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De punir tam cruel aleivosia,
Os preciosos despojos recolhendo
Dos nobres cavalleiros e do honrado
Mercador, no alcance vai dos moiros,
Que em vão fogem. Cruento sacrificio
As sombras dos heroes alli recebem :
Milhares cahem. De Tavira ás portas
Accossados os leva; e as portas, que abre
Para acolher os seus o musulmano,
Ao mestre foram triumphal entrada
Na capital do sobjugado reino.

XXXIV.

Do Algarve a capital cede a dom Paio.
Mas em Sylves o rei no forte alcaçar
Crem todos; e acabar c'o infame jugo
Dos infieis em terras portuguezas
Jurára o mestre. Bem guardada e forte
Deixa Tavira, e sôbre a antiga Sylves
Vai com a flor dos seus ebrios de glória.

CANTO OITAVO.

I.

Ai de ti, Sylves, de tuas nobres tôrres,
Teu alcaçar tam forte! Quem resiste
Ás espadas terriveis de Sanctiago?
Ja de redor dos muros, que de lanças,
De frechas, de besteiros se coroam,
Suas tendas assentou, suas azes posta
O invencivel mestre. Ja trabucos
Acestam, catapultas véem de rôjo,
Máchinas, ligneas tôrres; e se dobram

Acubertados couros, protectores

De escaladas e assaltos. Mas de dentro
Dos muros os cercados se apercebem
Para a defeza: ardentes alcanzias,
Duros cantos, ferradas longas varas
Que os incendiarios fachos arremessam
Ás inimigas fábricas. Redobra
Corage em uns e outros o perigo.
Pregam no campo frades indulgencias,
Na cidade os imans novas promessas
Fazem de houris e paraizos: folga
Emtanto a morte, e para a ceifa crua
C'o um perfido surriso a fouce affia.

II.

Dom Paio em suas tendas, rodeado
Dos cavalleiros principaes, com elles
Nos desenhos do assédio practicava,

E no mais que a seu cargo e pôsto cumpre.
Um homem d'armas entra, e ao conselho
Annuncia que ao campo um messageiro
Do rei de Portugal n'essa hora chega.

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Sabê-lo-heis mui presto,

Que não tarda comvosco; e sua messagem,

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E praza ao ceo que do valente Affonso
Nos traga alfim o tam pedido auxílio.
Gran' mister hemos d'elle. Cavalleiro
E generoso é Affonso; a nenhum outro
De toda Hespanha com mais gosto dera
Preito do que hei ganhado: mas importa
Que a levarmos ao cabo ésta conquista
Nos ajude elle; senão... reis não faltam ;
Deus proverá, e a nossa espada ao resto. '

IV.

O arauto, com solemne e grave passo,
A dom Paio caminha, e volteando
Tres vezes no ar o seu bastão doirado,
Em som lento e pausado assim lhe falla :
-Da parte do mui alto e poderoso

E temido senhor, rei dom Affonso

De Portugal e Algarves, a dom Paio,
Mestre de Sanctiago, cavalleiro

Muito nobre e esforçado, vem dom Nuno;

Sua embaixada traz. '

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De suas riccas armas cizeladas

Vinha armado dom Nuno: por de cima
Da malha sobreveste d'oiro e seda
Orlada com franjões de fina prata,
Passamanes do mesmo, e sôbre o peito
Bordada a Cruz azul, insignia antiga
Do reino, e embaixador que o representa,
Segundo usança é.

Este, inclinando-se

Ao mestre, disse então:

Senhor dom Paio,

Elrei, e meu senhor, que a vós me manda,

Vos envia saudar, como a quem preza,
E muito estima vossas nobres partes,

E a respeitavel ordem de Sanctiago,

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