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verem-se no cultivo das letras, dupla razão lhes assiste na prestação da homenagem devida a esse joven, já como poeta, já como caixeiro.

E como elle, cumpre-nos exclamar :

«Meu Deus! tu que és tão bom e tão clemente,
«Pr'a que apagas, Senhor, a chamma ardente
«N'um craneo de volcão?

«Pr'a que poupas o cedro já vetusto,
«E, sem dó, vaes ferir o pobre arbusto
Ás vezes no embryão?!...»

Pobre arbusto! Apoz o florescer e quando os fructos já despontados começavam a amadurecer, veio o impio furacão arremessal-o por terra.

É mais uma esperança perdida!

Pranteêmol-a!

30 de novembro de 1860.

DA REDACÇÃO DO ACAJÁ.

A CASIMIRO D'ABREU

Li as tuas Primas-véras,
Devéras mimosas são;

São lindas como os amores,
Parecem primas de flôres.....
Quizera ser teu irmão.

Que vida nos seios d'ellas!
Que perfumes que ellas tem!
Não ha sultão mais ditoso!
És um primo venturoso,
Não tem mais primas ninguem.

Alegres como andorinhas
Tens umas primas, Jesus!
As moreninhas faceiras !...
São jurytis ás carreiras
Pelas moitas dos bambús.

Outras pallidas suspiram,
Tão descontentes de si,
Que fazem dó!... coitadinhas!
Nos olhos das moreninhas
Terão ciumes de ti.

Outras são... ora, são tantas...
Não tem mais primas ninguem,
Não ha sultão mais ditoso,
És um primo venturoso,
De primas tens um harem!

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A CASIMIRO DE ABREU

AUTHOR DAS-PRIMAVERAS

Como André Chénier, no craneo augusto,
Alyuma cousa tens!

C. D'ABREU.

I

Poeta! Derramou-te Deus na fronte
A luz da inspiração omnipotente,
Ensinou-te a sentir;

E marcou ao teu genio um horisonte
De crenças e esperanças no presente,
De glorias no porvir!

E tu, co'a fronte ungida e radiante
Firmaste o pé na estrada do progresso,
Modulando canções!

Caminha! Ergue o alaúde triumphante,
Despresa a geração que adora um Cresso,
E que olvida um Camões!

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De encontro aos passos teus, mais de um espinho
Irá teus pés magoar;

Não voltes, que renegas! vai seguro,
Caminha, que no fim do teu caminho
Loures has de encontrar.

Caminha, e deixa em seu prazer mundano
A esses, que aos poetas estão vendo
Com escarneo sem fim;
Encara-os como Byron lusitano,

E dize-lhes: «De vós eu nada entendo,
«E vós nada de mim!»

A elles o destino deu por sorte
O fogo da ambição, que os incendeia,
A nós a lyra e a cruz!

Elles teem das riquezas o transporte,
Que aviventa a materia e mata a ideia,
Mas nós temos a luz!

II

Oh! poeta da fronte pensativa,
Recebe na alma candida, inspirada
A saudação do irmão!

Eu me arrebato, ouvindo a lyra altiva,
Mas a tua poesia enamorada

Me falia ao coração!

Nos perfumes da timida innocencia,
Como as houris nos banhos do Oriente,
Tu alma se banhou ;

E por entre o sorrir da adolescencia
Logo dos labios teus pura, indolente,
A poesia brotou !

Depois o amor, doce mysterio d'alma,
Por entre o medo, a que ninguem resiste,
Tu'alma surprendeu:

Tambem cingiste do martyrio a palma,
E o doce canto da tu'alma triste
Minh'alma entristeceu !

Como choras no leito dos teus sonhos,
Prostrado pela horrenda enfermidade,
Ao teu anjo a rogar

Que os seus olhos, outr'ora tão risonhos,
Sobre o frio portal da eternidade
Por ti fossem chorar!...

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