o futuro da Companhia. Era esta a questão magna do Concilio, reapparecendo sempre sob todas as fórmas; assim, quando foram classificar esse acto solemne da reforma e revisão dos dogmas, quizeram chamar-lhe: «Santo Concilio eucumenico, legitimamente reunido sob o influxo do Espirito Santo, os Legados apostolicos ali presentes... » Já esta fórmula não pareceu bem, por causa da idéa de legitimidade, que deixava a convocação do papa em segundo plano. Quando á phrase dos Legados apostolicos quizeram juntar Representando a Egreja universal, a controversia tornouse mais accesa, e subiu de ponto ao propôr a fórmula dos Concilios de Constança e Basilea: «tendo o seu poder immediatamente de Jesus Christo,

1 Corpo diplomatico, t. vi, p. 26.

poder ao qual todos de qualquer condição que sejam, mesmo papal, são obrigados a obedecer.» Os partidarios do papa luctaram e venceram pela fadiga; o concilio cedeu, compensando-se d'esta derrota fundamental pelo poder de nomear os seus funccionarios, mezas e commissões, que o papa tambem queria impôr ao concilio. Veiu depois a questão da ordem das materias: os partidarios do papa queriam que se começasse pela revisão dos dogmas, porque n'essas abstracções ficaria intacta a hierarchia, porém os mais sinceros queriam a reforma da disciplina. A lucta terminou pela discussão mixta, mas surgia outra questão ainda mais irritante: o papa reservava-se a iniciativa das propostas apresentadas ao Concilio pelos seus legados, ou a questão das Postulata; o Concilio reagiu sempre no decurso dos tres pontificados da sua duração, e por fim ia sendo ludibriado com a fórmula capciosa, escripta á frente de todas as determinações, Proponentibus legatis, que só foi retirada por esta outra, ainda mais cavillosa, e sobre que se veiu a fundar o absolutismo pontificio, Salva semper auctoritate sedis apostolicae. Em carta de 1 de abril de 1546, a Balthazar de Faria, D. João III avisa-o: «Por ategora nam ter das cousas do concilio a certeza que convinha que tivese pera poder mandar a ele meus enbaixadores, me detive todo este tempo em os nomear e mandar fazer prestes. E como soube que ho dito concilio hia adiante, e que eram já feitas alguñas sesões...» nomêa seu embaixador D. Pedro de Mascarenhas: «E juntamente com ele mando com o mesmo nome de meus embaixadores outros dous leterados em direito canonico e civil em que muyto confio, e de cujas letras e bondade tenho asy mesmo a experiencia e confiança que se requere. Os dois letrados eram Mestre Diogo de Gouvêa e o Doutor João Paes, mas só tomaram parte no concilio em 1551, por causa da scisão desesperada que se dera em 1547, desmembrando-se o concilio de Trento, e indo os partidarios do papa para Bolonha, que era cidade do Estado da Egreja, onde se julgavam mais á vontade. Frei Jorge de Santiago, em carta datada de Bolonha de 25 de abril de 1547, dá conta do facto a D. João III: «Nesta sessão (21 de abril) nam se fez outra cousa senão aprovar e confirmar a translação e mudança que se fez do concilio de Trento pera esta cidade, e assinar a futura proxima sessão pera quinta feira despois do piticoste que serão dous de junho.-Os prelados que aqui se acharão forão 36, 3 geraies e huum ou dous abades. Os mais ainda não eram vindos porque os imperiaies ficarão en Trento:

1 Corpo diplomatico portuguez, t. vi, p. 32.

dos francezes o huum se foy e os dous esperam recado de seu novo Rei segundo dizem: e alguus dos italianos foram a ver suas igreijas antes que viessem.- Eu cheguei aqui o dia da sessão a tarde e nam quis vir antes por não estar presente, por parecer convir asi mais ao serviço de Vossa Alteza. Ainda que isto nam emportava muito, todavia quis amostrarme neutral e nam estar fora nem bem dentro especialmente porque os companheiros nam aviam vindo e qua dizia sse que elles estavam ainda en Trento, do qual avia admiraçam e desgosto.Quanto ao permanecer aqui o concilio, nam sei o que sera porque dizem que o emperador tomou mal esta mudança e andão muitos recados entre o papa e sua magestade. Do que suceder escreverǝi logo a Vossa Alteza. A mudança ordenada por Paulo III fôra a pretexto de um contagio que grassava em Trento; D. João III mandou immediatamente carta a Aleixo de Figueiredo para que Frei Jeronymo de Azambuja e Frei Gaspar dos Reis se apresentassem em Bolonha; estes escreveram ao monarcha em 11 de julho de 1547: «que em Bolonha se não fazia nada e se dava licença a muitos bispos pera ir a folgar.. Os bispos espanhois estam aynda todos em Trento. Escreve se de Bolonha que el Rey de França manda muitos bispos ao concilio nom obstante a desconformidade entre o papa e o emperador acerca do lugar, mas falamos ontem com hum arcebispo frances pera saber disso a verdade, e nos disse ser verdade que estavão ja nomeados onze pera vir mas que não cree que venhão ate que o papa e o emperador se concertem porque ele e outro que esta em Verona indo se pera França despois do concilio mudado, teverão carta del Rey no caminho que andasem por aqui ao redor contemporizando ate ver seu mandado e que nunca mais escrevera que fossem o que fezera se determinara de mandar os outros.»2 O bispo do Porto escreve com data de 7 de novembro um longo relatorio sobre particularidades do concilio: «Ate o começo do mes de setembro esteverão muyto pouquos perlados em Bolonha e todos erão italyanos, e não se fazyão comgregações jeraees.. E estamdo pera se fazer a sessão amtes do dya assynado chegou a Bolonha o fisqual do emperador pera protestar de nulytate por parte de sua magestade e que não obedeceria o que se fizese aly na sessão fazemdo se ella. E nesta conjunção dom Dioguo de Memdoça embaxador do emperador asemtou com ho cardeal Farnes que o papa mamdase

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1 Corpo diplomatico portuguez, t. vi, p 136.

