63-282568 A CASIMIRO DE ABREU I Pesa uma fatalidade notavel sobre a litteratura ou pelo menos sobre a poesia brazileira contemporanea. Quando esse paiz juvenil precisava, para proclamar à sua autonomia litteraria depois de haver prociamnado a sua autonomia politica, de que todos os talentos tambem juvenis e ardentes, impregnados tambem nas idéas novas que tinham germinado ao calido sopro da brisa do Ypiranga se agrupassem em torno do pendão auri-verde, e entoassem com enthusiasmo os hymnos inspirados pela musa dos tropicos, pelo genio protector d'esses bosques immensos, a cuja sombra os errantes aventureiros do seculo XVI tinham afinal assentado os lares d'essa nova nacionalidade, veio a morte implacavel e ceifou os homens em que o Brazil mais confiava para serem os chefes da nova cruzada. Por tres vezes uma vaga melodia, um cantico ineffavel, todo perfumado com as fragrancias ardentes das noites tropicaes, todo banhado nas brancas ondas do luar americano, por tres vezes esse canto dulcissimo, em que suspiravam os echos dos gorgeios do sabiá, fez erguer a cabeça ao povo brazileiro, promettendo-lhe um poeta verdadeiramente nacional, um genio inspirado pela musa nativa, como que embalado na rede suspensa das bananeiras, educado pelos murmurios das florestas virgens, pelo estridor das catadupas, pelas fadas lascivas que à noite povoam os fraguedos de Guanabara, e, com a harpa d'oiro em punho, com a fronte cingida d'um raio voluptuoso, que desprende o morbido scintillar das estrellas, soltam à brisa do largo os hymnos infeitiçados. Tres vezes expirou o canto, apenas vibrára as primeiras notas: tres vezes os echos espantados esperaram em vão que a lyra gentea desferisse novas melodias; tres vezes emfim veio 1 |