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OS MEUS SONHOS

I

Como era bello esse tempo
De tão doces illusões,

De tardes bellas, amenas,
De noites sempre serenas,
De estrellas vivas e puras;
Quadra de riso e de flores
Em que eu sonhava venturas,
Em que eu cuidava de amores!

Ah! minha infancia saudosa,
Que me mostravas á mente
N'esse viver innocente,
Tão verdejante e florida
A longa estrada da vida
Que é toda, toda escabrosa!
E eu, inexperta creança,
Que tinha fé no porvir
Por ver o mar em bonança
E minha mãe a sorrir!...
E julguei que era verdade!
E acreditava nos sonhos
Feiticeiros e risonhos!

Illusões da mocidade

Cheias de terna magia,
Nascem doiradas e bellas

Como o fulgor das estrellas...

E morrem no mesmo dia!

II

Sonhei que o mundo era um prade
Lindo, lindo, matisado

Das flores do meu jardim;
Sonhei a vida uma estrada
De gosos entrelaçada,

De gosos que não tem fim.

Esses sonhos de magia
Creei-os na phantasia
Á meiga luz do luar..
E quando conta segredos
Na rama dos arvoredos
A brisa que beija o mar..

Sonhei-os assim brilhantes
N'aquelles doces instantes
De silencio e de oração;
Quando as estrellas seduzem,
E quando os labios traduzem
As vozes do coração.

Sobre o peito reclinada
Eu tinha a fronte inspirada
D'uma formosa mulher,
E fraco um raio da lua
Beijando-lhe a face nua
Dava-lhe brilho e poder..

De certo a lua serena
Um rosto como o de Helena
Nunca, nunca illuminou;

E nunca ouvirei na vida

Voz mais terna e mais sentida
Dizer-me:-sou tua, sou!

N'uma noite mui fagueira,
Com visão prasenteira,
Por entre beijos de amor
Eu vi surgir uma estrella
Linda, linda, muito bella,
Com doce e meio fulgor.

Na perdida phantasia,
De luz, de amor, d'alegria
Abrilhantei o porvir,
E segui qual mariposa
Aquella chamma formosa
Que eu via ao longe luzir!

III

Mentira, tudo mentira!
Os meus sonhos... illusões!
As cordas da minha lyra
Já não soletram canções,
A mente já não delira,
E se louco n'um momento
Revolvo no pensamento
Esse passado de amores...
Se triste o peito suspira...
Eu ouço um ecco da terra
Bradar-me com voz que aterra:
-Mentira, tudo mentira!

Foram sonhos. Eram lindos,
Eram lindos... mas passaram!
E d'esses sonhos já findos
Só lembranças me ficaram.
Só lembranças bem saudosas
D'essas noites tão formosas
Em que os sonhos despontaram,
Só lembranças d'esses sonhos,
D'esses sonhos que passaram!

Hoje vivo, se é que é vida
Andar co'a fronte pendida
Calado e triste a scismar,
E n'essa immensa tristeza,
N'essas horas d'incerteza
Em que adormece o luar,
Em que toda a natureza
É silencio, amor e paz;
Eu sinto a alma saudosa
Perguntar com voz queixosa:
-Lindos sonhos, onde estaes?!

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A VIDA

Nunca vistes uma rosa
Primeiro abrindo mimosa
O seu botão purpurino,
Mostrando depois vaidosa
Aos vivos raios do sol
Do rocio matutino

Essas gottas tão brilhantes
Que semelham diamantes?

Não vistes depois a rosa
Toda garrida e louçã,
De Abril em fresca manhã
Pompeando lindas cores,
Pelo zephiro embalada,
Sobre a lympha debruçada,
Formosa fallando amores?

Não vistes depois å tarde
E quando o sol já não arde,
Como a flor está tão triste
Co`a bella fronte pendente
E como a tepida aragem
Que sussurra na folhagem
A vem beijar docemente?

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