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LVII

NO TUMULO DE UM MENINO

Um anjo dorme aqui; na aurora apenas,
Disse adeus ao brilhar das açucenas
Sem ter da vida alevantado o véo.
-Rosa tocada do cruel graniso-
Cedo finou-se e no infantil sorriso
Passou do berço p'ra brincar no céo !

Maio-1858.

LVIII

A J. J. C. MACEDO-JUNIOR

Poéte, prends ta lyre; aigle, ouvre ta jeune aile;
Etoile, etoile, léve-toi!

V. HUGO.

Como o indio a saudar o sol nascente,
Co'o sorriso nos labios, franco e ledo
Aperto a tua mão:

Cantor das açucenas, crê-me agora,
Este canto que a lyra balbucia
É pobre, mas de irmão!

Quando se sente como eu sinto e soffro,
A mente ferve e o coração palpita

De glorias e de amor:

Se ouço Arthur ao piano eu me extasio,
Mas ouvindo teus hymnos me arrebato
E pasmo ante o cantor!

Na juventude, no florir dos annos,
Não sei que vozes nos entornão n'alma
Canções de cherubim!

Uns perdem, como eu, cedo os verdores,
Mas outros crescem no primor das graças
E tu serás assim!

Oh! mocidade! como és bella e rica!

Hymnos de amores n'este sec'lo bruto!
Louvor ao menestrel!

Palmas a ti, cantor das açucenas!

Quatorze primaveras n'essa fronte
Semelhão-te um laurel!

Quando tão moço, no raiar da vida,
Já doce cantas como o doce aroma
Das languidas cecens,

Podes, criança, erguer a fronte altiva!
Como André-Chénier, no craneo augusto
Alguma cousa tens!

Não desmintas, irmão, este propheta,
Sybarita indolente, sobre rosas

Não queiras tu dormir,

Se ao longe já te brilha amiga estrella
Aproveita o talento-estuda e pensa-
É bello o teu porvir!

Não faças como nós; na infancia apenas
Solta poeta o gorgeiar de amores

Que é doce o teu cantar.

Seja a vida p'ra ti só riso e galas
E adormeças a scismar quimeras
Da noite no luar.

Não faças como nós; não desças louco
A buscar sensações na bruta orgia
Das longas saturnaes;

Se a lama impura salpicar-te as pennas,
Sacode as azas minha pomba casta

E foge dos pardaes.

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Não manches, meu poeta, as vestes brancas
No mundo infame; mirra-se a grinalda
E vão-se as illusões!

A crença se desbota e o nauta chora
Desanimado no vai-vem teimoso

Dos grossos vagalhões!

Foge do canto da gentil sereia
Que engana com sorriso de feitiços
-Tão pallida Rachel!

Não encostes na taça os labios soffregos...
O vaso queima e beberás nos risos
Da amargura o fel!

Conserva na tua alma a virgindade,
E tenha o coração na rica aurora
Das rosas o matiz;

Se a donzella cuspir nos teus amores
Chora perdida essa illusão primeira...
Mas vive e sê feliz!

Se a dor för grande não te vergues fraco, Oh! não escondas no sepulchro a fronte Aos raios d'este sol;

Não vás como Azevedo-o pobre genioEmbrulhar-te sem dó na flor dos annos Da morte no lençol!

Vive e canta e ama esta natura,

A patria, o céo azul, o mar sereno,
A veiga que seduz;

E possa, meu poeta, essa existencia
Ser um lindo vergel todo banhado
De aromas e de luz!

Maio-1858.

Oh! canta e canta sempre! esses teus hymnos

Eu sei, terão no céo echos mais santos
Que a terra não dará;

Oh! canta! é doce ao triste que soluça
Ouvir saudoso no cahir da tarde
A voz do sabiá!

Canta! e que teus hymnos d'esperança
Despertem d'este mundo de miserias
A estupida mudez;

E dos preludios d'essa lyra ingenua
Em poucos annos surgirá brilhante
Millevoye-talvez!

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