De punir tam cruel aleivosia, Os preciosos despojos recolhendo Dos nobres cavalleiros e do honrado Mercador, no alcance vai dos moiros, Que em vão fogem. Cruento sacrificio As sombras dos heroes alli recebem : Milhares cahem. De Tavira ás portas Accossados os leva; e as portas, que abre Para acolher os seus o musulmano, Ao mestre foram triumphal entrada Na capital do sobjugado reino.
Do Algarve a capital cede a dom Paio. Mas em Sylves o rei no forte alcaçar Crem todos; e acabar c'o infame jugo Dos infieis em terras portuguezas Jurára o mestre. Bem guardada e forte Deixa Tavira, e sôbre a antiga Sylves Vai com a flor dos seus ebrios de glória.
Ai de ti, Sylves, de tuas nobres tôrres, Teu alcaçar tam forte! Quem resiste Ás espadas terriveis de Sanctiago? Ja de redor dos muros, que de lanças, De frechas, de besteiros se coroam, Suas tendas assentou, suas azes posta O invencivel mestre. Ja trabucos Acestam, catapultas véem de rôjo, Máchinas, ligneas tôrres; e se dobram
Acubertados couros, protectores
De escaladas e assaltos. Mas de dentro Dos muros os cercados se apercebem Para a defeza: ardentes alcanzias, Duros cantos, ferradas longas varas Que os incendiarios fachos arremessam Ás inimigas fábricas. Redobra Corage em uns e outros o perigo. Pregam no campo frades indulgencias, Na cidade os imans novas promessas Fazem de houris e paraizos: folga Emtanto a morte, e para a ceifa crua C'o um perfido surriso a fouce affia.
Dom Paio em suas tendas, rodeado Dos cavalleiros principaes, com elles Nos desenhos do assédio practicava,
E no mais que a seu cargo e pôsto cumpre. Um homem d'armas entra, e ao conselho Annuncia que ao campo um messageiro Do rei de Portugal n'essa hora chega.
Sabê-lo-heis mui presto,
Que não tarda comvosco; e sua messagem,
E praza ao ceo que do valente Affonso Nos traga alfim o tam pedido auxílio. Gran' mister hemos d'elle. Cavalleiro E generoso é Affonso; a nenhum outro De toda Hespanha com mais gosto dera Preito do que hei ganhado: mas importa Que a levarmos ao cabo ésta conquista Nos ajude elle; senão... reis não faltam ; Deus proverá, e a nossa espada ao resto. '
O arauto, com solemne e grave passo, A dom Paio caminha, e volteando Tres vezes no ar o seu bastão doirado, Em som lento e pausado assim lhe falla : -Da parte do mui alto e poderoso
E temido senhor, rei dom Affonso
De Portugal e Algarves, a dom Paio, Mestre de Sanctiago, cavalleiro
Muito nobre e esforçado, vem dom Nuno;
Sua embaixada traz. '
De suas riccas armas cizeladas
Vinha armado dom Nuno: por de cima Da malha sobreveste d'oiro e seda Orlada com franjões de fina prata, Passamanes do mesmo, e sôbre o peito Bordada a Cruz azul, insignia antiga Do reino, e embaixador que o representa, Segundo usança é.
Elrei, e meu senhor, que a vós me manda,
Vos envia saudar, como a quem preza, E muito estima vossas nobres partes,
E a respeitavel ordem de Sanctiago,
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