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Mas tu porque tão cedo desesperas,
Deixando dos teus labios, inda ardentes
Amargura correr?

Tu, mimoso cantor das Primaveras,
Do Livro Negro as paginas descrentes
Porque foste escrever?

Ah! não vás, meu poeta dos amores,
Manchar a c'rôa á virgem da poesia,
Que tão pura te amou!

Não te illudam do Goethe os esplendores,
Que esse deus da sublime zombaria
O coração matou !

Inspira-te do céo da patria tua

Ante o qual ninguem ha que não se incline
Pela manhã gentil;

Canta a aurora ao nascer, à noite a lua,
E assim darás tambem um Lamartine
Ás musas do Brazil!

Poeta ! Crê no amor das almas puras,
Canta a patria, o futuro, a liberdade,
O puro amor e Deus!

Eu te antevejo a aurora das venturas,
E o teu Brazil, com as palmas da amizade
C'roando os cantos teus!

Setembro de 1859.

GONÇALVES BRAGA.

A CASIMIRO DE ABREU

...Ver o pobre mancebo
Em quem a seiva reluz,
No sonho candido e puro,
Nas glorias do seu futuro,
Dourando a vida de luz,
De crenças, de amor, de fè,
Vel-o finar-se tão cedo,
Como as vozes d'um segredo...
E' dor de mais-pois não é?!..

CASIMIRO D'ABREU.

Aquella pallida fronte,

Ardente como um vulcão,

Em que um brilhante horisonte
Sorria de inspiração;

Cuja musa, em meigos cantos,
Sorrindo ou vertendo prantos,
Sempre cantando, encantava;
-Pallida agora, mas fria,
Não mais desprende a harmonia
Que no seu antro encerrava!

Que é d'elle, o joven cantor,
Astro brazileo a surgir,

Que entre os seus cantos de amor

Fazia amores sentir?...

Que é d'elle, o joven amante,

Que do seu berço distante,
No verdor da mocidade,

Vendo outro céo, outras flôres,
Não lhes achava primores
Por ter da patria saudade ?...

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Viram-no as margens do Tejo
Murmurar hymnos de amor,
Á patria mandando um beijo
Com dedicado fervor!
Que puro amor terno e santo
Revela aquelle seu canto
A sua mãe, relembrando
A falta d'essas caricias,
Que eram as suas delicias
No patrio ninho habitando!...

Tambem as margens do Douro
Viram-no triste, a gemer,
Dizendo na lyra d'ouro:
«Brazileiro hei de morrer. »>
Só vendo ao longe a belleza,
Primores da natureza,

Encantos a mil e mil,

Que em longas, remotas eras
Quiz marcar nas-Primaveras
Eternas no seu Brazil.

Quem é que ao pranto resiste,
Seja poeta ou não seja,
Ouvindo-Minh'alma e triste;
Que o Livro Negro reveja?...
Parece que o soffrimento,
Funesto presentimento

D'amargor the enchia o peito!...
Cantava...mas que cantar!
Era um bardo a suspirar,
Sempre em lagrimas desfeito!

Era a canção do exilado,
Que tristes mágoas encerra,
Soltando um ecco abafado
Que sôa de serra em serra!
Elle era o nauta nos mares,
Procurando os patrios lares
Cos torvos olhos saudosos;
E ao rouco gemer do vento
Unindo um triste lamento
Entre suspiros queixosos!...

Que terno amor! que poesia
Na mente lhe borbulhava
Quando a saudade e harmonia
Do sabiá recordava!...
D'esse cantor das palmeiras,
Que nas matas brazileiras
Modula os ternos queixumes.
Que fogo de amor intenso,
Cantando o Brazil immenso,
Cercado de mil perfumes!...

Que coração de poeta
(Livre das loucas orgias),
Que em musa casta e discreta,
Batia, ao som de harmonias!...
Que brandas, sentidas queixas
Ao som de ternas endeixas
Revelando os seus amores!....
Que bella esp'rança perdida,
N'esse futuro da vida

Do outomno, com seus primores!...

E tudo tombou—cahiu

Da praça ao tufão medonho,
Que no sepulchro sumiu
Tão bello arbusto risonho!...
Esse tufão, que tão cedo
A Dutra, Amaro e Azevedo
Na primavera cortou,
Sedento de atroz furor,
Ao fluminense cantor
Na terra em furia lançou.

E quatro lustros sómente,
Cheios de vida e fulgor,
Perderam seu brilho ardente
Na campa, em gelido horror!...
Que verde esp'rança murchada!
Que flôr tão bella, esmagada,
Hoje sem brilho e sem côr!...
Que galardão tão subido,
Que de futuro perdido
Nesse brazileo cantor!...

Só d'elle resta a lembrança,
Que mudamente suspira
Accorde, mas sem esp'rança,
Nos tristes eccos da lyra!
Chora a familia saudosa,
Chora a musa lacrimosa,
Chora o Brazil, que o perdeu,
Chorará quem n'outras eras
Lêr com mágoa as Primaveras
De-Casimiro de Abreu.

J. V. DA SILVA AZEVEDO.

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