2 Ibidem, p. 162.

que se não fezese a sessão no tempo que estava assynada nem se detrymynase o dia em que se faria... Depois de relatar a discordia de Paulo III com Carlos v, por causa dos ducados de Parma e Placencia, continúa: «a Bolonha vem muytos perlados framcesses e são ja vymdos oyto, e todavya allguas pessoas de autorydade e que sabem destes negoceos querem dizer que ho comcillio que ha de ir avamte e que ho emperador se ha de comcertar com ho papa: e tãobem dizem que hos luteranos apertão que lhe dem comcillio e que querem estar ao que se nele detrymynar e aquy veyo agora hua carta delles ao papa sobre ysso mas o certo do socesso do comcillio aimda se não sabe.» 1 Era a questão dos ducados o periodo agudo da lucta do papa com o imperador; Paulo ш voltava-se para a França, sempre indeciso, e Carlos v, sabendo que os protestantes eram excluidos do concilio, publicou um Interim ou formulario de vinte e seis artigos de fé, como para acalmar as cidades protestantes conquistadas. Balthazar de Faria, em carta de 18 de julho de 1548, dá conta a D. João III das explicações de Carlos v: aquamto ao do imterim, Sua Magestade lhe respomdera que souvera cos luteranos como acreador com roims devedores que toma delles o que pode. E que a Sua Santidade nam devia parecer isto pouco, comsiderando o que nesta parte era feito e a obediemtia que davam a se apostolica.» 2 Agitava-se a questão da desistencia do concilio em Bolonha, e alguns dos bispos mais sinceros votavam que se regressasse para Trento, como meio de acabarem as dissidencias. Em carta de 12 de janeiro de 1548 já os tres theologos portuguezes do concilio escreviam collectivamente ao rei: «A xx de dezembro escrevemos a Vossa Alteza o que ate então avia acontecido, specialmente de como o papa para responder ao enperador sobre a tornada a Trento avia mandado pedir o parecer dos perlados que aqui estão, (Bolonha) no qual o bispo do Porto votou (ho que sempre faz) como perlado muito douto, muito zeloso, e muito amigo da paz...»3 O voto do bispo: «que deviam de tornar a Trento pelo bem que disso se esperava» desagradou profundamente ao papa, que o mandara seduzir com a promessa do titulo de cardeal: de Roma lhe avião mandado muitas esperanças de o fazerem cardeal, e podese sospeitar que era pera o fazer inbicar e torcer em seus pareceres, mas emtão deu muito mayor sinal de sua virtude

1 Corpo diplomatico portuguez, t. vi, p. 193 e 194.

2 Ibidem, p. 281.

3 Ibidem, p. 227.

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e boa entenção votando de tal sorte todas as vezes que se ha ofrecido que mostrou claramente quam pouco desejoso estava de tais fantazias e promessas e quam longe de as aceitar. E asi polo voto que deu que seria bem que tornassem a Trento logo alcançou ho que desejava que era mudar neles tal proposito se ho tinhão porque logo lh escreverão de Roma seus amigos que dormisse descanssado porque o papa recebera tam mal seu voto que mandara descoser capelo. Isto escrevemos a Vossa Alteza pera que veja qual ca anda o mundo. O cardeal Santa Cruz insultou publicamente o bispo por causa de ter dito «que o papa buscava moras ao concilio o qual nom convinha mas que era justo acabar de se concertar com o emperador.» 2 O bispo do Porto, em carta. de 2 de março de 1548, escreve a D. João III, pedindo para se retirar do concilio: «por quão mal os legados recebem os meus votos dos quoaes cuydo que emformarão o papa como lhe bem parecer e ja deste ficarey eu bem lomge da graça de Sua Santidade e da sua deles. E emquoamto o papa não estever comforme com o emperador duvido muyto poder se fazer coussa que seja proveytossa a christaandade.» 3 As revelações de Paolo Sarpi sobre as miserias do concilio não são mais cruas do que o que se descobre na correspondencia dos emissarios portuguezes. Recorria-se ao veneno para simplificar as questões. Na carta de Frei Jeronymo de Azambuja, de 12 de janeiro de 1548, lê-se: «O que despois pera ca a sucedido he seguiren se amostras quanto humanamente se pode alcançar que Sua Santidade e os perlados que aqui estão (Bolonha) pretendião fazer cedo aqui sessão, cousa que segundo parece seria pouco serviço de nosso Senhor e pouco proveitosa polo pouco credito que se lhe daria e serviria mais pera acabar descandalizar e indinar o emperador que pera confutar os hereges e reduzir os errados: mas por ventura esta sua entemçam cessara com hum grave caso que pouco ha aqui aconteceo: pera o qual Vossa Alteza sabera (como lho ja temos escrito) que aqui estam por mandado do emperador desde o principio de setembro o licenciado Vargas seu fiscal e do seu conselho e o doutor Velasco desembargador da chancelaria de Valhadolid, e porque sua estada aqui he muito prejudicativa a sua entenção de ca que he fazerem sessão, porque eles estam pera protestar em nome do emperador que não aceita este concilio como geral, desejam

1 Corpo diplomatico portuguez, t. vi, p. 229.

2 Ibidem, p. 230.

3 Ibidem, p. 238.

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